Deixe-me ser uma mulher

Certo dia Elisabeth Elliot recebeu em sua casa alguns rapazes seminaristas que, creio eu, estudavam no seminário em que ela foi professora por um tempo. Durante o jantar ela e seu marido Lars perguntaram aos rapazes o que eles esperavam de interações com moças cristãs. Não necessariamente o que queriam em uma esposa, mas o que esperavam do sexo feminino. Muitas coisas foram ditas: feminilidade, bondade, encorajamento… Mas, a que mais me chamou a atenção foi a descrição a seguir: que ela seja quietamente corajosa.

Quietamente – quando nos submeter

Demorei um pouco meditando sobre o que eu penso que isso signifique. Há muita polêmica acerca da quietude da mulher, fora da igreja por pessoas com concepções erradas da Palavra, e até mesmo dentro da igreja, por pessoas que preferem ouvir suas próprias vozes do que ouvir à voz de Deus. A Bíblia é muito clara quando diz, pela primeira carta de Pedro, que a mulher deveria ter um espírito gentil e quieto, e através da carta de Paulo a Timóteo que a mulher deve aceitar sua posição de não exercer papéis de liderança e autoridade pastoral na igreja.

Entretanto, isso não quer dizer, como muitas pessoas insistem em pregar, que Deus quer que as mulheres sejam capachos. Deus falou através de mulheres, em diversos contextos, a exemplo de Miriã, Débora, Hulda e Ana filha de Fanuel. Todas profetizaram em nome de Deus. Mas, o que Paulo estava fazendo ao mandar que as mulheres não exercerem o papel de pregação na igreja era impedir que as religiões pagãs, muito comuns em Éfeso e Corinto, infiltrassem a igreja de Cristo com suas mentiras e profecias demoníacas. Nessas religiões as mulheres eram as profetizas e tinham contato com espíritos e línguas estranhas. Quando isso começou a acontecer dentro das igrejas de Cristo, Paulo usou de sua autoridade apostólica e instituiu regras, relembrando às mulheres que Deus Pai é a cabeça de Cristo, Cristo a cabeça do homem e o homem a cabeça da mulher (cf. 1 Co. 11:3).

Interessante ver como nós não temos nenhuma dificuldade em aceitar que Cristo tenha se submetido ao Pai completamente, mas temos muita dificuldade em aceitar a parte do versículo que diz que a mulher deve se submeter à autoridade do homem.

Nossa amiga Elisabeth não tinha medo de ensinar o que a Bíblia diz. Ela tinha posição de ensino e inclusive muitos homens aprenderam com sua sabedoria. Mas, ela nunca usurpou o papel de líder da igreja, nem tentou ter autoridade pastoral. Ela foi uma mulher forte – como toda mulher cristã deve ser – mas soube quando se submeter ao seu Senhor, em primeiro lugar, e à autoridade de líderes sobre ela.

Quando temos dificuldades em aceitar a submissão, porque somos pecadoras e é normal que nossa natureza queira dominar e não se submeter a ninguém, lembremos de Jesus que era Deus e ainda assim “não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:6-8)

Corajosa – quando tomar uma posição

Mas, e a segunda parte da descrição – corajosa? É aqui que acho lindo ver como os papéis diferentes que Deus deu a homens e mulheres em nada fazem com que as mulheres sejam capachos ou fracotes, como verdadeiras donzelas em apuros. Pelo contrário, o Senhor nos chamou a sermos fortes e corajosas. Elisabeth é o perfeito exemplo disso – uma mulher que sofreu tantas perdas, mas continuou firme em sua fé, corajosamente pisando em terreno perigoso, sabendo que seu Deus ia à sua frente.

Deus não nos chamou para ser 'donzelas em apuros', mas fortes e corajosas. Click To Tweet

Querida, olhe para a Bíblia e veja as muitas mulheres fortes que Deus usou – Sara, Ester, Raabe, Rute, Maria, Isabel, Priscila. Cada uma com seus desafios, cada uma com sua realidade, mas todas focadas no seu Deus, sabendo que nEle podemos ser corajosas para enfrentar um mundo tão cruel.

E a verdade é que é preciso coragem para ser submissa, ajudadora e serva em uma sociedade como a nossa, que diz que tudo isso é terrível, e que vai “contra a nossa natureza feminina”.

Uma das coisas que eu mais admiro em nossa amiga Elisabeth é a forma como ela não tinha medo de ir contra a maré do mundo. Ela se posicionava como uma árvore firme junto ao ribeiro de Água Viva e não era carregada por qualquer vento de doutrina. Quando o mundo disse que ela deveria odiar os assassinos de seu marido, ela os amou e falou de Cristo a eles. Quando o mundo disse que ela deveria mudar sua aparência física para “se encaixar” nos padrões dessa sociedade, ela manteve seus dentes separados até o último dia de sua vida. Quando o mundo disse que ela deveria aproveitar sua sabedoria e dom de escrita e ensino, tornando-se líder da igreja, ela se submeteu àquilo que Deus ordenou a ela.

Eis o que ela mesma disse sobre isso: “Nós somos mulheres, e meu pedido é Deixe-me ser uma mulher, santa por completo, pedindo nada além daquilo que Deus quiser me dar, recebendo com ambas as mãos e com todo o meu coração o que quer que isso seja. (…) A feminilidade tem suas limitações. Assim como a masculinidade. (…) Ser uma mulher significa não ser um homem. (…) Toda escolha é uma limitação. (…) Ouça o chamado de Deus para ser uma mulher. Obedeça a esse chamado. Coloque suas energias no serviço (…) e você encontrará abundância de vida, abundância de liberdade, e (eu sei do que falo) abundância de alegria.

Esse texto foi retirado do eBook “21 dias com minha amiga Elisabeth”. Saiba como baixá-lo gratuitamente aqui: https://gracaemflor.com/elisabeth

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Eu gostaria de esclarecer, desde já, que por mais que eu segure com firmeza essas convicções sobre a feminilidade bíblica, de maneira nenhuma (e Deus me livre disso!) eu creio que quem discorde disso seja mais pecador ou menos cristão do que eu. Eu conheço minhas limitações o suficiente para saber que somente no Céu terei clareza completa sobre tudo o que diz respeito à Bíblia e a teologia. Estou completamente aberta a conversas, desde que gentis e cheias de graça e humildade, sabendo que somos irmãos em Cristo, ainda que discordemos de pontos menores da fé.