Digno de Adoração (Sobre o Ministério de Música)

Quando lemos a Bíblia, percebemos que o primeiro registro relativo à música está em Gênesis 4.21, quando lemos que foi um descendente de Caim, chamado Jubal, que foi considerado antepassado de todos os músicos que tocavam harpa e flauta. É bem intrigante, mas por meio da graça comum o dom da música manifestou-se na linhagem daquele que se afastou do Senhor e, tão intrigante quanto o seu surgimento, é o poder que essa arte exerce sobre a humanidade ainda hoje, seja para o bem ou para o mal.

Estamos cercados por muitos sons, desde os ruídos e os barulhos de uma cidade amanhecendo até ao cantar de alguém pela rua e o dedilhar de um teclado ou violão, porém a música só pode ser encontrada em uma disposição ordenada de sons que visam comunicar uma mensagem, portanto, existem sons musicais e sons não musicais.

A música é uma linguagem que possui notação própria e é diferente do que escrevemos ou falamos, é um idioma que transcende as barreiras visíveis da existência e tocam nossos sentimentos, nossa alma, provocando efeitos em nossa mente e comportamento. Ela possui três partes fundamentais: melodia, harmonia e ritmo. A melodia é quem dá o tema por meio do qual identificamos a música que é formada pelos sons tocados sucessivamente; a harmonia é a reunião de vários sons diferentes tocados em conjunto, como em uma orquestra; e o ritmo estabelece o tempo em que cada som deverá ser executado.

Segundo o médico, Ricardo Ghelman, em entrevista à Rádio EBC (Empresa Brasil de Comunicação), a audição é o sentido que predomina durante a gestação — as primeiras melodias que escutamos e com as quais nos conectamos de forma singular são com as das batidas do coração e a do timbre da voz de nossas mães. Desde a nossa formação somos envolvidos pelos sons que formam a música… mas qual seria o propósito final da música, principalmente para nós, a Igreja?

Nesta série de textos com o tema Serviço, somos chamados a refletir sobre nossa função enquanto Corpo e percebemos que há uma grande necessidade de encorajamento mútuo entre os membros da Igreja para que todos possam crescer na graça e no conhecimento de Cristo. A música é um meio de serviço na Igreja que prepara nossos corações e mentes para ouvirmos a pregação da Palavra, ela é o prelúdio necessário nos anunciando graça e verdade com o objetivo de nos conectar ao Deus Trino.

Sendo a música fruto da graça comum de Deus, assim como tantas coisas belas que ele nos deu, a queda também a afetou drasticamente. Em nossa contemporaneidade ela foi levada a uma dissonância tal capaz de despertar os comportamentos mais degradantes no ser humano, um verdadeiro enaltecimento à depravação total; porém, nós, cristãos, somos chamados a atuar nessa esfera lembrando à humanidade o verdadeiro propósito da música: conexão e maravilhamento.

Enquanto Igreja, sabemos que a música também é uma forma de adoração que compreende em louvar, enaltecer, elogiar, exaltar, bendizer, ao Senhor Deus Todo-Poderoso. Por meio de sons bem ordenados podemos estabelecer uma repetição que cria um padrão para que possamos lembrar da melodia e da letra cantada, fixando em nossas memórias as eternas Palavras de Deus que estão na Bíblia Sagrada, afinal, a mente humana foi criada para aprender e formar hábitos para o seu melhor desenvolvimento, trazendo ordem às forças caóticas que ainda operam em nós por causa da queda.

O Livro dos Salmos é uma coletânea de músicas em adoração e clamor ao Senhor, e temos neste livro modelos de como devemos louvá-Lo, principalmente enaltecendo seus atributos. Cantar ao Senhor em Igreja é também aprender sobre Ele, é trazer edificação e encorajamento, alegria e alento aos corações sobrecarregados, é festejar com nossa comunidade local a alegria de sermos eternamente, em Cristo, filhos do amor de Deus. Portanto, a adoração não é algo apenas individual, mas deve ser feita em conjunto.

Se nossa missão enquanto igreja no mundo é trazer luz sobre a depravação nas músicas compostas pelo os que estão em trevas, internamente, entre o Corpo, precisamos buscar por humildade e serviço. Vivemos a era do egocentrismo e muitos “louvores” parecem, em seu bojo, tirar a glória que é devida ao Rei dos reis, tornando a adoração agradável apenas ao ser humano. Para além das questões sobre o princípio regulador do culto e os embates entre cristãos tradicionais e modernos sobre qual seria o padrão de música ideal para o ambiente de culto, precisamos entender que o melhor caminho para uma adoração genuína é o do equilíbrio tendo como base o temor do Senhor.

Quando lemos Apocalipse 4 e 5 nos deparamos com aquela magnífica visão da sala do Trono de Deus e do Cordeiro digno de abrir os selos, e somos levados àquele caleidoscópio de imagens com Deus cercado por um arco de glória seguido de quatro seres celestiais, vinte e quatro anciãos, miríades e miríades de anjos e depois por toda criação no universo cantando: “Louvor e honra, glória e poder pertencem àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro para todo o sempre!” (Ap 5.13). Cientes desse louvor incessante (Ap 4.8) entendemos que, por meio da música, “a adoração é a resposta apropriada da criatura ao Criador. A adoração não cria algo novo; ao contrário, é uma resposta transparente ao que é um reconhecimento do nosso status de criatura diante do próprio Criador” (Mark Ashton, livro Louvor, Editora Vida Melhor).

Que o tema principal de nossa vida, a melodia fundamental da nossa alma, seja Deus Todo-Poderoso, assentado em seu trono e reinando soberanamente em nossos corações e que como Igreja possamos ser a harmonia de vários sons diferentes, mas em plena consonância no propósito de proclamar o Evangelho tornando o Senhor conhecido neste mundo caído. Oro para que sejamos gerados em Cristo e continuamente transformados por meio da conexão com a voz do Bom Pastor e que sejamos tomados de maravilhamento diante do Criador de todas as coisas. Que nosso louvor ao Senhor ressoe por toda a Terra!   


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Abril com o tema “Serviço”. Para ler todos os posts clique AQUI.