Meninas Como Nós: Irã

Querida irmã, eu gostaria de convidá-la a ler esse texto não como uma pessoa consumindo informação, mas fazendo aquele velho exercício de se colocar no lugar do outro. À medida que tomar conhecimento de cada fato aqui citado, se imagine vivendo aquela situação, pense em como se sentiria. Como já foi dito, nosso objetivo com essa série não é defender a bandeira de uma ideologia, mas convidá-la a olhar com misericórdia para outras realidades enfrentadas por mulheres como você.

Outra observação que julgo ser pertinente é que esse texto não visa trazer uma aula sobre a vasta história do Irã. Uma vez que o foco da série está nas mulheres, trarei alguns dados sobre as iranianas e fatos que a elas se relacionam. Voltarei um pouco na história do país para que possamos entender melhor os acontecimentos que resultaram no cenário atual. 

Um pouco de história

De 1921 a meados de 1979, o Irã foi governado pela dinastia dos Palevi, homens com uma visão mais liberal, que defendiam a separação entre o Estado e a religião, de modo que as medidas implantadas iam na contramão do que era vivido até então. Houve a abolição do uso do shador, vestimenta que cobre todo o corpo da mulher, deixando apenas o rosto à mostra. De um lado, as famílias mais religiosas sentiram-se ofendidas e as mulheres recusaram-se a sair de casa. De outro, temos mulheres andando pelas ruas mostrando a roupa, o rosto e os cabelos. Nesse período também, as mulheres conquistaram o direito ao voto, tiveram mais acesso à educação e a idade mínima para o matrimônio passou a ser 15 anos para elas.

A oposição a esse novo governo cresceu e resultou na Revolução Islâmica em 1979, que levou o Aiatolá Khomeini ao poder. O Irã passou a ser regido pela sharia, a lei islâmica baseada no Corão. 

Mulheres passaram a ser obrigadas a usar o hijab – véu que cobre o cabelo, passaram a depender da autorização do pai ou do marido para viajar, estudar e trabalhar fora, e perderam a proteção contra a poligamia.

Irã hoje

Algumas das leis que regem o Irã hoje e, particularmente a forma como as mulheres são tratadas, são decorrentes da Revolução Islâmica.

Atualmente as mulheres no Irã são obrigadas ao uso do véu, inclusive as estrangeiras. O  governo anunciou a instalação de câmeras nas ruas para fiscalizar. O não-cumprimento leva à aplicação de multas e até à prisão. Basta uma pesquisa pela internet para encontrar casos em que mulheres foram agredidas por cometerem esse crime.

Perante a lei, a mulher tem a metade do valor de um homem: num processo, o testemunho de duas mulheres equivale ao de um homem; em caso de herança, considerado o mesmo grau de parentesco em relação ao falecido, eles recebem duas vezes mais que elas.

Em casos de divórcio, os filhos podem permanecer com a mãe somente até os sete anos, a partir de quando estarão sob a guarda do pai. Muitas mulheres permanecem em casamentos abusivos para não serem separadas de seus filhos.

Quanto à nacionalidade, apenas os pais podem passar a nacionalidade iraniana aos filhos. Caso a mulher se case com um estrangeiro, seus filhos não são reconhecidos como iranianos, o que dificulta o acesso à saúde e à educação.

No Irã o casamento temporário é permitido por lei. Casais se unem por horas ou dias com a finalidade de manter relação sexual. Muitos dizem se tratar de uma forma de prostituição, uma vez que visa apenas ao prazer. Em uma sociedade em que se guardar sexualmente até o casamento é tão importante, as mulheres que se envolvem nesses contratos temporários têm sua reputação prejudicada.

Hoje no Irã, meninos e meninas frequentam escolas separadas, mas muitos ainda se posicionam contra a educação feminina. Foi registrado, desde o fim do ano passado, que mais de mil meninas sofreram envenenamento em mais de 30 escolas espalhadas pelo país. O governo segue investigando a autoria dos ataques, a suspeita é que tenham partido dos grupos que são a favor do fechamento das escolas femininas.

Quanto ao mercado de trabalho, as mulheres precisam da permissão do marido para aceitar uma oferta de emprego. Em algumas áreas a presença feminina ainda é bem tímida, como a política, por exemplo. Embora não haja proibição, poucas conseguem ingressar, geralmente aquelas que pertencem a famílias mais tradicionais.

Desafios do cristianismo no Irã

O Irã é um país bastante fechado ao Evangelho, uma vez que este é visto como uma ameaça ao islamismo. Os cristãos só podem se reunir em igrejas secretas e, caso sejam descobertos, o que lhes aguarda é a punição.

Após tomar conhecimento sobre a situação da mulher no Irã ao longo do tempo, e sabendo que a lei concede-lhes poucos direitos, você consegue imaginar o que aquelas que se convertem ao cristianismo podem vir a sofrer?

De acordo com a organização Portas Abertas, a maioria dos membros das igrejas domésticas são mulheres. Caso sejam detidas, elas correm o risco de serem assediadas sexualmente durante o interrogatório e o aprisionamento. Podem sofrer divórcio e, ao terem sua reputação manchada, acabam encontrando dificuldade em encontrar emprego.

Abaixo, segue na íntegra a informação que consta no site da missão citada acima:

Mulheres cristãs são forçadas a aderir a normas islâmicas — mulheres que aparecem em público sem a vestimenta islâmica podem ser açoitadas e multadas. Jovens convertidas ao cristianismo podem ser colocadas sob prisão domiciliar pela família e rapidamente casadas com um homem muçulmano; meninas de apenas nove anos podem ser casadas legalmente. Mulheres casadas que se tornam cristãs podem ser forçadas a se divorciar e perder a guarda dos filhos. Não há proteção legal para mulheres iranianas contra abuso doméstico, então há uma chance alta de convertidas cristãs enfrentarem punições violentas do próprio marido e da família, e é muito difícil para elas fugirem já que a mulher casada precisa da permissão do marido para deixar o país.

Portas Abertas

Considerando a realidade brasileira, em que desfrutamos da liberdade de ir e vir, de cultuar publicamente com outros irmãos, com nossas roupas que refletem estilos tão diferentes, como é difícil saber que irmãs nossas estão imersas em tanto sofrimento e expostas a tamanho descaso!

A Bíblia e a nossa parte

A Bíblia é um livro que nos mostra que por mais que a história humana seja permeada pelo mal em suas variadas nuances, tudo acabará bem. Ela é a luz que nos guia nesse mundo tenebroso. A chama da esperança que nos aquece nos dias mais sombrios. Jesus é suficiente em todas as circunstâncias.

Diante da situação das meninas iranianas como nós, o nó na garganta se torna real. Não é difícil que as lágrimas molhem nossos olhos e que fiquemos pensando nessas mulheres por um bom tempo. Na verdade, isso é bom. É bom porque nos lembra que precisamos fazer algo em relação a isso. Somos todos Igreja de Cristo, partes de um só Corpo, “de maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele” (1 Coríntios 12.26)

Querida irmã, uma parte de nós tem padecido sob uma dor que não conseguimos mensurar. Enquanto temos liberdade de nos expressar na internet, em locais públicos, diante de várias pessoas, mulheres como nós são silenciadas, reprimidas e maltratadas. Elas sequer podem louvar o nosso Senhor em voz alta como fazemos todo domingo, muitas vezes no modo automático.

Não há perspectivas de que haja melhoras na forma como os cristãos são tratados no Irã, pelo contrário. À medida que “ameaças” ao islamismo surgem, mais os líderes tendem a endurecer as leis. O que nos dá esperança é a certeza de que El-Roi, o Deus que vê Hagar no deserto, é o mesmo que vê aquelas mulheres na solidão de suas provações. Elas não estão sozinhas em suas dores.

Te convido a orar pelas mulheres iranianas no geral, e pelas cristãs em especial. Se puder, se envolva financeiramente, abençoando os missionários que arriscam suas vidas anunciando a Palavra da salvação. Ore para que o Evangelho alcance também aqueles que estão em posição de liderança no país, só assim a situação será verdadeiramente transformada.

Se nos entristece saber que as mulheres no Irã não têm muita voz, nos encoraja lembrar que há espaço à mesa para elas no reino de nosso Senhor Jesus Cristo.

Que a presença de nosso Deus e Pai seja real na vida de nossas irmãs. Que o Espírito Santo as fortaleça em todas as suas tribulações e a alegria verdadeira da esperança da vida eterna em Cristo Jesus.


Fontes:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63038853

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/04/regime-do-ira-instala-cameras-nas-ruas-para-punir-mulheres-sem-veu.shtml

https://portasabertas.org.br/lista-mundial-da-perseguicao/ira


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Abril com o tema “Meninas como Nós”. Para ler todos os posts clique AQUI.