Meninas Como Nós – Brasil: Sertão Nordestino

Existe uma certa e delicada dificuldade em tratar de certos assuntos, seja escrevendo ou conversando sobre eles, assuntos que nos deixam inconformados, angustiados, desconfortáveis… irados, até. Parece que estamos falando de algo irreal (e na verdade, o desejo é que fosse mesmo), mas é necessário que não nos esqueçamos que neste exato momento meninas, como você e eu, vivem em uma realidade triste e estranhamente oposta àquilo que consideramos como real.

Para além das nossas selvas de pedra com cotidianos agitados e cheios de aspirações, existe uma região em nosso querido Brasil conhecida por seu clima tropical semiárido onde as temperaturas podem passar dos 42 ºC: o sertão nordestino ou, como significa seu nome em latim sertanus, o desabitado nordestino. Porém, muito longe de ser um lugar desabitado, lá estão pessoas que não são vistas, que são completamente esquecidas, de todo o resto da nação brasileira.

O sertão é uma das quatro sub-regiões da região Nordeste, sendo a maior delas em área territorial. Estende-se pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Um lugar onde o sol é intenso e as chuvas são poucas durante o ano, é normal que para muitos nessa região do país falte o básico para a manutenção da vida: comida, água, roupas, moradia e condições de higiene. 

A falta daquilo que é básico para o sustento faz com que muitas meninas fiquem completamente vulneráveis a todo o tipo de circunstâncias: desnutrição, trabalho escravo, violência sexual, casamento precoce, natalidade precoce. Uma mulher no sertão nordestino com a minha idade, 34 anos, muitas vezes já se prostituiu e até mesmo entregou os filhos para adoação ilegal porque simplesmente não tinha o que comer.

Já na velhice, muitas dessas mulheres seguirão desassistidas, com problemas graves de saúde, sem ao menos poderem frequentar um posto de saúde porque sequer possuem registro de nascimento. Para essas meninas brasileiras dificilmente haverá um escape, algo com o que sonhar, um momento de quietude onde se é possível ter como referência um lugar, um momento, em que se possa sair dessa realidade fria, apesar das altas temperaturas, de uma ausência palpável e que tem cheiro de infância roubada.

É inegável que para um país de proporções continentais, de uma biodiversidade tão rica, de um povo que trabalha arduamente para lidar com uma das cargas tributárias mais altas do mundo, nos falta um bom governo, quer seja de esquerda ou de direita. A política brasileira é simplesmente, em sua maioria, ineficiente e corrupta, mas nós cristãos, como conhecedores da Verdade, também devemos tomar parte em nossa omissão. É importante lembrar que políticas públicas (apesar de públicas) não possuem em seu cerne o amor e o serviço ao próximo que Cristo nos ensinou.

Alguns trabalhos missionários exemplares como os da Missão Juvep (pr Sérgio Ribeiro) e do Programa Impacto Sertão Livre (pr Juliano Son) nos mostram que temos em nosso país a nossa própria janela 10×50, ou seja, temos no Brasil uma região onde grupos de pessoas são perseguidos pelas adversidades e privadas de sua dignidade humana, onde meninas apenas sobrevivem um dia após o outro.

Infelizmente (e precisamos admitir isso), ninguém gostaria de estar em um lugar onde as condições mínimas de vida não são supridas adequadamente. Estar com as meninas do sertão nordestino é, muitas vezes, se privar do conforto, dos sonhos, das conquistas, é se despir da alegria e lamentar com os que choram, agir com misericórdia, sentindo e lidando com a miséria do outro como se fosse nossa.

Por ser um lugar tão inóspito, o sertão nordestino é extremamente carente do Evangelho de Cristo, a privação de comida e água faz com que a consciência de si como imagem de Deus se reduza a apenas continuar vivo para o próximo dia, e meninas do sertão nordestino que são iguais a nós em valor, enquanto imagem de Deus, experimentam o exato oposto do versículo de 1 João 4:18 porque o medo do amanhã lança fora todo o amor que se possa sentir, até mesmo o amor de Deus.

Estar no deserto é se sentir castigado e não amado, mas nosso Salvador passou pelas mesmas circunstâncias; por 40 longos dias Jesus esteve em um lugar desabitado, com fome, com sede e afligido pelo mal e sua resposta para a privação do que é mais básico para o sustento do corpo, quando tentado por Satanás a transformar pedras em pães, ainda ecoa entre nós: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Mt 4:4). 

Esta era a convicção de Jesus que como Homem passou pelo deserto: o pão é muito importante, mas a Palavra nos dá uma vida consciente de que para Deus valemos mais que o próprio alimento, que meninas como nós não são moedas de troca e nem corpos para satisfazer os desejos pecaminosos de outros. A Palavra é o verdadeiro alimento que pode fortalecê-las, de tal modo que suas identidades não sejam moldadas pelas circunstâncias que as cercam.      

Que como Igreja, possamos partilhar o Pão da Vida e, em atos de amor, possamos nos engajar a levar ajuda (alimentos, roupas, água, emprego, condições de saúde, saneamento básico, dar voz no âmbito político) a essas pessoas, a essas meninas do sertão nordestino. Oro para que possamos ser portadores do pão e da Vida aos que foram esquecidos pela nação brasileira.

Separe um momento do seu dia para orar pelas meninas do sertão nordestino, pergunte ao Senhor como você pode ajudá-las e às suas famílias. Que Cristo tenha misericórdia do nosso Brasil! Amém!   


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Abril com o tema “Meninas como Nós”. Para ler todos os posts clique AQUI.