Glória e majestade; força e formosura (Sobre adoração)

Eu sempre achei bastante curioso ver os católicos romanos fazerem o sinal da cruz ao passarem por uma de suas igrejas. Você já deve ter tido essa experiência também. Acho incrível o sentido de reverência que eles têm com a casa do Senhor. Sinto-me triste em saber que muitas igrejas evangélicas estão se perdendo, usando o lugar de adoração ao Senhor como lugar de profanação da Palavra e desejaria que elas tivessem a mesma reverência que os católicos têm pela casa de Deus.

Apesar de belo, o gesto que os seguidores do catolicismo romano fazem, simbolizando uma cruz quando passam em frente às igrejas, demonstra que aquele parece ser o único lugar em que Deus merece uma reverência. E é aqui o ponto que desejo chegar com este texto: onde devemos reverenciar e adorar ao nosso Senhor. E não somente onde, mas quando e como. A praticidade em responder esses tipos de perguntas nem sempre é possível em outros assuntos teológicos, mas espero tentar respondê-las com esse artigo.

Nunca se ouviu falar tanto no termo worship. A tradução desse vocábulo é “adoração”. Porém, ao adotarmos essa tradução, fica bastante vago o significado considerável do termo. Participar de um worship tem se tornado comum no meio evangélico, mas também se torna algo perigoso. Nem toda atividade religiosa de worship é uma verdadeira adoração. Estranhamente as pessoas estão frequentando salões onde há cânticos e belas palestras, mas não sabem o que ou quem estão adorando, nem tampouco sabem argumentar sobre o motivo de sua fé.

Encontramos então a necessidade de definir a real e verdadeira adoração, a adoração em espírito e em verdade de João 4.24. Principalmente, porque essa verdadeira adoração é de extrema importância para Deus. A passagem onde Jesus pede água a uma mulher samaritana mostra que o Pai procura verdadeiros adoradores (v.23). Ora, alguém só procura algo que lhe é muito importante e, nesse caso, o que lhe é verdadeiro também. A samaritana estava certa ao dizer que o único lugar para a adoração a Deus seria  um templo feito por mãos de homens. Jesus a lembra que a adoração não está limitada a um lugar terreno, mas que deve ser oferecida se dirigindo aos céus na plenitude do Espírito Santo.

A verdadeira adoração

Só quando percebemos que adorar a Deus é o motivo real de nossa vida terrena, e até eterna (Ap. 4:8), é que poderemos sentir prazer em adorá-lo em espírito e em verdade. Porque a verdadeira oração começa no espírito.

Adoramos em espírito quando O adoramos em detalhes como diz o texto de 1 Coríntios 10.31 (Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus); e O adoramos em verdade quando  estamos de acordo com a Bíblia. Ler, compreender e estudar a Palavra são atos de adoração porque somente assim conheceremos mais de Deus e, como diz o pastor norte-americano John Macarthur, “quanto mais conhecemos de Deus, maior é a nossa adoração”.

Deus não precisa de nossa existência para ser quem Ele é. Se Ele nos criou foi somente para sua glória. E não somente a nós, humanos, mas a toda a criação (Salmos 19.1). É incrível imaginar que em alguma floresta intocada nesse exato momento existe uma borboleta voando, sozinha, sem nenhum ser humano olhando, somente para glorificar a Deus, para sua adoração. O autor norte-americano John Piper diz: “O universo existe para mostrar o infinito valor de Jesus em ardente adoração”.

Adorar a Deus é um estilo de vida. É um ato de honrar e servir. Adoramos a Deus porque Ele nos ama e nós o amamos e cremos firmemente que Ele deseja as nossas fracas tentativas de expressar nossa gratidão.

A adoração verdadeira, além de ser a ação mais importante diante de Deus em nossas vidas, nos fortalece, nos encoraja e nos prepara para o céu. Existem dois tipos de adoração: a privada, com leitura da Bíblia, oração e meditação; e a adoração pública, ou o culto público em si. Nesse segundo, Deus nos mostra do começo ao fim da Bíblia que fomos criados para viver em comunhão com nossos semelhantes e é dEle a promessa de que onde dois ou mais estiverem reunidos, ali ele estaria.

Como deve ser a verdadeira adoração?

O salmo 96 responde essa pergunta com bastante eficácia: com cânticos, glória e força. Toda a glória, ou seja, o reconhecimento do estimado valor, deve ser dado a Deus em toda nossa adoração. Toda a força, ousadia e a majestade com fé e contemplação devem ser consagradas ao único que é digno. Através da mediação de Cristo e baseados nas escrituras, devemos ir ao Pai de todo nosso coração. Também é bom lembrar as palavras do autor da carta aos Hebreus no capítulo 12.28-29 quando diz que devemos prestar adoração em temor e tremor: “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor”.

Nossa adoração deve seguir à risca o modelo bíblico. Se pública, deve ter lugar, um dia da semana separado para isso, a pregação da palavra, as orações, o louvor. Se particular, além dos hábitos espirituais (leitura bíblica, oração, meditação e jejum), deve também aparecer o autoexame, ou o guardar do coração.

O autor J. C. Ryle, em seu livreto “Adoração: prioridade, princípios e prática”, diz uma frase que deveria ser uma regra de fé: “Enquanto vivermos, lembremos que não é a quantidade de adoração, e sim, a qualidade, que Deus leva em conta.”

O que não é adoração

A adoração não é somente o momento do louvor, a música, a leitura da palavra e nem muito menos frequentar a igreja aos domingos. A adoração não é para seu próprio benefício. Nosso objetivo ao adorar deve ser dar glórias ao Criador. O coração de um verdadeiro adorador será grato pelo que tem e, ao receber as bênçãos, terá o coração cheio de alegria e contentamento. Em Isaías 29:13 lemos: “…Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim,…”. Aqui está um exemplo de um povo que achava estar adorando a Deus, mas não estava fazendo de todo o coração.

Podemos afirmar que quando a adoração é uma busca por satisfação própria acima de qualquer coisa, ou uma busca de consolo e alegria em algo que não seja Deus, estamos indo contra a vontade dEle e desobedecendo um mandamento, o de não ter outro deuses diante dEle. Estamos em idolatria. Frequentar a igreja aos domingos, ou ouvir cânticos espirituais em busca de paz interior não, em si, é adorar em espírito e em verdade.  

Por fim, é através da adoração que chegaremos mais perto da santificação, da segurança quanto à nossa fé e então começaremos a ter uma visão transformada, porque olharemos firmemente para o Autor e Consumador da fé. Que possamos, como cristãs, ser adoradoras em tudo o que fazemos, tanto durante o culto na igreja quanto na dimensão familiar e particular. Que nossa adoração seja horizontal e vertical. Assim, O adoraremos em espírito e em verdade.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Fevereiro com o tema “Disciplinas Espirituais”. Para ler todos os posts clique AQUI.