Deus me livre de ser uma influencer

Um amigo me enviou o link de um vídeo que me estremeceu enquanto assisti. Nele um famoso pastor de uma mega-igreja dos Estados Unidos apresentava uma mulher que iria pregar. Em sua introdução à pregadora o nome de Deus não é citado nenhuma vez, mas o nome da mulher é engrandecido ao ponto do pastor dizer coisas como, “eu não sei o que vocês fizeram [para merecer] essa pessoa pregando aqui, mas deve ter sido algo muito bom!” e “ela é a maior pregadora da Bíblia dos tempos atuais”. Quando a pregadora então entra, a igreja toda se coloca de pé, em aplausos, gritos e eu ousaria dizer, adoração.

Esse vídeo estremeceu minha alma, porque me lembrou do verso que encontramos em Isaías 42:8,

“Eu sou o Senhor; esse é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor.”

Me perguntei então que tipo de Deus essas pessoas pensam estar servindo. Será que se esqueceram quem é Esse que dizem anunciar? Que Bíblia é essa que “a maior pregadora dos tempos atuais” tem lido?

Eu não quero apontar dedos, e até por isso não nomeio de quem estou falando. Não quero apontar dedos porque minha alma estremeceu por eles, mas mais do que tudo, por mim. A internet é uma coisa curiosa. Hoje em dia nós vemos pessoas que fazem milhões de reais por simplesmente tirarem fotos e as postarem em redes sociais; ou por fazerem vídeos mostrando sua rotina ou suas viagens. E nessa época interessante em que vivemos a Igreja, estando inserida no mundo ainda que não pertencendo a ele, não consegue se esquivar de tal influência.

Infelizmente temos visto pessoas cristãs que, pelo que percebo, devem estar fazendo também montanhas de dinheiro através de sua presença online. E não estou aqui falando daqueles que criam conteúdo bíblico e o vendem. Eu creio que “digno é o trabalhador de seu salário” (cf. Lc. 10:7), e ninguém ousaria argumentar que Timothy Keller não deva receber dinheiro por seus livros; ou seminários online por suas vídeo-aulas.

Não, eu estou falando da “cultura de celebridade” que está invadindo o “universo cristão”, onde nomes têm crescido e pessoas estão sendo tratadas como famosas. Encontramos essas pessoas em congressos e conferências e preferimos tirar uma selfie com elas a pedir pela oportunidade de sentar e conversar, como dois irmãos na fé, iguais aos pés da Cruz. E sim, isso já acontecia há décadas com cantores e pregadores, mas com a internet agora vemos acontecer com qualquer um.

E é aqui que minha alma estremece. “O Senhor não divide sua glória” eu leio na Palavra, e “Francine, sou sua fã” nos comentários do YouTube.

Ah irmãos, quando foi que nos esquecemos de Quem servimos? Onde foi que perdemos o foco?

Por que é que levantamos de manhã? É para ter um dia incrível cheio de maquiagens caras e bons “Frapuccinos” de cafeterias famosas, ou é para a luta por almas para um Reino que nunca passará? Quando foi que perdemos nosso alvo, quando esfriou nosso primeiro amor? Estamos nós tão distraídos com cores e plumas que esquecemos do campo de batalha, da guerra ao nosso redor?

É com a alma estremecida que eu peço: queridos amigos, queridos irmãos, lembremo-nos de quem somos, do porquê de estarmos aqui. Nenhum de nós é “influência”, nós somos todos vasos de barro. Barro. Não glitter, não porcelana cara. Barro.

Nenhum de nós é 'influência', nós somos todos vasos de barro. Barro. Não glitter, não porcelana cara. Barro. Click To Tweet

Os crentes dos países perseguidos oram por nós. Por nós. Em nossa vida confortável, em nossos carros abastecidos, em nossas casas aquecidas, de barriga cheia. Quando eles ouvem dizer que temos orado por eles, para que a perseguição pare, eles respondem “não o façam!”. Eles não querem uma vida confortável, eles oram por nós! Pedem que Deus tenha misericórdia desses Seus servos cegos vivendo à mercê da cultura popular, esquecendo da batalha. Esquecendo do eterno. Esses preciosos irmãos que estão morrendo todos os dias entenderam a Cruz. Nosso Mestre se humilhou ao ponto de morte, e morte de cruz, e de alguma forma aqui estamos nós, nos exaltando e exaltando nossos irmãos.

Que monstruosa realidade. Que horrível distorção do que Cristo pregou.

Cremos em Deus? Realmente cremos em Deus?

Então ouçamos o que Ele disse: “Este povo ímpio, que se recusa a ouvir as minhas palavras, que age segundo a dureza de seus corações, seguindo outros deuses para prestar-lhes culto e adorá-los, que este povo seja como aquele cinto: completamente inútil! (Jeremias 13:10, grifo meu).

Completamente inútil é o que temos sido. A guerra lá fora, e nós aqui do lado de dentro, agarrados ao Instagram, curtindo a realidade inventada que outros postam. Pasmem, ao ponto de idolatrar até mesmo nossos irmãos e irmãs!

Queridos, o que estou dizendo, enfim? Abandonemos nossas redes sociais, “demonizemos” a internet, culpemos a ela por todos os nossos males? Não. Longe de mim. A internet é, como todo o resto, um campo, um instrumento. Precisamos ir até ela, usar de suas possibilidades, assim como os reformadores usaram a máquina de impressão, novidade da época, para disseminar a Verdade.

Mas ah, que Deus nos impeça de usarmos a internet para criarmos deuses e ídolos mascarados atrás de uma fachada de “influencers de Jesus”.

Eu tenho pessoas da fé que admiro. Pessoas cuja coragem me ajuda a prosseguir, cujo exemplo eu sigo, cujos passos eu procuro imitar. Mas jamais quero colocar essas pessoas em um trono, como se fossem monarcas do meu coração. Eles não são meu maior exemplo, minha inspiração, minha influência. Eles são meus irmãos amados em Cristo, tão falhos quanto eu, que seguiram a Jesus e ponderaram o custo de carregar suas cruzes, considerando que o sacrifício valia a pena afinal.

Ah, que o nome grande, precioso, eterno e único de Jesus Cristo seja o único exaltado em nossas bocas, em nossos corações, em nossos posts, em nossos vídeos, em nossos blogs, em nossos perfis.

A Bíblia diz que Deus tem misericórdia de nós, humanos, por lembrar que somos pó (cf. Sl. 103:14). E, por amor dEle irmãos, por favor, que nós nos lembremos do mesmo.

Em Cristo,
sua amiga e serva,