
Dizendo adeus a algo que amamos
Artigo escrito originalmente por Glynnis Whitwer, e publicado aqui.
Traduzido, com permissão, por Francine Veríssimo.
Minha amiga Cheri me entregou o bebê chorando, seus olhinhos inchados, seu chorinho virando suspiros. Em alguns segundos Robbie se acalmou enquanto eu o apertava e beijava seu rostinho doce.
Abracei minha amiga e a agradeci outra vez por cuidar do Robbie enquanto eu voltava a trabalhar por meio período. Outra vez, meu filho recusou a mamadeira e chorou constantemente. Nós duas sabíamos que isso não ia dar certo.
Forçando um sorriso, eu virei rápido para que ela não visse minhas lágrimas. Quando eu cheguei no carro, eu não consegui segurá-las mais. Segurando meu filho, eu sentei no banco do motorista, coloquei minha cabeça no volante e chorei.
Ele era meu terceiro filho, então eu pensei já tinha compreendido essa coisa toda de ser mãe. Exceto que Robbie não tinha a mesma personalidade ou necessidades de seus irmãos mais velhos. Eles mamavam sempre, com qualquer um. Mas, essa criança tinha uma conexão única comigo.
E não somente isso, mas a gente não podia só sentar juntos; eu tinha que estar andando com ele e ninando ele. Se aquele menino estava acordado, ele precisava do meu toque e precisava estar se movendo, ou começava a chorar.
Minha vida mudou dramaticamente com o nascimento do meu terceiro filho. Como resultado eu fiz a difícil escolha de desistir de muitas coisas que eu gostava: meu trabalho de meio período, liderar o Ministério Infantil e liderar um grupo de estudos da Bíblia, pra citar alguns exemplos.
A maior parte dos meus dias parecia triste e o mundo parecia passar enquanto eu não fazia nada.
A parte legal do meu dia era comprar uma dúzia de donuts e uma Coca diet e ir para a casa da minha amiga Cheri. Ela era a única amiga que podia tolerar minhas três crianças agitadas. E ela também entendia que a Coca diet balanceava as calorias dos donuts. Uma amiga perfeita!
Eu amava aqueles meninos demais. E nenhum dia se passava sem que eu agradecesse a Deus por eles. Mas, eu ficava triste pelo que eu tinha deixado para trás, e essa tristeza afetou a alegria do meu presente.
Eu sentia falta de ter uma posição de autoridade no trabalho. Eu queria aquele sentimento de completude. Infelizmente, eu pensei que meu “ministério” fosse fora do meu lar, e me perguntei quando Deus me usaria novamente.
Felizmente Deus interviu de uma forma dramática, e eu entendi e passei a apreciar o chamado e o preço da maternidade.
Deus mudou meu coração e minhas prioridades, e as recompensas, quando colocadas na balança, valiam muito mais que os sacrifícios. Mas ainda era difícil.
Recentemente, Deus me relembrou desses momentos difíceis enquanto eu lia 1 Crônicas 28 e 29.
Nesses capítulos o rei Davi passa sua coroa e a tarefa de construir o templo do Senhor a seu filho, Salomão. Nessa decisão, Davi abriu mão de sua posição, autoridade, respeito e propósito.
Davi reclamou? Ele comprou donuts e refrigerante diet e foi se encontrar com um amigo? Não. A Bíblia diz que Davi “louvou ao Senhor na presença de toda a congregação” (1 Crônicas 29:10).
O que acontece depois disso é uma das orações mais lindas e humildes de toda a Bíblia. As ações graciosas de Davi de adoração a Deus inspiraram e moveram os corações do povo judeu.
Depois de orar, a Escritura nos diz que Davi convidou o povo para adorar a Deus: “Então toda a congregação louvou ao Senhor Deus de seus pais, e inclinaram-se, e prostraram-se perante o Senhor, e o rei” (1 Crônicas 29:20).
Que contraste vívido entre a resposta do rei Davi e a nossa quando temos que abrir mão de algo que amamos. Davi não se segurou firmemente ao passado; ele abriu suas mãos e coração para abraçar o que Deus estava fazendo no presente.
Eu não posso voltar a aqueles anos, mas com a ajuda de Deus e o exemplo de Davi eu posso mudar como responderei no futuro.
Davi tinha cultivado uma vida de louvor, então quando ele enfrentava perdas, esse hábito refletia em sua resposta. A confiança de Davi em Deus era tão grande que ele ajudou com alegria os outros que iriam construir o templo que ele queria ter construído.
Como eu passei por isso pessoalmente, eu tenho descoberto que louvar a Deus está no centro do contentamento. Enquanto nós o louvamos, nós achamos segurança de que Ele está no controle das coisas… Mesmo de bebês que choram inconsolavelmente e de nossa necessidade de significação.
E é lá, em saber que Deus nos vê e não nos esquece, que achamos paz.
Lá, em saber que Deus nos vê e não nos esquece, que achamos paz. Click To TweetE é lá, nas noites de andar pela casa com o bebê no colo, que eu acho meu propósito.
Estou em outra fase da vida agora, mas ainda tenho que dizer “adeus” a muitas coisas que eu amo. Aquele “menininho” se muda para fazer faculdade mês que vem, e eu estou orando por uma atitude como a do rei Davi – cheia de louvor, graça e generosidade.
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Esse texto trouxe uma perspectiva interessante a um assunto que sempre mexe comigo: as mudanças e sacrifícios que fazemos em diferentes fases da vida. Eu fico pensando no meu futuro, se um dia me casar, terei que deixar minha cidade, minha família, e ir para outro lugar distante. E essa moça do texto viveu o momento de sacrificar um emprego pela maternidade. E você? Já teve que sacrificar uma coisa para ganhar outra? Me conta nos comentários!
Em Cristo,
8 Comments
Oi, Fran,
esse texto me lembra da relutância em abrir mão da minha profissão por questões de saúde. É difícil demais pra mim. Na verdade, não abri mão, mas estou impossibilitada, por orientação médica, de voltar para uma sala de aula. Algo que amo e faço há mais de 10 anos. (O impedimento: Calos nas cordas vocais que já me afastaram umas cinco vezes da sala de aula e me levaram ao mesmo número de fonoaudiólogas). Isso inclui também a proibição de cantar, outra coisa que amo fazer.
Venho tentando aceitar e buscando em Deus forças para continuar servindo-o com mais amor e dedicação. Nesse período, não consigo explicar como Ele tem me moldado, como tenho amadurecido no processo da perda (sei que pode não ser definitiva, pois creio no poder do Deus que sirvo) e a consciência de que há algo maior por trás de tudo isso.
Tenho aprendido preciosidades que, se não fosse o processo de aperfeiçoamento, talvez estivesse no mesmo nível – e me faz perceber o quanto ainda tenho a avançar. Isso me faz louvar a Deus pela sua bondade. Sim, pois Ele me mostrou que o que tem pra mim vai muito além daquilo que sonhei, planejei, estudei. Me leva a pensar também no real motivo de servi-lo: por amor ou em busca de interesses pessoais?
Assim, posso dizer como o salmista: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos.” (Salmos 119. 71)
Não posso dizer que tem sido fácil ou que consigo sempre lidar bem com a situação, mas posso gradecer a Deus pela forma como tenho sido tratada.
Espero que tenha sido clara, são informações demais pra poucas palavras. Tentei resumir um pouco a minha história. Nem sei se tem muito a ver com o texto, mas resolvi deixar aqui essa experiência. Pode ser que ajude alguém a passar por processos parecidos com o dessa mãe que lutava entre a carreira profissional e a maternidade, ou como eu, que luta entre apenas realizar sonhos ou se deixar guiar pela vontade de Deus.
Fique na paz de Jesus!
Querida Joselma,
sempre que vocês compartilham suas histórias e seus corações por aqui o meu coração se alegra muito, porque esse é o objetivo desse blog: que possamos nos suportar, nos ajudar, nos amar. E eu sei como pode ser difícil abrir seu coração e compartilhar sua história, então sou grata.
Sua história me lembra muito de momentos de minha vida também quando perdi coisas que amava muito, mas senti uma paz tremenda, percebendo que não era Deus tirando, mas Deus mostrando que Ele é tudo que preciso. Ele nos ama tanto que, por vezes, vai nos tirar o que nos afasta dEle. Meu namorado tem uma música que diz “se eu ficar distraído, me coloque em um rio e lave tudo que não é Você”, e eu acho que essa frase é incrível. Temos que ter essa coragem de dizer, “Senhor, se nós estivermos distraídos, se a vida parecer mais preciosa do que deveria ser, nos lave e tire tudo que nos afasta de Ti e de depender e amar a Ti completamente, mesmo que isso signifique tirar coisas que amamos.” E isso é tão difícil!
Espero que você continue aprendendo dessa experiência e que no final você dê glórias ao nome dEle, falando como Jó, “O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor.” (Jó 1:21)
Em Cristo,
Fran
Amém! Realmente, não é fácil me abrir, pois sempre resisto a isso (gosto de discrição), mas quando se trata de compartilhar experiências (aprendi aqui no Graça em Flor) o fazemos no sentido de nos ajudar.
Estou lendo, pela 3ª vez, o livro Moisés, um homem dedicado e generoso, de Charles Swindoll e me lembrei de você que gosta desse personagem bíblico. Um livro que me leva às lágrimas. Fala exatamente sobre o abrir mão de nossas vontades para andar com Deus através dos desertos da vida. E tem me ajudado bastante nesse processo. A cada lida, Deus conforta meu coração de maneira inexplicável.
Por falar nisso, o recomendo se você ainda não o conhece.
Agradeço a Deus e o louvo pelos desertos que tenho enfrentado e por esse oásis aqui, onde encontro sempre refúgio. Que Deus te abençoe!
Outra vez fiquei super feliz em ler isso. Saber que você tem aprendido aqui a importância de ser vulnerável e se abrir… Que alegria!
Permaneça firme em seu propósito de encontrar sua felicidade nEle, mesmo em meio aos desertos, querida.
E muito obrigada pela indicação! Realmente Moisés é um dos meus personagens favorito da Bíblia!
Em Cristo,
Fran
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