Milagres de Jesus: A cura do servo do centurião

O evangelho de Lucas, mais do que os outros três, evidencia com clareza a perspectiva abrangente da salvação. Por meio dos relatos e destaques feitos por Lucas, é possível ver que Jesus tinha como objetivo trazer salvação tanto a judeus quanto a gentios. Logo no início deste evangelho, Simeão declara que Jesus era a luz da revelação para os gentios (cf. Lc 2:32) e João Batista diz que, por meio de Cristo, toda a humanidade veria a salvação de Deus (cf. Lc 3:6). Nesse mesmo sentido, o relato de Lucas apresenta uma explícita e crescente inclusão dos gentios no Reino de Deus (cf. Lc 8:26-39; 10:13-15, 29-37; 13:22-30; 17:11-19).

O milagre no qual nos aprofundaremos agora é mais uma dessas histórias de gentios que tiveram uma resposta de fé no Messias que havia finalmente chegado. O personagem central dessa passagem foi um centurião romano, líder militar responsável por liderar 100 soldados. Conforme a descrição dos anciãos mensageiros, este centurião era diferente da maioria dos romanos, pois ele amava o povo judeu. Ele não era como a maioria, que subjugava os judeus como sendo um povo inferior. De modo contrário, ele havia criado vínculos fortes com a cultura judaica a ponto de ajudar a construir o local de culto dos judeus. Um dos servos deste homem, por quem o centurião tinha grande estima, caiu gravemente enfermo. Segundo Mateus 8:6, a enfermidade era tão severa que havia prostrado o homem em uma cama, paralítico e sofrendo de modo terrível. 

Pelo relato do texto bíblico, este centurião possuía uma personalidade digna de nota. Segundo os anciãos judeus, ele era um homem louvável. Entretanto, o próprio centurião guardava sobre si uma sincera humildade a despeito de seu posto e prestígio, e considerava-se indigno de falar com Jesus ou mesmo de recebê-lo em sua casa (cf. Lc 7:6). Exemplificando Provérbios 27:2, este homem era louvado pelos outros, não por seus próprios lábios. 

Enquanto líder militar, o centurião era acostumado a receber e dar ordens. Contudo, nesse ponto da história, esse homem reconhece que Jesus tem uma autoridade maior que a sua. Na verdade, ele sabe, porque havia ouvido falar, que Jesus possuía toda autoridade, até mesmo sobre enfermidades. Sua fé em Cristo era tamanha a ponto de confiar que Jesus sequer precisava estar presente para que seu servo fosse liberto de sua doença. A distância física não era nenhum impedimento para que a ordem do Senhor da vida fosse cumprida. Uma ordem, uma palavra de Jesus e a realidade não seria mais a mesma.

Essas duas características do centurião – humildade e fé – produziram admiração em Cristo. Muitas virtudes poderiam ser destacadas do modo de proceder deste homem, por exemplo, o terno interesse e a preocupação por seu servo; o carinho pelo povo de Israel relatado pelos anciãos, chegando ao ponto de ajudar a financiar a sinagoga; a humildade incomum a um centurião romano. Entretanto, Jesus elogia, acima de tudo, sua grande fé. Vale ressaltar que as duas vezes em que Jesus louva a grande fé de alguém são neste caso e no relato da mulher sírio-fenícia, ambos gentios (cf. Mt 15:21-28).

O centurião não pediu um sinal de que Jesus era o Filho de Deus, ele não buscou a cura de seu servo como uma espécie de experiência. Diferente de muitos que compunham as multidões que seguiam Jesus, este homem não estava à procura de sinais para, então, crer. Ele já cria, o milagre que ele buscava seria apenas um ato de misericórdia demonstrado por Jesus. E foi exatamente isso que lhe aconteceu. Sua grande fé moveu o coração de Cristo, que ordenou que a realidade fosse mudada de modo que quando os mensageiros voltaram à casa do centurião já encontraram seu servo restabelecido. 

O Jesus que curou o servo do centurião é o mesmo que está, neste exato momento, intercedendo junto ao Pai por nós. Suas palavras são um alicerce seguro na qual aquele centurião sabia que podia se firmar. Ele sabia que Jesus não precisava tocar seu servo, fazer rituais ou mesmo olhar em seus olhos. Bastava uma palavra dita à distância. 

Somos chamadas a descansar da mesma forma nas palavras de Cristo. Ele detém todo poder sobre o céu e a terra. Ele é o Verbo pelo qual todas as coisas foram criadas no princípio e que ainda hoje cria e recria a realidade. Para Jesus, não importa nossa linhagem sanguínea, se somos judias, filhas de crentes, crescidas na igreja. Assim como aquele centurião, não importa nossa nacionalidade, importa termos um coração habitado pela fé no Filho de Deus. Este romano não se sentia digno de receber Jesus sob seu teto, mas fez, em seu coração, uma morada para o Messias e por isso habitará para sempre na presença de seu Senhor.


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