Deus me abandonou?

Durante quase dez anos da minha vida eu me afastei de Deus. Parei de frequentar a igreja em que eu estava desde quando nasci e como consequência disso, abandonei a fé. Já não orava como antes e nem lia mais a Bíblia. Foi como se eu tivesse guardado Deus dentro de uma caixa e O colocado em cima do guarda-roupa. Foi uma época em que parecia que minhas orações eram frias e que não tinham força para chegar até o céu.

Em um desses momentos, eu cheguei a pensar que meus pecados eram tantos que Deus não se importava mais comigo. Esqueci do amor dEle, esqueci do evangelho e esqueci da mensagem da Cruz. Eu sentia que Deus estava distante.

Você pode estar exclamando enquanto lê: “Mas Deus nunca nos abandona!” E é exatamente isso que está escrito em Hebreus 13:5 ” … Nunca o deixarei, nunca o abandonarei”. Mas também está escrito em Isaías 45:15 que Deus se esconde. Agora eu entendo que o Senhor estava oculto e não me abandonando. Mas naqueles anos, o sentimento era de total desespero. O silêncio de Deus gritava forte em minha vida.

Assim como Jó, Davi e o próprio Jesus Cristo, que em um momento de dor e sofrimento exclamou na cruz: “Deus meu, por que me desamparaste?”, eu implorava e clamava para Deus voltar a me ouvir! E a confusão na minha cabeça era enorme: ora achava que Deus tinha se esquecido de mim por causa de meus pecados, ora eu achava que Deus estava me castigando por ter saído da igreja. Não via saída para a minha aflição.

Nesse meio tempo, meu amado pai ficou muito doente e aí as coisas começaram a piorar. Porque adorar a Deus na bonança é fácil, mas na provação (nesse caso na doença) é complicado. O sentimento de revolta contra o SENHOR estava sempre presente na minha vida. Eu não tinha maturidade espiritual na época para lidar com essa distância de Deus. Cada vez mais a saúde do meu pai se agravava a ponto dos médicos dizerem para minha família que ele era uma “bomba-relógio” e a qualquer momento morreria. Ver meu pai definhando, perdendo as forças, não foi fácil. E eu achava que orar não faria sentido. Eu estava distante de Deus e Ele de mim. Por que Ele atenderia um pedido meu? A adoração que eu havia aprendido na infância e juventude dentro da igreja não fazia mais parte da minha vida. O entendimento de que eu devia me render e ficar aos pés da cruz, apesar da provação, não estava presente em meu coração.

Minhas irmãs, não estou duvidando da onipresença de Deus, mas estou dizendo que esse afastamento dEle existe e talvez alguma vez você irá sentir isso. Apesar desses sentimentos tristes e confusos, sua confiança no Pai durante a Sua obscuridade, demonstra o quão verdadeira é sua devoção e adoração à Ele. Deus nos mostra no livro de Jó que esse abandono que sentimos não tem nada a ver com nosso pecado, mas é um teste para ver se nossa fé não se abalará.

No dia 28 de outubro de 2015 o SENHOR levou meu pai para o Céu. Recebi a notícia de uma querida amiga que disse da maneira mais doce possível: “Seu pai foi morar com Deus”. Essas foram as palavras dela. Eu estava esperando pelo momento em que eu seria avisada da morte de meu pai por quase seis anos, que foi o tempo que meu pai fez a temida hemodiálise. Eu imaginava que reagiria de uma maneira diferente da que reagi. Eu me via gritando, esperneando, xingando todos e chorando em total desespero. Mas não foi assim que aconteceu.

O choro veio fácil naquela hora e permaneceu até eu ir ao hospital. Ver meu pai sem vida foi muito triste. A tristeza estava ali, mas o desespero e a revolta não. Durante todas aquelas horas no funeral foi que eu percebi que Deus estava ali, presente aquele tempo todo. Deus, em sua perfeição, levou meu pai no momento certo. Morrendo de uma maneira súbita e sem sofrer, diferente do que era de se esperar por causa de sua grave doença.

Queridas irmãs, o que eu escreverei aqui nesse parágrafo foi um tremendo choque em minha vida. Aquele Deus guardado dentro da caixa em cima do guarda-roupa esteve todo aquele tempo preparando um presente para mim. Esse presente foi mais uma demonstração do amor dEle por mim. E foi no momento onde eu achei por vários anos que eu ficaria fora de mim, desesperada, aflita, sem esperança nenhuma, foi naquele dia que eu mais senti a presença de Deus em minha vida. Senti como se o meu Pai celeste tivesse comigo no colo o tempo todo enquanto o meu pai terrestre não podia mais fazê-lo. E então veio um sentimento que nunca nenhum homem entenderá: “a Paz que excede todo o entendimento” (Filipenses 4:7). Irmãs, como aquele sentimento de desespero que eu esperava sentir se transformou em uma Paz, que eu não posso explicar para vocês. É realmente algo que não veio de mim, mas veio de Deus.

Por isso amadas, nunca ache que você não está na presença de Deus. Ele é amoroso o suficiente para te proteger mesmo que você tenha o deixado de lado e mesmo se em algum tempo da sua vida você se esqueceu dEle e o colocou em uma caixa. Pela graça somos chamadas de volta a confiar e depender de Seu amor. Deus jamais te esquecerá.