Encontrando perdão para um passado sexual

O aplicativo do Instagram recentemente adicionou uma nova possibilidade dentro de sua proposta do Stories: agora as pessoas podem receber perguntas e respondê-las dentro do próprio aplicativo. Inicialmente eu tive certa aversão a essa nova proposta, porque me lembrou muito o falecido Formspring.me (lembram-se?), que era onde nós respondíamos a perguntas variadas que tinham uma só coisa em comum: todas eram completamente inúteis. Com medo de cair na dança da futilidade, decidi ignorar o novo Stories por um tempo. Mas depois percebi que como em todo o resto na vida, é possível encontrar equilíbrio até mesmo no que parece inútil em um primeiro olhar. Na vontade de abençoar e redimir essa nova proposta do Instagram, comecei a receber e responder perguntas.

E uma delas pesou forte em meu coração. Em uma das mensagens, uma moça dizia: “O que fazer quando se chega a uma fase no namoro em que o homem não aceita o passado sexual da mulher, ainda que agora ela sirva a Deus?”.

O motivo dessa questão pesar em minha alma é porque ela não é rara. Pelo contrário, há muitos aconselhamentos que fazemos de moças sofrendo com passados sexuais, trazendo uma bagagem pesada ao presente, tendo dificuldades de carregá-la na caminhada com Cristo. Essas moças têm medo de serem julgadas, caso descobertas; ou já sentiram na pele a dor da rejeição, quando confessaram seus pecados de outrora.

No Instagram eu tentei manter a resposta o mais curta possível, porque para mim me pareceria uma questão simples. Mas eu decidi expandir o tema em um artigo por reconhecer que essa resposta ainda que simples não é nada fácil, na verdade, de aceitar.

Identidade de Prostituta

Há alguns meses tive o prazer de ler a obra “Amor de Redenção”, da autora norte-americana Francine Rivers (você pode ver a resenha que fiz desse livro aqui). Conforme lia a história da prostituta Angel e seu marido Michael Hosea, eu me pegava odiando Angel. Veja bem, essa obra de ficção é baseada na história real do profeta Oséias e sua esposa Gômer, e assim como na história original, no livro a prostituta amada recusa o amor de seu marido e foge vez após vez de volta a sua vida passada.

Conforme meu ódio por Angel crescia, minha vontade de recusar a realidade dessa história crescia também. No fundo eu sabia que eu sou Angel (e Gômer). Não, eu não fui uma prostituta de forma literal. Mas o que fez tanto Angel quanto Gômer recusarem o amor de seus maridos não foi a luxúria ou a vontade de ser usada e abusada. O que as fazia fugir era uma completa negação de que pudessem ser dignas de um amor tão leal. Angel olhava no espelho e via uma prostituta, nada mais. E a verdade é que eu me olho no espelho e vejo uma pecadora imunda, nada mais. E eu não preciso só de um passado sexual para me sentir assim, eu tenho muitos outros pecados nojentos que são suficientes para criar essa mentalidade.

Então eu me rotulei como prostituta. Não amável. Impossível de ser desejável. Para mim isso foi num nível espiritual, entre eu e Deus; mas para muitas moças que vêm de uma vida de promiscuidade antes de Cristo, isso acontece num nível literal, pessoal, de se sentir manchada por seu passado sexual. É como se elas se vissem como frutas que foram tão tocadas e manejadas na banca da feira, que ninguém mais vai querer comprá-las. Outras frutas estão belas e inteiras, quem iria querer uma fruta amassada, com manchas marrons e moscas ao redor?

Bom, deixa eu te dizer quem – JESUS. Pronto, eu disse que era simples. A resposta é essa. Jesus quer você, com passado sexual ou sem.

Jesus quer você, com passado sexual ou sem. Click To Tweet

Jesus não quer a mim, Ele quer ela

Bom, como eu disse, a resposta é simples, mas não é fácil de aceitar. Eu percebi isso assim que terminei de ler “Amor de Redenção”. Num primeiro momento meu coração se encontrou extremamente alegre, regozijando-se na realidade de que Jesus amava a prostituta que eu era, e me buscava (e buscaria) todas as vezes que eu fugia.

Mas essa crença foi desafiada assim que comecei a ler um outro livro logo em seguida. A obra era “Daring to Hope” (“Ousando ter Esperança”, ainda não publicado em português), da missionária Katie Davis Majors. Em 2013 eu li o primeiro livro de Katie, chamado “Beijos da Katie”, e fui extremamente impactada por seu testemunho. Jovem de família rica, nascida nos EUA, Katie decidiu se mudar para a Uganda, compartilhando do Evangelho ali e criando 13 filhas adotivas (isso quando ela tinha cerca de 21 anos!). Quando escolhi a segunda obra de Katie para ler, não imaginei o processo que ela faria em mim.

Vou confessar a vocês o que aconteceu: conforme eu lia “Daring to Hope”, uma voz, que crescia a cada página, dizia em minha cabeça, “Jesus ama a Katie, claro, veja tudo o que ela faz, tudo o que ela é! Mas você? Pare de se iludir… Jesus não pode amar você. E por mais tolo que isso pareça quando eu confesso em “voz alta”, essa era a realidade do que eu estava vivendo. Comecei um processo dolorido de duvidar do amor de Deus por mim. Realmente duvidar. Comecei a olhar para tudo o que eu fiz no passado, cada pecado sujo voltando em imagens claras em minha mente, e eu não conseguia aceitar que Deus pudesse me amar.

Será possível?

Querida amiga, talvez você esteja se sentindo, ainda hoje, como uma pessoa além da graça, impossível de ser amada. Talvez como Angel, você se olha no espelho e vê “Prostituta” em letras garrafais e vermelhas escrito em sua testa. Talvez como eu, você olha para outras mulheres e pensa “é a elas que Jesus ama, não a mim… Jamais a mim”.

Amiga, tudo o que eu posso te dizer talvez não te convença, mas eu espero que o que Deus diz o faça:

“Naquele tempo, diz o Senhor, serei o Deus de todas as famílias de Israel, e eles serão o meu povo. Assim diz o Senhor: ‘O povo que escapou da morte achou favor no deserto’. Quando Israel buscava descanso, o Senhor lhe apareceu no passado, dizendo: “Eu a amei com amor eterno; com amor leal a atrai. Eu a edificarei mais uma vez, ó virgem, Israel! Você será reconstruída! Mais uma vez você se enfeitará com guizos e sairá dançando com os que se alegram.” (Jeremias 31:1-4, grifo meu)

Deus prometeu a Israel que a amava, com amor eterno, e que a havia atraído para Si. E Ele fez isso por nós em Cristo, quando O deu para que com a morte dEle o amor do Pai por nós pudesse ser eterno. Querida, você crê nisso? Não se baseie em sentimentos que te dizem o contrário. Creia no que é a verdade, independente do que você sente. Como o Salmista, ordene sua alma a crer nisso:

“Bendiga ao Senhor a minha alma! Não esqueça de nenhuma de suas bênçãos! É ele que perdoa todos os seus pecados e cura todas as suas doenças, que resgata a sua vida da sepultura e o coroa de bondade e compaixão, (…) O Senhor é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor. Não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades. (…) Pois como os céus se elevam acima da terra, assim é grande o seu amor para com os que o temem; e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões.” (Salmo 103:2-12)

Releia esses versos. SEU AMOR É GRANDE. ELE AFASTA NOSSOS PECADOS. Releia. Confesse. Aceite. Chore e receba essa amor tão leal, tão real. É verdade, Jesus te ama! Independente do seu passado sexual. Quando Jesus morreu, Ele cravejou o teu pecado sexual nas Suas mãos. Está consumado. Você não precisa mais andar por aí se sentindo uma fruta amassada, Jesus te fez NOVA CRIATURA. Esse é o Evangelho!

Eu comecei a ter o hábito de escrever vez após vez, tanto na minha Bíblia quanto em meu diário espiritual, “Ele me ama”. É uma surpresa para mim toda vez que encontro versos que prometem isso, porque é difícil acreditar. Mas eu obrigo minha alma a crer, eu escrevo e suspiro, como que convencendo a mim mesma, “É possível! Ele me ama!”.

Creio que o Espírito em nós, que testifica da verdade, nos convence a cada dia do amor, de maneira que não duvidaremos por completo. Então confie nisso, ore e peça ao Senhor que te dê a cada novo dia uma certeza mais e mais plena do amor dEle por você.

Não mais prostitutas, somos filhas de Deus! Essa é nossa identidade eterna.

E quanto à pergunta da moça no Instagram, do começo da postagem, a resposta que dei por lá repito por aqui: “Não há mais condenação para os que estão em Cristo (cf. Rm 8:1). Simples assim. Não importa o que você fez no passado, está tudo perdoado e cravejado na Cruz de Cristo. Se um rapaz te condena onde Cristo te perdoa, corra e não olhe para trás.”

Um grande abraço de uma irmã que está na luta contigo,