Culto ao corpo, extremos e idolatria

Um dos grandes problemas da nossa atualidade é a falta de equilíbrio ao lidarmos com determinados assuntos. Estamos constantemente pulando de um extremo ao outro e muitas vezes nem nos damos conta disso. Nos acostumamos em estarmos sempre entre as duas pontas, e nos esquecemos do meio termo, do equilíbrio e da liberdade que temos para vivê-lo. Hoje quero conversar um pouco sobre o extremismo que vivemos em relação ao autocuidado, especialmente em relação ao nosso cuidado com nossa saúde, nossa relação com o corpo. Vamos tratar de dois extremos: o cuidado demasiado e excessivo com o corpo, chegando à uma espécie de culto ao corpo, e por outro lado, o total desleixo a nós mesmas em nome da famigerada aceitação – e como tudo isso está intimamente relacionado com a idolatria e motivação do coração.

Começando com a idolatria

Vamos começar com a raiz de todo o problema: a idolatria. Segundo CJ Mahaney[1], “Sempre que depositamos qualquer porção de nossa confiança, não importando quão pequena, em algo que não seja o próprio Deus, você e eu cometemos atos de idolatria exatamente tão sérios quanto se dobrar diante de uma imagem de madeira grosseiramente talhada. Portanto, idolatria, de um ou de outro tipo, precede cada um de nossos incontáveis pecados.”. Aplicando esse conceito ao nosso tema, somos idólatras quando passamos a depositar confiança demasiada em nosso corpo, nossa estética e até mesmo em nossa saúde, coisas que, embora não sejam ruins em si, se tornam ruins se compreendidas de forma errada.

Precisamos entender que todo extremo é perigoso. Nossa confiança, autoestima, beleza e afirmação, querida irmã, não pode estar naquilo em que podemos perder, não pode estar naquilo que perece conforme o tempo passa. Nossa confiança deve estar unicamente firmada na obra salvífica de Cristo na cruz, que é verdadeiramente bela, fiel e eterna.

É perigoso contemplarmos demais nosso corpo, nossa aparência física, nossa saúde e vivermos para isso como se fosse um deus. Embora pareça algo muito bom, cuidar de si e olhar para si mesma de forma excessiva significa que olhamos pouco para cruz. A beleza glorifica a Deus, a saúde e boa forma também podem glorificar a Deus, mas quando coloco meu coração nestas coisas, já não faço mais para Deus, mas para minha própria aprovação e quando não, para ganhar aprovação de outros.

Agora, por outro lado, temos o desleixo. Prezamos mais o nosso conforto do que o cuidado com o corpo que Deus nos deu. Enquanto muitas de nós vivem para si, para cultuar o corpo e a beleza, outras estão deixando os cuidados necessários de lado em nome da aceitação. Hoje em dia, muito se fala sobre aceitação, e de forma alguma quero dizer que isso seja errado. Mas temo estarmos conceituando de forma errada essa palavra.

A palavra aceitação significa: “ação de aceitar, de receber aquilo que lhe é ofertado”. Isso quer dizer que, devemos nos aceitar sabendo que, cada uma de nós foi formada de forma maravilhosa pelas mãos do Senhor, as mesmas mãos que formaram os céus e a terra e toda beleza contida em cada metro quadrado do Universo. Isso é maravilhoso! Mas isso quer dizer que nunca podemos e nunca devemos mudar nada em nós, mesmo que nos faça mal de alguma forma ou até mesmo, em alguns casos, nos custe a saúde? Não. Isso não é aceitação, é negligência.

A aceitação é uma grande mentira quando ela te leva a crer que você não precisa cuidar de si mesma. Nos amarmos e aceitarmos, deve nos levar a termos uma estima elevada por sermos criação de Deus e abrigarmos em nós a imagem do próprio Senhor. O amor e aceitação devem nos conduzir ao autocuidado em todos os aspectos.

E agora?

Primeiro, precisamos ter em mente duas coisas: o Senhor está voltando e no Dia do Senhor prestaremos contas a Ele de como cuidamos do bem que Ele nos deu, no caso, nossa vida. Nosso coração enganoso e egoísta nos faz acreditar que todas as coisas são nossas. Nosso corpo, nosso tempo… mas a verdade é que somos apenas administradoras de todas as coisas, sabendo que tudo pertence a Ele.

Minha irmã, o evangelho provê em Cristo nossa liberdade do pecado e do mundo. Nós devemos testemunhar dessa liberdade, mas não o faremos enquanto formos escravizadas pelo ídolo que governa nosso coração. O domínio próprio é parte do fruto do Espírito que precisamos ter para confirmar nosso testemunho. Mas enquanto não desenvolvermos um uso teocêntrico, ou seja centrado em Deus, de tudo o que possuímos, seremos mordomas infiéis e negligentes. A idolatria acaba quando a adoração começa, adorar ao Senhor verdadeiramente nos livra dos ídolos que nos paralisam.

Precisamos de boa teologia e disciplina para saber que, quer comamos, quer bebamos, quer nos exercitemos, tudo fazemos para a glória de Deus (cf. 1 Co. 10:31). Não basta saber que Dele são todas as coisas. Precisamos também viver de acordo com essa verdade. Quando isso acontecer, certamente encontraremos o equilíbrio que precisamos para não vivermos presas em nenhum extremo, mas desfrutarmos da liberdade que temos em Cristo para fazer tudo com o coração no lugar certo. Precisamos ter a motivação correta para fazer qualquer coisa que seja, e a motivação correta é glorificar a Deus, sempre.

Querida amiga, quando nosso coração ama o Senhor acima de todas as coisas e se importa profundamente com o Reino de Deus, todas as coisas entram no eixo. Sabemos que, ainda que não sejamos como as moças que vemos no Instagram e admiramos, ainda que não tenhamos uma frequência perfeita na academia e ainda que apreciemos um bom e velho brigadeiro, fazemos tudo sem culpa alguma.

A salada não tem poder de glorificar mais a Deus do que o chocolate, e a aceitação não é melhor do que o cuidado.

Bom mesmo é descansar na certeza de que Cristo levou sobre si nossos pecados e por meio do Seu Espírito nos provê meios de vivermos para Ele em todas as coisas. Podemos nos aceitar e também podemos cuidar de nós mesmas. Podemos e devemos fazer as pazes com o espelho, com a estética, com a boa alimentação, com atividades físicas e tudo mais que nos ajude a viver bem enquanto estivermos aqui.

Ao pensar nas mulheres de Deus, fortaleço no coração a certeza de que a maior beleza que podemos buscar é nutrir um bom relacionamento com Deus e fazer Dele nossa força em nossa jornada por aqui. Que não busquemos aceitação, elogios, afirmação e até amor através da nossa aparência, isso significa estarmos longe do Senhor. Nele já fomos aceitas, Ele não nos ama mais ou menos por algo que fazemos e muito menos por nossa aparência física – mas isso não anula os cuidados que devemos ter.

No fim das contas, não é sobre padrão de beleza. Não é sobre magreza. Não é sobre o corpo perfeito. Não é sobre estética. Não é sobre gostar ou não de cuidar de si. É sobre dar glória ao nome do Senhor em tudo que fizermos. É sobre obedecer independente de estar com vontade. É sobre saber que na história de Deus, eu sou serva e Ele é o Senhor. É sobre me oferecer como sacrifício vivo e isso inclui submeter a Ele meu coração e minhas motivações.

Sejamos boas mordomas, minha amiga. Porque Bom mesmo é o nosso Senhor.

Em Cristo,
Bella


[1] MAHANEY, Charles Joseph. A Fábrica de Ídolos. www.monergismo.com, 2020. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/pecado_tentacao/idolatria_mahaney.htm>. Acesso em: 20 de agosto.