É possível decidir ser uma pessoa disciplinada?

Sempre lutei com a disciplina. Por conta da ansiedade e por achar que já tinha muitos anos como cristã, vi-me em uma fase da minha vida onde eu acreditava que se eu praticasse as disciplinas espirituais quando “sentisse” que deveria, estaria sendo alimentada o suficiente pelo Senhor.

Claramente eu estava errada. Percebi isso quando me encontrei em meio a dificuldades que exigiam além das minhas próprias forças para serem superadas ou vencidas, e me vi com medo, insegura, sem conseguir trazer à memória o que me traz esperança. Qual era a minha esperança mesmo?

Era maravilhoso ter tempo para meus outros planos; eu me sentia extremamente produtiva e focava em minhas metas pessoais. Contudo, quando eu percebia que, diante desse universo tão grande, eu era apenas uma pequena criatura limitada, me desesperava ao pensar que estava longe do meu Criador, que não conseguia ouvi-Lo. A sensação de controle era um ídolo e eu precisei render isso aos pés da cruz.

Muitas vezes encaramos a disciplina com uma conotação negativa, como se fosse o contrário de liberdade ou espiritualidade. Nos sentimos forçadas a fazer algo como se fosse escola, faculdade, trabalho.

Eu sinto dizer, amigas, mas nós é que somos o problema. Nossa rebeldia e nossa falta de equilíbrio são encaradas como “normais” na sociedade. A exaustão está na moda e há uma certa vaidade e orgulho em dizermos que não temos tempo para nada.

Nossa disposição para sermos disciplinadas espiritualmente reflete nossa vontade em seguirmos os passos de Jesus. Devemos nos disciplinar para sermos aprendizes intencionais de Cristo. Para seguirmos a Ele e nos assemelharmos ao nosso Salvador, é necessário o compromisso com a Disciplina Espiritual.

“Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento.” (Mateus 22:36-38)

O que mais Deus quer de nós é nosso amor, e uma das formas pela qual ele deseja que demonstremos esse amor e obediência a Ele é por meio do entendimento, da nossa mente. Deus é glorificado quando usamos a mente que Ele criou para aprendermos sobre Ele e Seus caminhos.

De fato, irmãs, nosso amor pelo Senhor deve refletir entendimento. Para entender, precisamos estudar, ter nossos pés espirituais firmados na sabedoria bíblica. Em outras palavras, precisamos buscar a piedade por meio da prática das Disciplinas em gratidão pela graça que nos salvou, não como esforço de autopromoção ou autojustificação.

Donald S. Whitney em “Disciplinas Espirituais para a Vida Cristã” cita A.W. Tozer para o Christianity Today em 1987:

Precisamos admitir o fato de que muitos hoje vivem de maneira sabidamente descuidada. Esta forma de vida se infiltrou na igreja. Temos liberdade, dinheiro, vivemos em relativo luxo. Como resultado, a disciplina tem praticamente desaparecido. Como soaria um solo de violino se as cordas do instrumento do músico estivessem todas frouxas, sem firme estiramento, sem “disciplina”?

Pode até soar um pouco poético demais, mas qual som estamos emitindo? O que o mundo vê quando olha pros nossos dias? Será que é possível testemunharmos do Evangelho sem termos prazer na Palavrada Palavra ou sem vontade de estarmos com o Senhor em oração? Faz sentido isso?

Em verdade, quanto mais amamos a Deus, mais buscamos conhecê-Lo. Para estar no centro de nossos corações, Ele deve vir em primeiro lugar em nossas mentes. Primeiro pensamos, depois sentimos, depois fazemos.  Se não amarmos a Deus com uma mente em desenvolvimento, seremos como versões cristãs dos samaritanos a quem Jesus disse: Vós adorais o que não conheceis…” (Jo 4:22).

Mas então, como ter disciplina?

Vamos começar pelo básico. Responda para si mesma, minha irmã, por escrito a fim de que possa voltar a essas respostas sempre que cair ao longo da jornada:

·   Você entende que precisa de graça todos os dias? Por que?

·   Você está disposta a orar por graça todos os dias? Pode fazer da oração uma prioridade maior do que checar as suas notificações no celular?

·   Você está disposta a fazer o esforço para mudar seus hábitos? Quais hábitos você entende que precisa mudar em prol das disciplinas espirituais?

·   Você está disposta a tornar inválidas justificativas como falta de tempo, cansaço e vontade de fazer outras coisas?

·   Quando você irá começar?

Decida começar e persista, querida. Não há nenhum milagre que te faça acordar um dia e praticar todas as Disciplinas Espirituais. Entender quem você é e Quem Deus é dá início a uma jornada de humildade, rendição e dependência do Senhor.

No início vai ser difícil, porque não deixa de ser uma luta contra nossa carne, mas Deus efetua é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade (Filipenses 2:13).

Portanto, busquemos, em primeiro lugar, o reino e a sua justiça, e todas as demais coisas que necessitamos serão acrescentadas (Mateus 6:33).

Não recue nem abandone aquilo que decidiu fazer. Não faça nada de maneira afoita, atropelada, movida pelo sentimentalismo ou apenas pela emoção. Comece uma disciplina espiritual estando convencida de que precisa e quer, de fato, realizá-la.

As Disciplinas Espirituais não foram criadas para cristãos que têm tempo sobrando e uma rotina cheia de momentos de descanso. Pelo contrário, elas são o meio dado pelo Senhor através do qual os crentes ocupados se tornam como Cristo e encontram descanso nEle.

Vamos juntas, todas nós. Um dia de cada vez.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Fevereiro com o tema “Disciplinas Espirituais”. Para ler todos os posts clique AQUI.