Cristo Em Cada Pensamento (Saúde Mental): Chorando com os que Choram

Tish Warren continua sendo uma das autoras que mais me impacta, e não é à toa que os meus marca-textos quase se esgotam com suas palavras. Tudo o que ela escreve ressoa profundamente em mim. Desde o clássico Liturgia do Ordinário — quem não se encanta com esse livro? — até sua nova obra, A Oração da Noite.

Ao ler o primeiro capítulo, que trata da oração noturna como um recurso para lidar com lutos, perdas e ansiedades, um pensamento inesperado me ocorreu: “Que sabedoria! Mas espero não precisar usar isso tão cedo…”. É ingênuo, quase presunçoso, ignorar que, nesta vida, todos enfrentaremos momentos de dor, lágrimas e lamentos — esses momentos inevitavelmente virão. Contudo, ao passarmos por eles, podemos encontrar doçura e consolo nos Salmos de lamentação, como no Salmo 3:3: “Mas tu, Senhor, és o meu escudo; és a minha glória e o que exalta a minha cabeça.” Também no Salmo 25:16-17: “Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito. As tribulações do meu coração se têm multiplicado; livra-me das minhas angústias.” E ainda no Salmo 42:11: “Por que você está abatida, ó minha alma? Por que se perturba dentro de mim? Espere em Deus, pois ainda o louvarei; a ele, meu auxílio e Deus meu.” e outros textos que encontramos ao longo deste livro bíblico.

Curiosamente, escrevo isso num desses dias difíceis. Talvez você também esteja vivendo algo parecido — receba meu abraço caloroso. Mas, em vez de fugir da dor, por que não encará-la de frente e permitir o choro? É sobre isso que vamos refletir neste texto.

Engole esse choro!

Desaprendemos a chorar. Essa é a conclusão a que chego sempre que converso com alguém que precisa liberar suas lágrimas, mas resiste com todas as forças. E, sinceramente, eu também faço isso muitas vezes.

Para muitos, o choro é sinônimo de vergonha, fraqueza, até de fracasso. Não sei qual é o seu contexto denominacional como cristã, mas por, muito tempo fui ensinada que “não é tempo de chorar!”, “Levanta a cabeça! Tudo já deu certo” ou “Com Cristo, somos mais que vencedores”. O resultado? Eu me tornei aquela pessoa que se escondia no banheiro para chorar em segredo. Afinal, se em Cristo sou vencedora, por que perder tempo chorando? Ah, como essas frases distorcem o que a Palavra ensina.

A verdade é que o choro nos expõe. Ficamos com a voz falha, o rosto inchado, olhos vermelhos e mãos desesperadas tentando secar as lágrimas. E nessa exposição, passamos a acreditar, injustamente, que somos fracos e que esse ponto vulnerável não deve jamais ser revelado. Você já se sentiu assim?

Depois de anos estudando a Palavra, entendo que o choro é, na verdade, um ato de vulnerabilidade e coragem — algo que o próprio Cristo demonstrou. O episódio em que Ele chora pela morte de Lázaro sempre me fascinou. Surgem perguntas simples: Como ele chorou? Foi um choro contido? Silencioso ou intenso? Lágrimas quentes escorrendo pelo rosto? Há tanto mistério neste versículo tão pequeno! Mas a questão central é: se Ele sabia que iria ressuscitar Lázaro, por que chorou?

Naquele momento, Jesus estava diante da escuridão mais profunda, encarando a morte, não apenas no sentido físico, mas o que ela representa sobre a realidade do sofrimento humano. Ele chorou pelo silêncio ensurdecedor da noite que todos teremos que enfrentar enquanto estivermos neste mundo quebrado. Como Tish H. Warren, em sua obra A Oração da Noite descreve: 

Embora Jesus tenha ressuscitado seu amigo dentre os mortos, não foi suficiente para suprimir o poder da Morte com M maiúsculo. Lázaro morreria de novo. Lázaro ainda viveria num mundo cruel de luto, vulnerabilidade e frustração. Jesus olhou para a grande escuridão e se enfureceu. Ele olhou para a Morte nos olhos e “comovendo-se profundamente outra vez” (João 11.38), ele chorou das profundezas do seu ser. As Escrituras usam uma frase grega estranha aqui que invoca uma imagem muito bizarra e baixa de um cavalo bufando. O luto de Jesus transbordou, sendo poderoso e bruto, quase animalesco.

Tish H. Warren

Cristo abriu espaço para o luto, mesmo sabendo o que faria em seguida. Se Ele chorou, por que nós, tão limitados, cheios de emoções e vivendo em um mundo caótico e caído, não deveríamos chorar? O que percebo, em conversas no dia a dia da igreja e em amizades profundas, é que conhecemos muito pouco sobre o lamento.

A Estação do Lamento

Comprei o livro da Tish Warren em meio a muitas perguntas sobre como entender melhor o lamento na vida cristã. Admito, não é comum se interessar por leituras sobre luto, choro e tristeza e falamos pouco sobre o valor do lamento.

Ignoramos essa parte da Bíblia ou lemos os Salmos apressadamente, buscando nos sentir melhor rapidamente. Evitamos sermões sobre o tema, preferindo mensagens práticas que nos ensinem a “resolver” nossas dores. Não menosprezando o restante da Sagrada Escritura, que gera vida em qualquer uma de suas palavras, mas agir dessa forma é quase como recorrer a um pedaço de chocolate para mascarar uma emoção difícil — não cura, apenas suaviza o coração por um breve momento.

Essa resistência ao lamento acontece porque, de forma compreensível, não queremos sentir dor. Em um mundo saturado de distrações — telas, séries intermináveis, luzes artificiais —, é difícil criar espaço para lamentar, quanto mais para chorar de verdade. Não falo daquele choro superficial, gravado para ganhar likes nas redes sociais, mas do choro que vem do fundo da alma. Fomos ensinados que não há tempo para chorar e que o cristão não deve dar espaço ao lamento. Olhe o que Henri Nouwen escreveu em seu livro Uma carta de consolação sobre perceber que havia lotado sua vida de trabalho para não ter que lidar com a morte de sua mãe:

A vida ocupada certamente não me encorajou a ouvir meus gritos interiores. Mas, um dia, quando eu parei por um tempo no meu escritório entre compromissos, eu repentinamente percebi que eu não tinha derramado uma lágrima sequer antes ou depois da morte da minha mãe. Naquele momento, eu vi que o mundo tinha tanto domínio sobre mim que ele não me permitia experimentar plenamente nem mesmo o evento mais pessoal, mais íntimo e mais misterioso da minha vida. Era como se as vozes ao meu redor dissessem: “Você não pode parar. A vida continua. As pessoas morrem, mas você precisa continuar a viver, trabalhar e lutar. Não dá para voltar ao passado. Olha para o que está na sua frente.” Eu obedecia a essas vozes […] Mas eu sabia que isso não iria durar se eu realmente quisesse levar a minha mãe e a mim mesmo a sério.

Henri Nouwen

Foi durante um período de seis meses em um mosteiro, em meio ao silêncio, que Henri Nouwen se permitiu chorar livremente, mesmo quando não estava refletindo sobre perdas específicas, como a morte de sua mãe. Claro, com nossas agendas agitadas e finanças muitas vezes comprometidas, é difícil reservar meio ano nas montanhas para nos dedicarmos ao lamento. Mas o que podemos fazer é ouvir com atenção o que estamos sentindo e abrir espaço para lamentar.

“Como faço isso?”, você pode perguntar. Em uma palestra com a Luiza Nazareth, aprendi que devemos lamentar diante do Senhor o fato de vivermos dias difíceis em um mundo difícil, trazer à memória o que Ele já fez, está fazendo e fará, e esperar com esperança nEle. A estação do lamento não precisa ser traumática; pode ser restauradora, quando colocamos nossas emoções nas mãos de um Deus amoroso e soberano, que triunfa sobre todas as coisas. Não há caminho escuro que Cristo não tenha percorrido e vencido. Entender isso nos ensina a lidar com o choro — e também a consolar e chorar com aqueles que choram.

Se Jesus chorou, nós podemos chorar com os que choram também

Alegrem-se com os que se alegram e chorem com os que choram. – Romanos 12:15.

Uma das belezas desse texto escrito por Paulo é que ele nos mostra onde o nosso coração deve estar, nesse caso, ao lado das pessoas, nos identificando com elas, acolhendo-as e amando-as. Não apenas compartilhando das suas alegrias, mas também das suas tristezas — tanto com nossos irmãos na fé quanto com aqueles fora da igreja.

Se realmente amarmos nosso próximo como a nós mesmos (Lc 10.27), seremos capazes de nos alegrar com sua felicidade e chorar com sua dor, mesmo que nossa vida esteja em um momento tranquilo, por exemplo. Fazendo isso de forma verdadeira e acolhedora, seremos capazes de nos compadecer, olhar nos olhos dessa pessoa querida que chora e, com gestos de amor, expressar: “Eu vejo você e sua dor” conduzindo-a a entender que “Cristo vê essa dor, passou por ela e venceu”.

Tim Keller oferece uma definição preciosa de amizade: “um amigo une voluntariamente seu coração ao do outro. Ele coloca sua felicidade dentro da felicidade do amigo, de modo que não consegue se sentir emocionalmente bem, a menos que seu amigo também esteja.” Acredito que o mesmo se aplica à tristeza. Chorar com os que choram é um ato de compaixão, de permitir que a dor do outro também entre em nosso coração, compartilhando lágrimas. 

Em Cristo Jesus, como Suas verdadeiras discípulas, somos capacitadas pelo Espírito Santo a amar de maneira vulnerável, oferecendo não apenas o ombro, mas também o abraço, o lamento e o consolo. Choramos com os que sofrem, mesmo em meio aos nossos próprios dias difíceis, mas com a confiança de que, estando nEle, estamos seguras para derramar lágrimas e também para enxugar o pranto daqueles que amamos.

Isso reflete a realidade do “já e ainda não”. Já experimentamos o consolo de Deus, mas ainda aguardamos a vida do outro lado da eternidade, onde haverá alegria sem fim. Hoje, sentimos as gotas das lágrimas ao chorar com alguém, assim como experimentamos gotas de graça quando rimos juntos à mesa com amigos.

Querida, seja lá o que você estiver enfrentando agora, lembre-se: se Jesus chorou, nós também podemos chorar. Podemos derramar nossas dores, anseios e medos, e ainda assim sair completas, preenchidas pelo amor de Cristo, que venceu o dia mais sombrio da história da humanidade. Amém?