Descobri qual é meu verdadeiro chamado

Esses dias meu coração afundou no peito com um pensamento – meu maior ministério, meu maior chamado, são as pessoas na minha vida.

Há alguns dias tive um “despertar”, quando recebi em um de meus vídeos no YouTube – um vídeo em que eu falava sobre chamado missionário – um comentário que dizia, “Fran, faz 2 anos que fez esse vídeo. E aí? O que aconteceu com seu chamado missionário?”

Vamos voltar um pouco no tempo para que eu possa responder à essa pergunta.

Quando eu tinha 9 anos, ouvi pela primeira vez a história de Amy Carmichael, a missionária irlandesa que passou a vida na Índia, resgatando crianças que eram feitas prostitutas cultuais em templos.

Eu ainda não era salva nessa época – o Senhor me converteu a si quando eu tinha 16 anos – mas eu senti em meu coração que queria ser a próxima Amy. A próxima Katie Davis. A próxima Gladys Aylward. E sabe o que todas essas mulheres têm em comum? Elas foram missionárias em lugares distantes de seus lares, elas dedicaram suas vidas ao ministério e chamado que receberam e, elas eram solteiras (Katie se casou recentemente, mas quando eu ouvi sua história pela primeira vez tudo indicava que ela também ficaria servindo solteira.)

Por isso, depois de minha conversão, eu acreditei fortemente que o Senhor tinha esse chamado para mim, de ir ser missionária em uma terra longínqua, focada nEle e sem me casar.

Com o tempo eu tive alguns namorados e sempre colocava esse sonho “on hold” por eles. Mas, quando o relacionamento terminava, eu voltava a pensar nesse chamado e focar nele.

Até que eu fiquei noiva, há alguns meses. Aí minha ficha caiu: o Senhor me conduziu até aqui, até ao ponto de ficarmos noivos, e é claro para qualquer um que acompanha nossa história de perto que é Ele quem está movendo todas as coisas. O que isso quer dizer, então? Que eu não serei a missionária altruísta e dedicada que pensei que seria? Estou cancelando meu chamado, meu ministério?

E isso gerou uma crise interna forte e muitas orações ao Senhor. Pai, o que o Senhor realmente quer de mim?

E em meio à essa crise, esse comentário no vídeo do YouTube. Foi então que decidi assistir ao vídeo novamente. Eis o que eu digo nele: basicamente, é um vídeo de convite. Chamo as pessoas que assistem à uma vida de abnegação do eu e de entrega total ao Senhor e aos Seus propósitos. Eu desafio as pessoas: vocês estão prontos para abrir mão de seus sonhos por amor ao Seu Capitão?

Eu preciso ser sincera e dizer que tudo aquilo era muito fácil para eu dizer. Eu não estava abrindo mão de nada, meu sonho dos 9 anos ainda era meu sonho na época que fiz o vídeo – ser missionária. Então, enquanto eu desafiava as pessoas, na verdade eu não desafiava a mim mesma – eu tinha certeza que aquilo era para mim e meus sonhos iam se cumprir.

É engraçado pensar, mas é essa a realidade. Para muita gente o chamado missionário vem como surpresa e é difícil para elas renunciarem a um casamento, a uma vida comum. Para mim foi o oposto.

Eu me lembro de conversar, certa vez, com minha amiga Danielli. Ela estava namorando, na época, e muito feliz em me contar seus planos de ser uma ótima esposa, mãe, dona-de-casa. E eu disse, confiante, “fico feliz que esses sejam seus planos, mas não são os meus”. Eu acreditava piamente que meu chamado ia “além”.

E aqui cabe apontar o egoísmo e presunção das minhas intenções. Eu achava, orgulhosamente, que casamento era algo que estava “abaixo de mim”, inferior ao meu “chamado tão santo”.

E aí voltamos ao meu noivado.

Deus me quebrou. Ele não somente disse, “sim, você vai se casar”, como me fez noiva de alguém que tem sonhos de ser uma benção em sua cidade local, influenciando a cultura em que vive – ou seja, nada de morar no campo missionário.

Graças a Deus que o baque não veio tão forte e meu noivo é apaixonado por missões de curto prazo – já fez bem mais viagens missionárias do que eu.

Mas, de qualquer forma, eu senti que as palavras que eu falava no meu vídeo, “vocês estão prontos para abrir mão de seus sonhos por Ele?”, vinham para mim, e elas pesaram forte em meu coração. Era hora de abrir meus olhos e ver o chamado supremo que Ele colocou em minha vida.

Não era missões mundiais.
Não era as crianças do ministério infantil.
Não era o blog, o Graça em Flor.

Era meus pais, meu irmão e cunhada, meu noivo, meus amigos e familiares.

Esse é meu chamado supremo. Ele me quer como esposa, como mãe, como filha, como amiga. Ele quer que eu compreenda o valor supremo disso, da família. Um valor tão supremo quanto um chamado missionário de longo prazo.

Deus quer que eu compreenda o valor supremo disso - da família. Esse é meu maior ministério. Click To Tweet

E esse chamado missionário ainda existe.

Mas descobri que ele não será nas florestas da África, nem nas matas da Índia. Ele será em Minnesota, EUA. É ali que Ele me quer, são as vidas dali que Ele quer que eu abençoe. (E sinceramente não há nenhum sacrifício nisso, eu amo meu noivo e amo as pessoas da cidade dele.)

E enquanto o casamento não acontece, são as vidas daqui, da minha cidade do interioRRR de São Paulo.

Quero deixar claro aqui que não acredito que um chamado seja maior que o outro, e isso tenho aprendido. Esse era meu pecado. Eu achava que as almas das pessoas da África eram mais valiosas a Deus que as almas das pessoas do Brasil, ou dos EUA, e por isso eu focava tanto em ir para lá.

Mas, eu tenho que aprender, dia a dia, que Deus ama vidas. De qualquer lugar.

Deus ama vidas. De qualquer lugar. E Ele quer que eu faça o mesmo. Click To Tweet

E eu preciso fazer o mesmo.

Digo para vocês, essa compreensão, esse “novo chamado” de amar as pessoas ao meu redor, faz a minha vida muito mais frutífera. Ao invés de usar a desculpa de que “estou esperando para ser missionária e então começarei a amar”, tenho amado de fato as pessoas que JÁ TENHO. Tenho sido missionária AQUI e HOJE.

Afinal de contas, como bem diz meu amigo Yago Martins, nós não precisamos de um chamado missionário. Somos todos chamados ao ide. Seja na África, seja no Minnesota, seja no interior de São Paulo.

Te encorajo a fazer o mesmo. Qualquer que seja seu chamado, para sua cidade ou para longe, saiba que teu ministério principal é aqueles que já tens, que estão mais perto. Na tua casa. No ônibus. No trabalho.

É aí que Deus quer te usar HOJE.

Seja fiel a esse tão belo ministério. Foque nas ovelhas que Ele te deu.

Esforce-se para saber bem como suas ovelhas estão, dê cuidadosa atenção aos seus rebanhos. (Provérbios 27:23)

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Vulnerabilidade máxima nesse texto, mostrando pra vocês as partes mais pecadoras do meu coração. Quando Paulo escreveu que ele era o maior dos pecadores é porque não conhecia a Francine, que consegue transformar algo lindo como um chamado missionário de longo prazo em algo egoísta e orgulhoso.

Queridas, espero que esse texto encoraje vocês a focarem no maior ministério que temos: nossas famílias. Que vocês possam colocar tempo com elas acima de emprego, de internet, de dinheiro, de vontades próprias… Que estar com eles e amá-los seja seu maior prazer e maior chamado.

Ter essa visão muda tudo. De verdade.

Contem para mim, vocês têm dificuldades com isso?

Em Cristo,
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