Meninas Como Nós: Portugal
Não é estranho que um país que é o sonho de muitos imigrantes por oferecer melhores condições de vida seja o mesmo país onde sua própria população “foge” por não ter essa visão de ascensão? A emigração portuguesa não é novidade e muitos partem para outros países como França, Suíça, Luxemburgo, Canadá e Estados Unidos em busca de melhores oportunidades de empregos e qualidade de vida por não encontrarem isso em seu lar.
Mas, e as mulheres? Quais são as dificuldades que meninas como nós enfrentam diante de um país “modelo” na Europa?
Emigração
Portugal não é a escolha de muitas das portuguesas. Neste país muitas meninas crescem, mas com um desejo de ir embora. E isso acontece por inúmeros motivos, como a falência econômica do país, a falta de oportunidade de empregos e uma ausência de plano de carreiras para a juventude recém formada que sai da faculdade sem nenhuma expectativa, além da hiperinflação a qual o país não consegue vencer. Não é por acaso que Portugal é conhecido na Europa como o país das greves — só no ano de 2023 o número de protestos quadruplicou e mais de 80% das manifestações são em prol da educação. Uma das portuguesas que conheci, enquanto morei na cidade de Coimbra, por estar insatisfeita no seu país de origem viu como a “solução” ir embora e tentar a vida na Suíça, outra está de mudança para a França, fora tantas outras histórias que não sabemos.
Muitas meninas de Portugal não querem ficar em seu país. Os problemas de desigualdade salarial, crise econômica e a falta de oportunidades de empregos em diversas áreas de atuação faz com que elas se sintam sem casa, sem raízes e sem visão de futuro.
Violência doméstica
“Cá em casa manda ela e nela mando eu.” Será que você, como mulher, consegue se sentir à vontade com essa frase? Esse é um ditado popular que reflete um pouco a cultura do machismo português, fazendo com que as mulheres lutam para ter mais respeito e segurança dentro e fora de casa. E aqui eu não quero levantar bandeiras de ideologias, muito pelo contrário. Minha intenção é te levar a refletir sobre como essas meninas nascem ouvindo esses ditados e como eles podem influenciar o que acontece na sociedade. Infelizmente o crime mais cometido no país é a violência doméstica, sendo 75% das vítimas mulheres. Não é assalto. É maltratar a mulher. É abusar de uma criatura de Deus.
Portugal é tão conhecido por ser um país seguro, mas para essas meninas como nós, acaba não sendo tão seguro assim. Dentro de casa não é seguro. Dentro do país não é promissor… E mais uma vez a opção de emigrar não é só uma escolha, mas sim uma fuga.
A maternidade
Com toda essa dificuldade de ter emprego e oportunidades no seu país, muitas portuguesas encontram-se numa posição tardia à maternidade. As mulheres têm se tornado mãe cada vez mais tarde em Portugal e apesar de ser uma tendência geral na Europa, Portugal sai à frente de muitos outros países do continente. A ideia de ter uma vida “perfeita” e estável antes de engravidar, traz uma insegurança às mulheres na hora de serem mães ou em outros casos, elas optam por não ter filhos. Sendo assim, a taxa de fecundidade no país também é baixa e preocupante, com Portugal sendo considerado o 3º país da União Europeia com menos filhos por mulher, com a média abaixo de 2.
É triste ver que situações adversas, medos internos e fatores externos adiam ou anulam um sonho de uma menina em ser mãe. Em alguns casos parece que elas não encontram o sentido da maternidade, que isso também tornou-se antiquado e não é mais uma prioridade em suas vidas.
Eu não acredito que o objetivo final da mulher é ser mãe. Ela não será completa apenas quando chegar à maternidade. Isso é um discurso perigoso de uma feminilidade exclusiva onde muitas mulheres não vão se encaixar. Acredito sim, que toda mulher tem como propósito de vida glorificar o nosso Deus, ainda que elas não saibam ou não tenham tido um encontro pessoal com Cristo.
Ser mãe é uma missão, não uma obrigação. Mas é uma missão entregue pelo Deus Criador, sendo uma dádiva, uma graça divina.
Em 1 ano morando em Portugal, passei pela triste situação de ver uma amiga sendo “convencida” ao aborto ao entrar numa consulta médica quando descobriu que estava grávida. Eu não conseguia acreditar no que eu ouvia: aborto prescrito dentro do consultório com a mesma naturalidade que se prescreve um analgésico. Diante de uma provável gravidez de risco — digo provável porque ainda era recente e nem os médicos sabiam o grau de risco naquele momento — foi muito mais fácil para eles entregar-lhe uma cartilha de 2 páginas com “os benefícios para a mãe em realizar um aborto” no estágio em que sua gravidez se encontrava. Irritada, minha amiga saiu da consulta sem querer levar o papel que decretava a morte do seu bebê. Infelizmente ela não conseguiu concluir sua gestação, mas foi por motivos naturais sem intervenção humana. Para muitos o aborto é natural. Para nós, cristãos, um ato criminoso que dói na alma e fere a nossa fé.
Ouvir esse relato com menos de 3 meses no país me deu frio na barriga de imaginar quantas e quantas vezes mulheres portuguesas e de todas as nacionalidades não são pressionadas todos os dias pela sociedade a “se livrar dos riscos”.
Religião
Quando falamos em religião temos dados interessantes a serem levados em conta. Por causa da forte tradição e influência da igreja católica romana, Portugal é conhecido por ser o país com maior número de católicos na Europa Ocidental, sendo eles 80% da população. Desse número, 45% se identificam como católicos não praticantes. Em paralelo a isso, em Portugal somam-se pouco mais de 2,8% de cristãos evangélicos. Confesso que são números que assustam e cheguei a conclusão que Portugal tem muitas igrejas históricas, mas vazias. Catedrais que simbolizam para o povo uma fé antiga e ultrapassada e uma população que vive como se tivesse um deus morto. A fé se tornou coisa do passado, tradição dos mais antigos, fora de moda, fora de questão.
Ser mulher e professar a fé cristã evangélica em Portugal é ser minoria duas vezes. É você ser colocada em cheque ao ser questionada por cada escolha sua, muitas vezes com um ar de superioridade e incompreensão. Afinal, você vive na Europa. Você vive em um continente onde Deus é esquecido.
Perguntas como: “por que não fumas?” “por que você é cristã? “por que não bebes?” “por que não vens conosco?” “por que acreditar em Deus?” “por que não aproveitar a vida?” são comuns para meninas universitárias que se colocam na contramão do mundo com seu estilo de vida diferente.
Sei que para uma menina portuguesa, conhecer a Jesus e segui-Lo nunca vai ser tão desafiador quanto na época da universidade. E nesse caminho ela precisará de outras mulheres para estar junto. Ela precisará de discipulado. Ela precisará de uma comunidade.
Por isso eu penso que todas nós deveríamos ter a Piedade por perto. E o sujeito desta frase é uma mulher; uma mulher cristã. Piedade é uma irmã portuguesa a quem eu tive o prazer de conhecer e congregar na Igreja Baptista de Coimbra, em Portugal. Casada, mãe, avó e filha amada do Pai. Serva de Deus há mais de 42 anos com zelo e excelência. Uma vida de serviço ao Senhor e dona de um coração regenerado e entregue a Ele. Generosa, fervorosa em oração, conhecedora da história de seu país e muito mais, conhecedora da Bíblia.
A cultura portuguesa de lhe chamar para tomar um cafézinho é a desculpa para te chamar para sentar, te ouvir, conversar sobre Deus e orar por você. E não me restam dúvidas de que ela faz isso por amor. Amor a Jesus, amor a você, amor ao evangelho.
Em um país tão cético e cheio de problemas estruturais, econômicos e sociais, eu chego à conclusão de que a única solução está em Jesus. É Jesus que está faltando. É de Jesus que elas precisam. Precisam e não sabem. Precisam e não O conhecem. Ainda.
Oremos ao nosso Pai, para que com muita misericórdia e bondade, continue a levantar mulheres como a Piedade, que com seu exemplo de fé, amor e serviço, prega o Evangelho. Pedimos a Deus para continuar a enviar missionários em um país onde é tão difícil você ser crente simplesmente porque é contrário a tudo o que o mundo prega. Por fim, oremos por essas meninas que se sentem perdidas em seu próprio país, perdidas do seu propósito, perdidas com suas escolhas. Que elas encontrem em Jesus o verdadeiro sentido da vida e que o chamado ao Evangelho seja mais alto e mais forte do que todas as outras vozes do mundo.
Talvez elas não precisem ir muito longe. Elas só precisam de Jesus. Então, precisam de tudo.
Fontes:
https://noticias.up.pt/mulheres-sao-maes-cada-vez-mais-tarde-em-portugal/
https://observador.pt/2018/03/29/portugal-e-o-sexto-pais-da-ue-em-que-as-mulheres-tem-filhos-mais-tarde/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o_em_Portugal
Esse post faz parte da nossa série de postagens de Abril com o tema “Meninas como Nós”. Para ler todos os posts clique AQUI.