Cultivando um Coração Agradecido A Gratidão como Estilo de Vida: Como Expressar Reconhecimento a Deus e aos Outros

Era um dia comum, até Cristo passar por ele. Jesus estava indo para Jerusalém quando entrou em uma aldeia e dez leprosos vieram-lhe ao encontro suplicando por cura. Eles receberam o que pediram e apenas um voltou para agradecer, o que levou o Senhor a perguntar: “Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?” (Lucas 17.17,18).

A lepra era uma doença que tornava a pessoa impura e a obrigava a viver fora da cidade (Nm 5.1-4). Além de terem suas feridas curadas, aqueles homens recuperaram o convívio social e a dignidade. Jesus operou um milagre de grandes proporções e apenas um homem voltou para agradecer. Nós entendemos o Mestre, ficamos indignados quando isso acontece conosco. Mas, e quando nós somos um dos nove leprosos? Já parou para pensar em quantos “obrigada(o)!” você não disse?

Talvez você pense que não tem motivos para agradecer, pois nunca recebeu um milagre como os dos leprosos, o sonho da sua vida ainda não se tornou realidade e você vive num eterno marasmo. Será mesmo? Será que o fato de o Rei do Universo se fazer homem, ser castigado e morrer em seu lugar para que você viva eternamente não merece sua eterna gratidão? Você poder respirar, se mover, comer, trabalhar são pouca coisa? Como diz o hino antigo “conta as bênçãos, todas de uma vez, e verás surpreso o quanto Deus já fez”.

Agradecendo a Deus

“Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?”(Sl 116.12).

Que presente dar àquela pessoa que não tem falta de coisa alguma? Como agradecer ao Criador Todo-Poderoso, que domina sobre tudo e não precisa de nada? Compartilhamos do mesmo questionamento que o salmista.

Gratidão envolve entendimento e não um mero sentimento. Somos pecadores e falhos, não merecemos nada além da ira furiosa de Deus sobre nós, o que faz da salvação um presente imensurável. Todavia, o Senhor não para aqui e nos concede mais bênçãos com ela: a presença do Espírito Santo, a comunhão com ele, a ajuda para não pecar, a vida eterna, dentre tantas outras. Quando temos consciência de que não somos dignos de tudo o que recebemos, a graça influencia nossa postura em relação ao Doador e às dádivas, mesmo que estas venham em um embrulho de aflições e sofrimento.

“Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (1 Sm 15.22). Quando desejamos expressar nossa gratidão a uma pessoa, procuramos fazer aquilo que lhe agrada, mostrar que a valorizamos. Em relação ao Senhor acontece o mesmo, sendo a obediência dos filhos o que deixa o Pai feliz. Ele se compraz com um coração obediente e fiel, que segue seus mandamentos e não se rebela contra sua vontade, confiando sempre em seu amor leal.

Nós fomos criados para adorar ao Senhor e nós lhe devemos isso. Demonstramos nossa gratidão quando o adoramos por meio do bom uso de nosso tempo, palavras, ações, recursos e conhecimento. Além disso, quando reconhecemos o Senhor em nossos caminhos e contemplamos tudo o que faz por nós, o adoramos por meio de louvores e orações que exaltam o seu nome. Os salmos nos lembram isso, pois grande parte deles nos impulsiona a render graças ao Senhor.

Agradecendo aos homens

Somos imensamente gratos ao Senhor por tudo o que ele faz por nós, mas é verdade que ele usa muitas pessoas como instrumentos de bênçãos em nossas vidas e é nosso dever agradecê-las também. O apóstolo Paulo nos dá as seguintes recomendações:

“tenham prazer em honrar uns aos outros” (Rm 12.10) e “sejam sempre agradecidos” (Cl 3.15).

Muitas pessoas se mostram resistentes em agradecer aos outros, seja porque, ao reconhecerem que receberam uma dádiva, um favor, sentem-se inferiores, seja por acreditarem que são merecedoras daquilo e não têm que agradecer a ninguém. Independente de qual o motivo, a recusa revela um coração orgulhoso e endurecido, que não reconhece que nenhum ser humano é autossuficiente e que todos necessitam de ajuda em algum momento da vida.

Temos a seguir maneiras de expressarmos gratidão aos outros:

  • Reconhecer publicamente o que fizeram por nós e darmos os créditos a quem de direito;
  • Elogiar a pessoa e valorizar seu empenho. Faça como o Pai Celeste que, mesmo sabendo que somos imperfeitos e limitados, se agrada quando usamos nossos dons e talentos;
  • Não minimizar ou depreciar aquilo de bom que recebemos. Evite frases como “isso até que é bom, mas se fosse outro seria melhor”; “na falta daquilo, isso serve”. Não sabemos os esforços que a pessoa empreendeu ou as privações que passou para nos abençoar. Lembre-se que a oferta da viúva pobre foi a mais valiosa para Cristo (Mc 12.41).

A gratidão como estilo de vida

Um hábito nasce das pequenas práticas no dia a dia, sendo totalmente possível que se torne um estilo de vida. A gratidão tem mais a ver com o coração do que com o presente recebido. Quando temos sempre diante de nós o fato de que não merecemos nada de bom e, apesar disso, o Senhor nos cerca de bondade; quando o obedecemos porque o amamos e desejamos agradá-lo; quando o adoramos com nossa boca e com nosso viver, a gratidão toma conta de nós e não somente passamos a agradecer a Deus, mas a levar uma vida que demonstre nosso reconhecimento.

“Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (1 Ts 5.18)

A Bíblia nos manda dar graças EM tudo e não POR tudo, não nos diz para agradecer pela traição, pela doença, pela fome, pelo abandono ou pelo acidente, mas, sim, enquanto atravessamos essas circunstâncias que, de imediato, não nos revelam algo bom. Nós só conseguimos agir dessa forma porque somos assegurados de que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8.28)

Essa atitude é percebida claramente na vida de Jó: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!  (Jó 1.21)

Nathan David Wilson, em seu livro Morrer de tanto viver, diz que, a cada batida de nosso coração, deveríamos agradecer a Deus e também não deveríamos, pois se assim o fosse, jamais faríamos outra coisa com a vida, “não teríamos tempo de ver ou saborear qualquer outro de nossos “impossibilhões” de dádivas.”

O autor continua, agora com um exemplo comum em sua família e em muitas outras. No Natal, ele e sua esposa costumam dar tantos presentes para seus filhos, que eles ficam perdidos em meio a tantos embrulhos, às vezes focam em alguns e ignoram outros.

“Que parecidos com Deus. Todos nós somos essa criança repleta de presentes, sem sequer perceber os batimentos, perceber a respiração, notar que as digitais podem sentir e pegar coisas, a torta cheira como torta, a pele da unha se cura, maçãs fuji são reais, cães balançam o rabo e o assombro perpétuo que nos aguarda no tempo. Porque quanto mais recebemos, mais sentimos a perda, pois todos somos pobres e voltamos ao pó. Ah, mas nós percebemos batimentos cardíacos quando eles param. E nós imploramos por mais. Se somos capazes de ficar de mau humor com o Natal enquanto ainda estamos ao redor da árvore semienterrada em papel colorido (e nós ficamos), então é claro que somos capazes de chorar quando o Natal parece acabar. Os ingratos sempre cultivam amargura em seus corações. Aqueles que têm fé (outro dom) alegram-se mesmo no fim e depois. Eles secam as lágrimas, sentindo com maior profundidade toda a riqueza de receber a vida quando a mesma vida é perdida.” (pp. 111-112)

Façamos nossa a oração de Tomás de Aquino:

“Me destes tantas coisas, Senhor, dá-me mais uma: um coração grato.”


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