Hagar – O Deus Que Vê
Por definição, o deserto é uma região estéril devido à aridez e escassez de água. Utilizamos desta imagem muitas vezes para descrever certos momentos de nossas vidas. Quantas vezes nossas almas se encontram em um deserto? Quantas vezes encontramo-nos sem direção, sem perspectiva e sem esperança? Quantas vezes fugimos de situações, pessoas, relacionamentos, de nós mesmas e até mesmo, como se fosse possível, do Senhor?
A escrava Hagar em sua aflição fugiu para o deserto, mas ela não sabia que ali seria encontrada pelo El-Roí, o Deus que vê. Ali no deserto ela aprendeu lições que não poderiam ter sido aprendidas em outro lugar e de outra forma, e pela misericórdia de Deus, esse capítulo de sua vida nos foi deixado também como lição.
De onde vens?
Em Gênesis 16 encontramos um breve relato de Hagar, a escrava, e seus senhores Abrão e Sarai. Sarai, impaciente com a promessa do Senhor que aparentemente estava demorando a se cumprir, em um impulso, resolveu dar um jeito na situação usando sua serva como instrumento. Sugeriu que Abrão usasse Hagar para ter um filho e assim cumprisse com a promessa que o Senhor havia feito. No entanto, o plano de Sarai saiu do controle quando a serva passou a desprezá-la após engravidar. Sarai, em um ato de revolta e frustração, humilhou sua serva que, ferida, fugiu de seus senhores para o deserto, onde foi encontrada perto de uma fonte de água pelo Anjo do Senhor (Gênesis 16.1-7).
Como Hagar, por vezes nos encontramos no deserto após fugir de algo que nos machucou. Usamos a fuga como um mecanismo de defesa, nos escondemos de tudo e todos com a falsa esperança de nos recuperarmos sozinhas do trauma. Fugimos para que ninguém nos encontre. Nos escondemos sem querer que nos achem. Mas quando pensou estar perdida e sozinha, Hagar foi achada pelo Anjo do Senhor que lhe fez uma pergunta: de onde vens? Lembrar de onde viemos é o primeiro passo para colocar a bagunça em ordem.
Considerar a nossa origem e consequentemente o nosso propósito, nos dá uma nova perspectiva em meio ao caos do coração. Em nossos “momentos de Hagar”, precisamos nos lembrar de onde viemos: do Senhor. Feitas à imagem do Criador, criadas para louvor de sua glória, filhas livres e amadas, e não mais escravas fugitivas. Precisamos constantemente nos lembrar quem somos, de onde viemos e a quem pertencemos.
Para onde vais?
A segunda pergunta do Anjo à escrava é: para onde vais? A resposta para essa pergunta revela muito do nosso coração. Para onde iremos? Até quando fugiremos? De quê, ao certo, estamos fugindo quando corremos? Hagar, em sua fuga, corria o risco de retornar ao Egito e se assemelhar a seu povo idólatra, adorando seus deuses, se moldando à cultura pagã e se esquecendo de uma vez por todas quem ela podia ser. Nós também corremos riscos quando fugimos. Não saber para onde ir é o equivalente a estar perdido, sem direção. Saber para onde iremos e nos lembrarmos disso quando o deserto da alma perdurar, embora não nos livre da aflição, nos ensinará a sofrer de forma correta: com os olhos fixos na eternidade.
O deserto não é a nossa casa. Deserto é caminho, lugar de passagem. Não permanecemos ali para sempre como que abandonadas, mas aprendemos lições que talvez não aprenderíamos de outra maneira e nem em outro lugar. Quando a luz do dia demorar a clarear, lembre-se para onde você está indo. Embora deste lado haja desertos e aflições, estamos caminhando dia após dia para um lugar onde não saberemos mais o que é escuridão. Onde, de uma vez por todas, a aflição será deixada para trás, as lágrimas não entrarão e não desejaremos fugir de mais nada e ninguém, pois ali estaremos seguras e completas para sempre no nosso Senhor.
O Deus que vê
Ao longo das Escrituras, conhecemos alguns nomes de Deus. Ali no deserto, junto à fonte de água, conhecemos o nosso El-Roí, o Deus que vê. Naquele deserto onde uma mulher ferida estava fugindo, o Senhor Deus, infinito em misericórdia, expressa para Hagar a profunda importância da sua graciosa revelação. Mesmo enquanto se acha perdida no deserto, Deus a vê e se revela a ela. Ah! Que boa notícia! O Senhor é o Deus que vê! Ainda que tentemos nos esconder, ainda que a ferida pareça grande demais e nos faça querer fugir, jamais poderemos nos esconder dos olhos do El-Roí.
É nesse cenário de dor e desesperança que Hagar teve o encontro mais significativo de toda sua vida. No deserto ela encontrou quem verdadeiramente poderia lhe dar identidade e destino. É no nosso cenário desértico, de aflição e desesperança que podemos desfrutar da doce providência e cuidado do Deus que vê.
Muitos anos depois, uma mulher que também se encontrava ferida e perdida junto ao poço em Samaria, foi encontrada pelo Deus que vê. Contemplamos nas Escrituras a soberania de um Deus que, embora grande e majestoso, é também bondoso o suficiente para se fazer homem, servo e humilde, e se revelar às almas feridas. Jesus é a nossa fonte de água no deserto! É a água viva que jorra para a eternidade. É a água que alivia a sede de uma vez por todas. É a fonte que não seca. Ele nos encontra no nosso deserto para se revelar como o Deus que nos vê.
O Senhor nos deu uma doce prova de que realmente nos vê enviando seu Filho para encontrar os que estavam perdidos, curar os que foram feridos e salvar os que estavam condenados em seus pecados. O Deus que nos vê, da mesma forma que foi ao encontro de Hagar e se revelou a ela, também veio ao encontro dos homens e se revelou a eles. A luz brilhou na escuridão. A desesperança morreu na ressurreição de Cristo. Deus não somente vê, mas também vem.
Querida amiga, não há nenhum lugar onde o Senhor não possa nos encontrar. No mais profundo abismo podemos confiar que há um Deus que nos vê. O deserto deixou de ser um lugar a ser evitado desde que o Senhor se revelou ali. El Roí é o nome dele. Pela fé no nosso Senhor, quando passarmos pelo deserto há ali para nós uma fonte de água viva a jorrar pela eternidade.
Não mais escravas, não mais fugitivas. Confiantemente, como filhas amadas declaramos: Aleluia! Tu és o Deus que vê.
Esse post faz parte da nossa série de postagens de Março com o tema “Mulheres Desconhecidas da Bíblia”. Para ler todos os posts clique AQUI.
11 Comments
Amém! Glória à Deus.
Meu Deus que texto é esse!!!!!!!😭😭😭😭😭😭
Como fui edificada! Obrigada, Deus!
Eu estou impactada! 😭
💖
Que texto maravilhoso!! Glória a Deus!
Que texto maravilhoso, fui consolada e confrontada por meio dele.
Que Deus continue abençoando o projeto de vocês.
Maravilhoso 😍
Isabella Oliveira, ainda tão jovem com tanta sabedoria!!!!. Este texto é maravilhoso e esclarecedor!!! Tenho 62 anos e recentemente Deus me direcionou a trabalhar com mulheres. Já levei a palavra utilizando como exemplo, várias mulheres da Bíblia. Em julho de 2023 teremos um Culto de Gratidão com o tema: “Tú és o Deus que me vê” pesquisando sobre o tema achei esta preciosidade escrita por você que conseguiu extrair pérolas desta história de Hagar, uma escrava egípcia que passou por diversas feridas emocionais como humilhação, ferida do abandono, e, mesmo assim, o Deus que tudo vê não há desamparou enviando um anjo para a proteger ela e seu filho e mudar a sua história.
❤️🩹❤️🩹
Obrigada por compartilhar comigo sua riqueza de reflexões e estudos da palavra de Deus nosso Pai que nos vê.