Graça Conversa: Danielli, missionária em Madagascar

Há algum tempo recebi um email de uma voluntária de nossa Equipe, a Victória, me dizendo que conhecia uma moça missionária em Madagascar e perguntando se eu queria o contato. Aceitei, claro, porque queria muito trazer mais uma missionária ao nosso Graça Conversa, e dessa vez brasileira.

Danielli é originalmente do estado do Pará, e está no Madagascar desde 2016, trabalhando principalmente com moças. Abaixo segue um trecho do testemunho que ela me enviou, relatando em especial a forma como sentiu seu chamado ao Madagascar:

“Logo eu senti o chamado de Deus para ser missionária na África, mas não sabia para qual país. Durante os cinco anos em que estava no Instituto Bíblico eu orei pedindo direção do Senhor. Antes do meu último ano o Senhor abriu a porta para fazer uma viagem à Madagascar. Fiquei três semanas conhecendo a ilha e o trabalho de dois casais missionários. Eles nos receberam e depois de me conhecerem me convidaram a voltar e trabalhar com eles, se Deus confirmasse isso em meu coração. Voltei ao Brasil e orei muito, pois enquanto estava lá conheci uma vila que precisava muito do evangelho. Esse lugar tocou muito meu coração, mas não queria tomar uma decisão só pela emoção. Depois de orar por alguns meses, Deus confirmou meu chamado para Madagascar. Então comecei a procurar uma missão que me apoiasse, mas o fato de ser solteira dificultou muito encontrar uma que me aceitasse. Tive a ajuda de missionárias, e um dia recebemos uma caixa de Bíblias pedidas por uma delas. Junto veio um jornal de apoio só para ajudar as Bíblias a ficarem no lugar. Estávamos lendo o jornal e descobrimos a Missão Maranata. Foi assim que Deus me guiou, e desde novembro de 2014 faço parte dessa missão.”

Graça em Flor: Danielli, você cresceu em uma família católica. Como foi passar dessa denominação para uma denominação protestante? O que mudou na sua vida?

Danielli: Minha mãe não gostou muito da decisão que tomei, para ela “mudar” de religião era um grande pecado. Meu pai sempre me apoiou. Ele me disse que se esse era o caminho que eu queria seguir ele não seria contra. Ouvi críticas de pessoas próximas à minha família que eram católicas. Muitas falaram para minha mãe não permitir que fizesse isso, porém ela falava que eu já tinha escolhido e não tinha muito que ela pudesse fazer.

G: Como seus pais receberam a notícia de que você queria se mudar para outro país para pregar o Evangelho?

D: Meus pais ficaram preocupados por eu ser mulher e solteira. Eles temiam por minha segurança e saúde. Minha mãe sempre sofreu mais, ela me dizia para escolher alguma cidade no Brasil. Eu acho que até antes de eu embarcar para vir para Madagascar ela achou que eu iria desistir e ficar. Claro que até hoje eles se preocupam, mas agora eles têm a confiança no cuidado do Senhor para comigo.

G: Quais foram suas maiores dificuldades nesse país, até agora, como missionária, como mulher, como solteira? 

D: A maior dificuldade que tive como missionária foi aprender a língua malagasy. Não pela língua em si, mas sim porque eu aprendi a partir do Francês e do Inglês, duas línguas em que não sou fluente.

Como mulher e estrangeira, os homens assediam demais. Teve um caso em que fui no banco e o rapaz que me atendeu viu meu passaporte e soube que eu era brasileira e me perguntou diretamente se podia vir na minha casa fazer uma visita. Aquilo me chocou demais, acho que foi meu primeiro choque cultural.

A dificuldade por ser solteira é mais por não ter algum homem para me defender, pois os homens aqui dão em cima tanto de casadas como de solteiras. Para eles não têm problema, pois estão acostumados a ter várias mulheres, sendo casada ou solteira.

G: Quais foram as experiências em que mais sentiu Jesus perto?

D: Teve um momento quando fomos para um acampamento em uma cidade longe de onde moro. Quem disse que vida de missionária não tem aventura? Eu vivi uma grande aventura nestes dias e mais do que tudo vi o cuidado de Deus.

No dia 4 de agosto, Bobby e Joanna [missionários também em Madagascar], alguns jovens da igreja e eu fomos pra um acampamento em Mantasoa, lugar próximo a Tana (capital de Madagascar). A viagem foi de carro e na ida demorou umas 31 horas. Tivemos um problema com o carro na ida, mas nada demais. O acampamento  foi muito bom. Quatro dos cinco jovens que não eram crentes  aceitaram a Cristo. Glória a Deus!

Na nossa viagem de volta saímos de Tana na sexta, dia 11, paramos em uma cidade próxima para dormir, e graças a Deus a gente tinha uma cama. No sábado saímos bem cedo e nosso reboque começou a dar problema, graças a Deus estávamos próximos a uma vila e conseguimos parar para soldar uma peça da roda. Seguimos viagem e o problema aumentou, a roda quebrou totalmente, dessa vez precisávamos de um tronco para colocar no lugar da roda e ali perto tinha muitas árvores grandes, o Senhor cuidou. Após deixar o reboque em um posto do exército seguimos viagem e chegamos num restaurante onde comemos e passamos a noite dormindo no chão, mas graças a Deus tínhamos um lugar.

Na manhã do domingo seguimos viagem e chegamos em outro posto e lá eles não nos deixaríam passar, se não  tivéssemos escolta. Então íamos ter que esperar o chefe chegar. Depois de umas 2 horas de conversa, espera e orações conseguimos passar. A gente pensou que tava tudo certo pra chegar em Maintirano ainda no domingo. Porém apareceram novos problemas – a roda traseira direita do carro começou a fazer grande barulho, paramos para o Bobby consertar. Nessa hora todos já estavam com fome e perto tínhamos mokonazy (uma fruta que parece acerola), mais um cuidado de Deus.

Seguimos um pouco mais e a roda ficou ruim de novo, dessa vez era hora do almoço, perto do carro tinha uma árvore e sombra (providência de Deus) e conseguimos preparar um hot dog. Seguimos um pouco mais na estrada e problema de novo na mesma roda, nesse momento já estava muito quente, pouca água com a gente. Ah mas Deus nos deu um riozinho próximo onde o carro quebrou que nos ajudou a refrescarmos. Aí a gente pensou, “agora vamos chegar em Maintirano”. Que nada! O carro deu problema na outra roda e dessa vez foi grave. E onde paramos pra consertar tinham pedras e gravetos prontos pra uma fogueira, Deus providenciou Ele é bom.

Quatro horas depois Bobby conseguiu consertar, durante esse tempo oramos, rimos, contamos histórias, sempre confiando que o Senhor estava cuidando de nós. E aí apareceu uns homens do exército que resolveram nos proteger esperando até que o carro estivesse consertado. Lembra que tínhamos pouca água? Escolhemos cozinhar miojo e usar água do que tomá-la. Mas os soldados acabaram nos dando água e refrigerantes, mais uma vez o Senhor supriu. Finalmente depois de 64 horas na estrada chegamos ontem pela manhã [5 de Março] aqui em Maintirano, muito gratos a Deus por seu cuidado e cheios de aprendizados através das dificuldades. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Rm. 8.28). Se eu faria de novo? Com toda a certeza, sabendo que o meu Deus há de cuidar de tudo quanto eu precisar. A Ele toda a glória!

G: Você disse que Deus te mostrou qual missão procurar graças a uma “coincidência” do jornal embrulhando as Bíblias. Houve alguma outra situação onde a mão de Deus estava claramente te guiando?

D: Sim, quando eu precisava começar minhas aulas de francês. Teria que ir pra outra cidade pra estudar, pois na minha cidade não tinha curso, e para isso eu precisava sair do meu emprego. Eu pensei bastante nisso, pois tinha um bom salário e confiava que receberia cada final de mês. Nesse tempo eu já tinha um pouco de sustento mas não o suficiente para arcar com todos os gastos das viagens e do curso de francês. Eu orei ao Senhor e senti a convicção que deveria deixar meu trabalho e confiar que o Senhor iria suprir – não foi fácil, mas eu fiz. E posso dizer que o Senhor supriu muito mais do que havia imaginado, foi melhor do que quando estava trabalhando. Ele cuidou de mim de uma forma especial, e isso foi de grande aprendizado para eu confiar no Senhor ainda mais em qualquer situação.

G: Dê um recado ao coração das solteiras que desejam viver vidas radicalmente dedicadas a Cristo.

D: Primeiro, eu não acho que vivo uma vida radical para Cristo, tenho muito a aprender no serviço a Deus. Mas pela minha experiência posso dizer, se você quer servir a Deus onde quer que for, confie nEle para tudo na sua vida, até as mínimas coisas. Se você tem convicção do chamado de Deus vá em frente pelo caminho que Ele mostra, tenha coragem em Deus. Algumas pessoas riram e fizeram pouco do meu chamado, outros me perguntaram se eu tinha certeza que era esse o lugar, outros irmãos me disseram que eu era louca por vir sozinha para a África. E tantas outras coisas aconteceram para me desanimar. Porém, hoje estou aqui pela graça de Deus servindo ao Senhor, não é fácil mas o Senhor tem me ensinado muitas lições através das dificuldades e eu tenho crescido e visto a grande benção e privilégio que é servir a Deus.

Se você quer servir a Deus onde quer que for, confie nEle para tudo na sua vida, até mesmo nas mínimas coisas. Click To Tweet

G: Quais as diferenças e semelhanças nas vidas de moças cristãs de Madagascar e do Brasil?

D: As semelhanças são que elas enfrentam tentações semelhantes com as moças no Brasil, mas a diferença está na vida que elas levam. A maioria não tem perspectiva de uma vida melhor, não têm sonhos de estudar ou ter uma profissão, pela falta de oportunidades que têm. A maioria deixa os estudos muito cedo para ajudar a família que tem dificuldades financeiras, e acabam se juntando e tendo filhos bem novas, continuando um ciclo de dificuldades. As mulheres são bem desvalorizadas pelos homens, que podem ter mais de uma esposa.

 G: Como podemos orar por você e pelas moças a quem você tem evangelizado?

D: Orem que eu seja um bom exemplo para elas, uma conselheira e boa amiga. Que eu possa ajudá-las a quererem um futuro diferente para suas vidas dentro da vontade do Senhor. Para aquelas que conhecem a Cristo, que possam desejar crescer na Palavra de Deus e na Sua vontade. Para as que ainda não O conhecem, que tenham sede e fome de conhecer esse Deus grande e maravilhoso como Salvador de suas vidas.


Adicionem Danielli à sua lista de oração, e juntas oremos a Deus que continue abençoando e frutificando o trabalho e serviço dela em Madagascar.