Meninas como Nós: Amazônia

Quando eu era criança, antes de aprender a andar de bicicleta eu tive que aprender a andar na rua. 

As orientações de minha mãe preocupada (e com razão) iam desde de “não fale com estranhos!” até “olhe para os lados”, “coloque a bolsa na frente”, “prenda o cabelo”, “mande sempre mensagem avisando onde está e quanto tempo falta para chegar”, e por aí vai… 

Agora, adulta e morando no interior, ainda tenho um desconforto toda vez que preciso andar sozinha em um local desconhecido. A paz acontece quando chego em minha casa, tranco bem a porta e tiro meus sapatos. Pronto! Estou segura. 

Você sabe qual tem sido a maior dificuldade de algumas meninas como nós na Amazônia? Os seus lares estão sendo invadidos por estranhos todos os dias. 

Querida irmã, neste último texto desta série, quero te apresentar a triste realidade que algumas mulheres amazônicas vivem. Por favor, leia consciente de que você será exposta a um recorte do todo — se você quiser se aprofundar, os dados e as fontes utilizados estarão linkados no decorrer e ao final do texto.

Há transformações acontecendo e devemos celebrá-las, e também não queremos criar generalizações — há muito ocorrendo em todas as regiões mencionadas nesta série que nós não sabemos. Mas não podemos fechar os nossos olhos e corações para algumas dessas brasileiras que, deste lado da eternidade, também procuram um lar, um lugar onde há esperança ao invés de insegurança. 

Lar inseguro

O lar das mulheres da Amazônia está na maior no bioma do Brasil, com árvores enormes, imensa quantidade de água e variadas espécies de animais.

Mas nenhuma riqueza consegue esconder a realidade de uma parte das mulheres da Amazônia: elas são exploradas e violentadas

Para se ter uma ideia, segundo dados das secretarias estaduais de segurança, só em 2020, 1.398 mulheres foram mortas na Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhão).

Uma pesquisa, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com 132 mulheres da região, trouxe à tona que 100 dessas já foram vítimas de violências, que envolviam disputas por terras, exploração ilegal de madeira e minérios preciosos ou expansão do agronegócio. Pelo menos  27 mulheres já sofreram mais de um tipo de violência e 12 delas disseram ter sofrido violência de mais de um agressor.

Há também o problema da violência sexual, que acontece em um ambiente com a predominância do agronegócio e mineração. Algumas mulheres amazônicas são sexualmente exploradas em seus serviços e nos garimpos. Neste último local, a violência é escancarada: as indígenas são embriagadas e estupradas pelos invasores; adolescentes são coagidas ao ato em troca de comida.

A saúde de algumas mulheres é totalmente comprometida pela extração ilegal de ouro na Amazônia, pelas queimadas constantes e pelo desmatamento. Existem casos registrados, por exemplo, de interrupção de gestações, contaminação do leite materno e diversos tipos doenças.  Quando elas denunciam estes crimes, com vídeos, fotos e divulgações, podem sofrer calúnia, difamação, injúria, além de violência física e psicológica.

De acordo com o IBGE, das 14 milhões de mulheres que vivem na Amazônia Legal, 7,5 milhões habitam em municípios com registro de constantes conflitos. Como consequência, várias se vêem violentamente expulsas de seus lares e entregues à própria sorte.

Lar eterno

Há mais notícias, artigos e dados que reviram o estômago e palpitam o coração. Histórias que, quando divulgadas, nos arrancam lágrimas dos olhos. Há dor, choro e lamento… e como precisamos lamentar. 

Precisamos olhar para este lado da eternidade e perceber o contexto quebrado em que nos encontramos. Buscando desejos, em algum nível, legítimos, pessoas corrompidas não se importam em sacrificar mulheres, feitas à imagem e semelhança de Deus, negligenciando a dignidade inerente que elas possuem.

Querida irmã, por ser o último texto desta série tão desafiadora, não quero terminar com a sensação de desesperança. Realmente, há muitas mulheres dedicadas a mudar esse cenário, e isso é maravilhoso, bem como importante. Entretanto, quero te convidar a atuar na frente de batalha mais significativa que há, a oração. Despertada para parte da realidade presente, que você seja também uma manifestação presente do aguardado Reino Futuro.

Essa série foi uma chamada para tirarmos um tempo e orarmos por mulheres que não sabemos o nome, não vimos o rosto e pouco provavelmente abraçaremos; entretanto, são reais, portadoras da imagem divina e sofrem intensamente. É um chamado para ecoar a esperança.

Enquanto estamos aqui, nesta jornada peregrina rumo ao lar eterno, que não fechemos as portas de nossos corações às pessoas que porventura necessitem nele se hospedar. Ao contrário, que sejamos generosas em servir e acolher com aquilo que temos em mãos: com apoio aos missionários, com conscientização em nossas igrejas locais, com a divulgação de projetos idôneos e com orações constantes. Que a luz de Cristo possa refletir em nós e iluminar as trevas que nos cercam. 


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Abril com o tema “Meninas como Nós”. Para ler todos os posts clique AQUI.