Débora – A líder atenta à voz de Deus

Ser multitarefa é uma característica que define muitas mulheres. Trabalhar fora e dentro de casa, estudar, cuidar da família, fazer atividade física e servir na igreja são afazeres geralmente desempenhados por uma única mulher. Em grande parte das vezes, mais de uma função é realizada ao mesmo tempo, como cozinhar com o bebê no colo ou se arrumar enquanto resolve pendências pelo telefone.

A narrativa bíblica sobre Débora evidencia a característica citada acima e se assemelha à história de muitas mulheres em nossos dias. O nome Débora significa “abelha; mulher trabalhadora e esforçada” e tem tudo a ver com a mulher que estudaremos hoje. Ela foi esposa, profetisa e juíza sobre Israel (cf. Jz 4.4) em um tempo difícil em que o povo estava sem rei e cada um fazia o que achava certo. Nesse texto, falaremos das duas últimas ocupações, que são as descritas pelo relato bíblico.

A história de Débora é também a história do povo de Deus. Por isso, precisaremos regressar no tempo para compreender um pouco daquilo que levou essa mulher a receber a alcunha de única juíza da Bíblia. Após a entrada em Canaã e a morte de Josué, o povo de Israel ainda tinha terras a conquistar. A ordem do Senhor foi bem clara visando um relacionamento exclusivo com os seus: deveriam expulsar os povos ao redor e não fazer alianças com eles. Todavia, não foi isso o que aconteceu. Os israelitas começaram a habitar no meio deles, tomaram as mulheres por esposas e deram suas filhas em casamento. O resultado foi que o povo santo de Deus começou a cultuar deuses pagãos e esqueceu-se de seu Libertador.

O livro de Juízes traz o ciclo de pecado, opressão, arrependimento e libertação dos israelitas naquele período: eles faziam o que era mau perante o Senhor; o qual levantava um povo que os oprimia até que se arrependessem e clamassem por socorro. Deus, em sua misericórdia, levantava um juiz que os libertava. Após a morte deste juiz o ciclo reiniciava. 

Por tornarem a desobedecer o Senhor, os israelitas foram entregues à opressão de Jabim, rei de Canaã. Sísera era o comandante do exército inimigo, tinha novecentos carros de ferro e afligiu o povo por vinte anos, até que este clamou a Deus. É aqui que Débora aparece, em Juízes 4 e 5. 

Relacionamento sólido com o Senhor

Débora era uma profetisa. Antes da obra redentora de Cristo, as pessoas não tinham livre acesso ao Pai, mas se achegavam a ele por meio de sacerdotes e profetas. Os primeiros representavam o povo diante de Deus, enquanto os segundos, Deus diante do povo. Estes eram servos escolhidos e separados com quem o Senhor falava diretamente para transmitirem sua mensagem aos demais.

Em um tempo em que seus conterrâneos não se importavam em buscar ao Senhor e fazer sua vontade, antes, faziam o que desagradava a ele, Débora tinha um relacionamento pessoal com o Deus de Israel, caminhava pertinho dele, era atenta às suas palavras, enquanto os outros se afastavam da sua presença.

Em nosso mundo pós-moderno não acontece muito diferente. A crença é que não  existe uma verdade absoluta, mas cada grupo tem sua verdade, suas crenças e seus padrões de certo e errado. Grande parte das pessoas não se importa com Deus, com sua vontade e preceitos. Cada um segue seu próprio caminho. Essa é também a sociedade à qual pertencemos, onde temos que lidar com o desafio de permanecermos firmes na fé que nos foi entregue, bem como na única verdade que existe e que baliza todos os acontecimentos – a Palavra de Deus. Débora nos ensina que é totalmente possível, mesmo que sejamos minoria.

Coragem para enfrentar os desafios

Débora foi a única mulher chamada para ser juíza. Antes e depois dela, o Senhor sempre levantou homens que lutavam pela libertação de seu povo da opressão inimiga. Dentre todos os juízes, somente ela aparece exercendo funções jurídicas, sendo procurada para solucionar todo tipo de problema. Débora liderou com sabedoria e caráter, sem fazer uso da força física. Ela foi levantada por mãe em Israel em um período em que os homens foram tomados pelo medo diante do poder dos opressores (cf. Jz 5.7).

Débora liderou para além do campo de batalha, como muitas de nós fazemos. Algumas são mães solo que chefiam sua família com força e ousadia; há as que moram sozinhas e são responsáveis por tudo em suas casas; outras que, cheias da sabedoria de Deus, aconselham e instruem irmãs de todas as idades em suas igrejas. Mulheres que não lutam literalmente, mas que são verdadeiras guerreiras e batalhadoras diante dos desafios que lhes são impostos porque estão firmadas na rocha que é Cristo.

Débora não almejava uma posição que não era sua. Ela recebeu a palavra do Senhor sobre o livramento de seu povo das mãos de Sísera e a repassou a Baraque para que comandasse o exército dos israelitas na batalha. Ele, por sua vez, não teve fé na instrução e considerou uma missão suicida, uma vez que lutariam contra uma potência militar – os 900 carros do inimigo facilmente colocariam os 10 mil homens de Israel em estado de rendição. Todavia, Baraque tinha a profetisa em tão alta estima que se dispôs a seguir adiante, desde que ela fosse com ele, o que ela aceitou.

Certamente Débora foi com Baraque porque creu na palavra que o Senhor tinha lhe falado, ela tinha um relacionamento com ele, o conhecia de perto e sabia que a vitória era certa, por mais impossível que parecesse. Quanto mais próximas andamos de Deus, mais conhecemos quem ele é e o que é capaz de fazer, ao mesmo tempo em que recebemos ousadia e força que nos impedem de sucumbir diante das adversidades.

O desfecho da batalha foi a derrota do exército inimigo e a morte de Sísera por uma outra mulher de fibra, Jael – ela aparece somente nessa parte da história, e vale a pena ler o capítulo 4 do livro de Juízes. Após a vitória, a terra ficou em paz por quarenta anos (Jz 5.31). Esse período sem opressão de outros povos mostra que a liderança de Débora foi bem sucedida, capaz de manter Israel longe da desobediência a Deus e de sofrer as consequências disso temporariamente.

Em última análise, a história de Débora aponta para Cristo, que é o profeta perfeito que nos deu livre acesso ao Pai, e o grande libertador de seu povo, que garante a paz com Deus para todo o sempre. Assim deve ser com a nossa vida. Nada é sobre nós, sobre o quanto somos fortes, incríveis e admiráveis. Tudo o que vivemos e fazemos deve evidenciar a força de Deus em, através e apesar de nós, e edificar seu povo.

Um chamado que é só seu

O capítulo 5 de Juízes traz o cântico de Débora, que narra a mesma história de uma perspectiva mais teológica, evidenciando a soberania de Deus. Ela reconhece que a vitória não foi dela, de Baraque ou de Jael, mas do Senhor, o Guerreiro que foi à frente de seu povo e conduziu todas as coisas. Existe um único herói nesse acontecimento e ele é divino.

Débora marcou a sua própria geração mas também influencia a nossa ainda hoje. Em um mundo hostil, ela se levantou com coragem para ocupar funções de destaque que não eram comuns para uma mulher e as desempenhou de uma forma tão louvável que nos faz render graças ao Senhor pela forma como ele age.

O registro da história de Débora serve para nos lembrar de que Deus não tem o mesmo propósito para todas as mulheres: algumas foram chamadas para cuidar do lar em tempo integral, outras para presidirem empresas. Como bem salienta nossa irmã Renata Veras: “lugar de mulher é onde Deus disser” — seja embalando o berço, seja liderando uma nação.

Nós não entendemos porque Deus levantou uma mulher para desempenhar um papel de tamanha responsabilidade naqueles dias, assim como não compreendemos porque ele nos escolheu, afinal, somos falhas, pecadoras, medrosas, arrogantes, incapazes por nós mesmas. O que sabemos é que o Senhor tem um propósito e um lugar para cada mulher que ele mesmo criou e dotou de sua imagem e semelhança. Aquelas citadas na Bíblia, com suas características e especificidades, têm participação na história da redenção. Esse chamado se estende a todas as filhas de Deus, de todos os tempos, até que o Senhor Jesus Cristo retorne. Somos instrumentos, toda a força e a potência vêm dele.

“Desperta, Débora, desperta, desperta, acorda, entoa um cântico” (Jz 5.12a).

Desperta, minha irmã que lê esse texto, desperta! Ouça a voz do Senhor te comissionando para servi-lo. Deixe o desânimo e o comodismo de lado, tire as vestes do medo. O Todo-poderoso é quem vai adiante de ti e te capacita para a batalha. Muitas pessoas podem ter recuado diante da voz dele, mas você deve se aproximar cada vez mais. Ele deu seu próprio Filho em seu favor, porventura não te daria todo o necessário para as lutas do dia a dia? Ele te livrou da morte e da ira eternas, o que mais poderia te assolar? Louve sempre o Senhor que é sempre misericordioso contigo e é totalmente confiável em todas as suas palavras. Avante na força do Deus de Débora, que é também o teu Deus.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Março com o tema “Mulheres Desconhecidas da Bíblia”. Para ler todos os posts clique AQUI.