Deus Em Uma Manjedoura (Sobre o Nascimento de Cristo)

O nascimento de um bebê é por si só um evento milagroso. Uma mulher abrigando em seu finito e limitado corpo uma alma eterna! O mistério da vida gerada no ventre é algo terrivelmente maravilhoso, desde a concepção até o nascimento. Mas, desde o primeiro nascimento, nunca houve um nascimento tão maravilhoso como no dia em que irrompeu na escuridão da noite em Belém aquele que é a Luz dos Homens. Toda vez que contemplo o nascimento de um bebê, lembro em meu coração que o próprio Deus foi um bebê, e isso me deixa extasiada.

Jesus Cristo, aquele que é a Palavra, que estava com o Pai no princípio, e era o próprio Deus, aquele por meio de quem todas as coisas foram criadas e sem ele nada do que existe teria sido feito, aquele em quem estava a vida e esta vida era a luz dos homens, a luz que brilhou nas trevas e as trevas não a derrotaram, aquele sobre quem dizem as Escrituras de Gênesis até Apocalipse, o Sol da Justiça que se levantaria trazendo cura em suas vestes, aquele que seria Rei para sempre e reinaria com justiça e verdade, aquele que seria o verdadeiro Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, a Palavra encarnada que criou o mundo, aquele que seria o sacrifício definitivo pelo povo de Deus, aquele que limparia todo o pecado do mundo, aquele que restauraria a comunhão entre o Criador e a criatura, a santa semente que esmagaria a cabeça da serpente, aquele que aniquilou a morte morrendo na cruz, aquele que garantiu a vida eterna ao ressuscitar no terceiro dia, a imagem do Deus invisível, o esplendor da glória do Pai — foi um bebê. Jesus Cristo, o Salvador, o próprio Deus, foi um bebê. Isso não é maravilhoso?

Sem lugar para Deus

Deus poderia ter nos salvado de qualquer forma que ele bem entendesse. Poderia apenas por pensamento ordenar a redenção do homem e tudo estaria feito. Mas eu não me lembro de nenhum feito do Senhor que não tenha sido extraordinário. A bondade de Deus e a humildade do Filho são atributos gloriosos demais para nossa compreensão. O Herdeiro de todas as coisas assumiu a natureza humana da forma mais humilhante que poderia fazer. Da forma mais improvável. Da forma mais extraordinária.

Depois de anos de silêncio da parte de Deus, numa vila obscura da Galileia, chamada Nazaré, um anjo visita uma jovem virgem, pobre e prestes a se casar para anunciar que esta cumpriria a profecia de Isaías: Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel (Isaías 7:14 – ARA). Ele poderia ter escolhido a filha de algum escriba. Poderia ter escolhido uma mulher com posição social mais elevada. Poderia ter escolhido qualquer filha de um grande poderoso daquele tempo. Mas a mulher que recebeu a honra de se tornar a mãe do Senhor era uma serva humilde. Nada em sua vida era grandioso ou glamuroso. Mas a beleza da providência de Deus se revela nas coisas improváveis. O Primeiro Advento do Messias foi revestido de humilhação, desde a sua concepção e o seu nascimento.

Quando olhamos para os relatos do nascimento do Senhor Jesus, podemos firmar nossa alma no fato confortador de que o tempo, a vida, e todas as coisas estão nas fortes mãos do Senhor. Ele sabe sempre qual é a melhor ocasião para enviar socorro ao seu povo. Cuidemos para que não sejamos dominadas pela ansiedade sobre o que acontece à nossa volta, como se soubéssemos melhor do que o Rei dos reis qual é a melhor época para termos alívio.

Jesus não nasceu em Nazaré, nem na Galileia. Como cumprimento da profecia de Miquéias (Miquéias 5:2), o Salvador nasceu em Belém. A terra onde um dia faltou pão (Rute 1),  foi contemplada com o nascimento daquele que é o Pão da Vida. Nossos corações podem encontrar conforto ao se lembrar do governo providencial que o Senhor Jesus exerce neste mundo, mesmo nos momentos mais improváveis.

Em Belém, numa noite escura, Maria trouxe a este lado da eternidade o bebê Jesus, Deus conosco agora é uma pessoa. Jesus não nasceu sob o teto da casa de sua mãe, mas num lugar estranho. Não foi colocado num berço cuidadosamente preparado por um exímio carpinteiro. Maria o deitou em uma manjedoura porque não havia lugar para ele na hospedaria.

Toda majestade do Rei do Universo foi contida numa manjedoura. O Deus criador de todas as coisas, detentor de toda riqueza e esplendor, foi deitado na palha porque para ele não havia lugar. O nascimento de Jesus anuncia como seria sua vida na terra: sem um lugar para ele, ainda que ele mesmo tenha criado cada lugar que existe. Ainda hoje vivemos muitas vezes como se não houvesse lugar para Deus na nossa vida, e olhar para o nascimento de Jesus nos faz lembrar que a nossa vida é dele.

Deus nasceu da mulher que ele mesmo formou, se alimentou daquilo que ele mesmo criou, se relacionou com pessoas que ele mesmo fez, andou nos lugares que ele mesmo pintou. Chorou, comeu, brincou, riu, se indignou, caminhou, dormiu. Totalmente homem e ainda totalmente Deus. O nascimento de Jesus nos mostra quem Deus é e como ele se relaciona com toda sua criação. Tudo pertence a Ele, mas ainda assim ele não retém nada e nos faz participantes de sua glória.

Nascendo em nós

O nascimento de Jesus deve ser encarado como mais do que apenas uma comemoração anual. Não é algo que devemos nos lembrar apenas uma vez ao ano e de forma superficial. Entender que Deus se fez bebê, escolheu um nascimento improvável, num lugar improvável para um Rei nascer, nas circunstâncias em que o fez, no momento em que o fez; que o dono de toda riqueza se fez pobre por amor de nós e que viveu uma vida de humilhação do nascimento até a morte; que nada nunca mais foi igual depois de certa noite em Belém, é fazer coro com o anjo Gabriel quando ele diz que não há nada que seja impossível para Deus.

Lembrar que o próprio Deus se fez bebê é lembrar que Deus faz coisas extraordinárias porque Ele é um Deus extraordinário que não depende do nosso desempenho para fazer o que deseja. É confiar que não importa o contexto em que estejamos vivendo, nosso Deus é o Deus que vem até nós e muda todas as coisas.

Deus escolheu uma serva humilde para nascer, e pode ainda hoje escolher suas servas humildes para fazer morada no coração. Não é preciso uma posição elevada, uma situação favorável, uma condição social confortável. É preciso um espírito pronto para dizer: sou serva do Senhor, que aconteça comigo conforme a sua palavra (Lucas 1:38). Jesus nasceu na manjedoura para nos lembrar que o lugar não importa, porque a nossa esperança é que ele venha. Ele é o Deus que cumpre suas promessas. A manjedoura é um sinal que ele habita na humildade. Deus nasce nos corações cativos à sua Palavra e confiantes em suas promessas.

A beleza do nascimento do Senhor é a boa nova de salvação:

Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo:

é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. (Lucas 2:10,11 – ARA).


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