E o momento devocional? Vai ter que ficar pra depois?

Não deu tempo… É sempre assim. Parece que está na moda dizermos que somos muito ocupadas, que não conseguimos separar um tempo para cumprir aquela meta que estabelecemos de passar mais tempo com a família, ou desenvolver aquele talento que temos.

Em todo o tempo somos reféns de influenciadores que nos aconselham sobre produtividade, sobre resultados e sobre como é normal vivermos esgotadas e trabalharmos sem descanso. Já encaramos a falta de tempo como uma normalidade em nossas rotinas e já aceitamos deixar sempre para depois aquelas tarefas que não nos são cobradas de imediato, priorizando aquele prazo da faculdade ou aquela proposta do trabalho.

Acordamos em cima da hora – porque gastamos nossas horas de sono com outras atividades na noite anterior, não comemos direito, não conversamos em paz com as pessoas à nossa volta e saímos de casa – ou começamos a jornada no lar, no mesmo ritmo frenético diário.

Eu poderia aqui apontar diversas esferas que são prejudicadas com esse comportamento equivocado, mas hoje quero focar no que acredito ser uma das mais graves: o momento devocional.

Eu não quero julgar as dificuldades de ninguém, queridas, nem tampouco dizer aqui que sou perfeita e que consigo lidar muito bem com essa questão todos os dias da minha vida. Mas, em amor, preciso trazer essa confrontação para que nós, como igreja, possamos amadurecer no Senhor e conhecê-lo, de fato.

Por favor, reflitam nesses questionamentos:

– Quantas vezes você ora por dia?
– Você consegue ler a Bíblia quantas vezes na semana?
– Você lê a sua Bíblia já na cama e não consegue compreender direito o que leu?
– Sua oração “termina” no meio porque você acaba dormindo?
– Você realmente ora pelos pedidos de oração que são feitos a você?
– O que tem ocupado a sua mente?

O conhecimento da Palavra não é apenas para nosso próprio benefício, nem tampouco o nosso relacionamento com o Senhor. Através da maturidade cristã e de uma maior compreensão das Escrituras, podemos fortalecer outros irmãos da fé, podemos ser bênçãos em suas vidas e podemos dar verdadeiros frutos para o Reino, afinal, segundo a pregação que ouvi neste último domingo na minha igreja, os convertidos proclamam o evangelho porque conhecem o que creem.

Por que eu iria querer proclamar algo para alguém se nem mesmo eu entendo do que se trata? Não tem como falarmos de algo com propriedade sem o devido conhecimento. A vida cristã não é apenas fazer o bem ou cumprir moralmente nossas obrigações perante a sociedade. De fato, o mundo vai nos odiar (João 15:18-19) e precisamos estar preparadas pra isso.

Queridas, como já tratamos aqui no Graça em posts anteriores, estamos cada dia mais cercadas de conteúdo superficial e mensagens rápidas de autoajuda e consolo momentâneo. Contudo, nada disso pode substituir o seu momento com o Senhor, de estudo e meditação em Sua Palavra, na integralidade. É isso que transforma vidas. As vidas dos outros e a nossa.

Poderia usar este texto para relembrá-las de métodos para o momento devocional e incentivá-las quanto ao uso de cronogramas de leitura, cadernos e um ambiente adequado. Mas acredito que tudo isso perde o sentido se não entendermos primeiramente a seriedade desse tempo separado, a dimensão desse privilégio e as implicações que tal prática (ou a ausência dela) pode trazer para nós.

Infelizmente, a falta de vontade de nos alimentarmos das Sagradas Letras – digo desta forma porque se quiséssemos verdadeiramente priorizar o momento devocional, conseguiríamos – acarreta, consequentemente, um abatimento espiritual.

A supressão da comunhão com o Senhor pode nos afastar da santidade, da evangelização, da comunidade, do amadurecimento espiritual e, pior, pode preencher o nosso coração com achismos e dar espaço para ideologias que não condizem com a fé que confessamos ter. Como se não fosse suficiente, tal comportamento pode também evidenciar pecados ocultos, como a preguiça ou a idolatria por outras coisas como o trabalho, os estudos, as redes sociais, por exemplo.

Queridas, essa situação deve ser pra nós desesperadora! Como assim não sentimos vontade de estar com nosso Pai? Como assim a Sua santa e maravilhosa Palavra não nos atrai? Como assim preferimos fazer outras coisas?

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. (Mateus 6:19-21)

Em tempo, o Salmo 1 nos ensina que bem-aventurado é o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite (v. 1-2).

Será que nossas inseguranças e nossas ansiedades não estão sendo fruto de uma vida longe da Palavra do Senhor? Será que nos deixamos dominar pelo mundo e suas mentiras porque não estamos com nossas mentes cativas a Cristo? Será que nos esquecemos das promessas de Deus pra nós e estamos sucumbindo a um estilo de vida totalmente sem propósito?

Será que nos esquecemos das promessas de Deus pra nós e estamos sucumbindo a um estilo de vida totalmente sem propósito? Click To Tweet

O quão felizes seríamos se andássemos mais com nosso Pai!

Amigas, não fomos feitas para definharmos espiritualmente. Precisarmos ser sábias. Precisamos gravar o evangelho em nossos corações e mentes. Precisamos estar preparadas para responder a quem quer que seja sobre a razão de nossa esperança (cf. 1 Pe 3:15).

Somos tão afortunadas por termos a Bíblia à nossa disposição! Quantas de nossas irmãs ao redor do mundo sonham com este privilégio!

Pensem bem: se a Palavra do nosso Deus é luz para nossos caminhos e a deixamos de lado, estaríamos então andando na escuridão? Sabemos de fato para onde estamos indo?

Trata-se de um simples hábito diário que pode mudar completamente nossas vidas.

Que possamos vencer nossos pecados e clamar a Deus por nossas almas, por nosso domínio próprio. Que possamos sentir fome de Cristo e priorizá-lo em meio à confusão de nossos compromissos porque Ele é a nossa paz.

O Pastor Kevin DeYoung postou recentemente em uma de suas redes sociais a seguinte frase e acho que sintetiza bem o que estou tentando articular aqui:

“O que você mais precisa é de Jesus. Você pode precisar dormir, pode precisar de um emprego, pode precisar de um amigo, pode precisar de receita médica, pode precisar de tudo isso, mas o que mais precisa é de Jesus”.

Vamos perseguir aquilo (Aquele) que mais precisamos, irmãs. Todos os dias.