Infinitamente Agraciadas (A Graça de Deus)
A graça é um dos atributos mais citados quando se pergunta a respeito do que define Deus. De capa a capa, a Bíblia retrata o Senhor Gracioso agindo ao longo da história. Essa qualidade se torna mais evidente se considerarmos quem é o ser humano e sua condição diante de Deus após a queda.
A definição básica de graça é “favor imerecido”. É tudo aquilo do qual não somos dignos, mas recebemos do Senhor de forma gratuita. Para entendermos melhor essa preciosa característica de Deus que Ele compartilha com Seus filhos e permite que eles a expressem em certa medida, precisamos analisar as Escrituras desde Gênesis.
Graça que vem até nós
No princípio de todas as coisas, o homem vivia em perfeita paz e comunhão com o Senhor, e recebeu a ordem de cultivar e guardar o jardim, e a permissão de comer de toda árvore ali plantada, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Essa era a única proibição que lhe foi imposta, acompanhada da sentença de morte caso a infringisse. Foi-lhe requerida total obediência para se relacionar com o Criador de todas as coisas.
Adão e Eva quebraram a lei, fracassaram em cumprir a vontade de Deus, comeram do fruto proibido e algo terrível aconteceu ali. Cada parte de seus corpos, assim como suas vontades e intelecto foram totalmente corrompidos pelo pecado. Não somente a morte espiritual, mas também a morte física passou a existir. “Porque tu és pó e ao pó tornarás”, disse o Senhor em Gênesis 3.19b. A maldição do pecado contaminou, para além do primeiro casal, tudo o que estava sob seu domínio, por isso “até agora, toda a criação geme, como em dores de parto” (Rm 8.22).
O relacionamento perfeito com o Senhor foi quebrado. Como o Deus Santo não tolera impureza e desobediência, o casal teve que afastar-se, tornou-se inimigo e foi expulso do jardim, do lugar em que convivia livremente com seu Criador. O homem caiu de seu estado original de comunhão e vida plena com Deus, para o estado de pecado, maldição e morte, o qual se estende a toda a humanidade.
O cenário pós-queda era terrível, desolador, a sentença estava posta, a morte eterna era o fim. Porém, o Senhor, em sua infinita graça, providenciou uma esperança ao pecador. Ainda no Éden, prometeu enviar o Salvador, Aquele que haveria de derrotar a morte, redimir o homem e restaurar seu relacionamento com Deus Pai.
Essa promessa teve o cumprimento em Cristo. Deus Filho se encarnou, veio a este mundo como Homem, à nossa semelhança, porém, sem pecado. Ele fez aquilo em que Adão falhou – obedeceu de forma perfeita o Pai, cumpriu toda a lei. Foi obediente até a morte e morte de cruz (cf. Fp 2.8). Na cruz, sofreu o peso de todos os pecados de todos os eleitos, de todos os tempos, experimentando, como resultado, a total separação do Pai e toda a Sua ira. O Justo pelos injustos. O Santo pelos pecadores. O Gracioso pelos indignos.
Um ponto importante de ressaltarmos é que recebemos nova vida pela graça, mas não foi de graça. Não foi como um credor que perdoou quem lhe devia, mas Alguém que te substituiu, assumiu a dívida e a pagou em seu lugar. Jesus pagou um alto preço pela nossa redenção. O fato de estarmos onde estamos e desfrutarmos de tantas bênçãos no presente, além de termos promessas maravilhosas quanto à vida eterna, se deve à realidade de que o sacrifício impecável foi oferecido para aplacar a ira de Deus e acabar com a inimizade originalmente instaurada entre nós.
É de tirar o fôlego, não é mesmo? Eis que temos a mais vívida definição de graça: a obra da redenção. O Deus Santo que traz vida eterna a pessoas condenadas à morte. Jesus, o Caminho que nos conduz de volta ao Pai. O Salvador que assume a nossa condenação, paga o preço por todos os nossos pecados (passados, presentes e futuros) e nos concede o perdão. Como bem define A. W. Pink, em seu livro “Os Atributos de Deus”:
“É o favor de Deus demonstrado a pessoas que não só não possuem merecimentos próprios, mas são totalmente merecedoras do inferno. É algo completamente imerecido, não é procurado de modo algum e não é atraído por nada que haja nos objetos aos quais é dado, por nada que deles provenha, nem pelos próprios objetos. […] Chega-lhes como pura caridade e, a princípio, não é solicitada nem desejada.” (pp. 105-106)
Deus estende sua graça a todos quantos escolhe para Si, todavia alguns o julgam Injusto por isso. O apóstolo Paulo em Romanos 9 discorre acerca do tema. Ele nos lembra que Deus é Soberano e tem misericórdia de quem Ele quer. Ele é o Criador e escolhe o destino que dará a cada uma de Suas criaturas, assim como o oleiro decide sobre a função de todo vaso que fabrica. “Portanto, a misericórdia depende apenas de Deus, e não de nosso desejo nem de nossos esforços” (Rm 9.16).
Graça que transforma
É maravilhoso considerarmos tudo aquilo que o Deus Gracioso derrama continuamente sobre os seus de forma amorosa, abundante e livre, mas será que acaba por aí? Somos apenas receptores da graça? O que fazer a partir daquilo que o Senhor faz por nós?
Efésios 2.8-10 diz:
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
No texto acima o apóstolo Paulo relata não somente que a salvação é obra exclusivamente divina, mas que os salvos foram restaurados em Cristo para a prática de boas obras, planejadas desde os tempos eternos. Recebemos da graça de Deus para que possamos estendê-la através daquilo que fazemos, somos e vivemos. A graça não apenas salva, mas ajuda no nosso processo de santificação, de sermos mais parecidos com nosso Redentor.
A graça deve moldar nosso relacionamento com o Pai Gracioso, não só porque fomos alcançados por ela, mas também porque ela está disponível para nos ajudar na caminhada. Nossa reação ao favor imerecido para conosco deve ser fidelidade e apego à Sua Palavra. Ele não mudou e continua exigindo de Seus filhos obediência e santidade. Precisamos odiar o pecado, abominar as práticas que O ofendem, buscar viver dia a dia em novidade de vida até que O vejamos face a face. Como Tito 2.11-14 ensina:
“Pois a graça de Deus foi revelada e a todos traz salvação. Somos instruídos a abandonar o estilo de vida ímpio e os prazeres pecaminosos. Neste mundo perverso, devemos viver com sabedoria, justiça e devoção, enquanto aguardamos esperançosamente o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele entregou sua vida para nos libertar de todo pecado, para nos purificar e fazer de nós seu povo, inteiramente dedicado às boas obras”.
Além da relação com Deus, nosso olhar para com o próximo também deve ser graciosamente impactado. Nossa experiência com a graça deve nos levar à humildade e ao serviço ao próximo, não desperdicemos isso. Vejamos as orientações dos seguintes versos bíblicos:
“Deus concedeu um dom a cada um, e vocês devem usá-lo para servir uns aos outros, fazendo bom uso da múltipla e variada graça divina” (1 Pe 4.10);
“Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra” (2Co 9.8).
Uma vez que tivemos nossos pecados perdoados e uma nova chance de viver amigavelmente com o Senhor, precisamos ser graciosos para com aqueles que pecam, caem e erram. As palavras do apóstolo Paulo devem estar em nossos lábios também: “pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15.10a).
De um lado, é fascinante refletirmos sobre a inexplicável graça de Deus. Nossa mente finita não consegue conceber por que Ele foi tão longe e fez tanto por nós, ainda mais quando realizamos uma auto análise sincera e vemos a realidade de nosso ser com suas limitações, medos, fraquezas e pecados. Oh, maravilhosa graça!
Por outro lado, a responsabilidade que temos diante de nós resulta em grande temor e tremor. De inimigos a filhos redimidos de Deus: a graça que mudou o sentido de nossas vidas deve afetar a totalidade do nosso ser, sendo evidenciada na forma como respondemos ao Senhor e às pessoas à nossa volta. Aquilo que nos preenche de forma abundante, precisa fluir para outros da mesma forma.
É um desafio, querida irmã. Mas há graça sem medida. A mesma graça que recebemos na cruz está disponível durante a caminhada. Nossa reação diante da obra grandiosa e graciosa de Deus não pode ser outra a não ser nos prostrarmos diante dEle e adorarmos Àquele que não poupou o seu próprio Filho (Rm 8.32), que concede graça aos humildes (Tg 4.6) e cujo favor dura a vida toda (Sl 30.5).
Esse post faz parte da nossa série de postagens de Junho/Julho com o tema “Atributos Comunicáveis de Deus”. Para ler todos os posts clique AQUI.
1 Comment
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