Comunicação e tecnologia à serviço do Reino

Se você já ouviu, pelo menos uma vez na vida, que a tecnologia ou as mídias sociais são o mal da sociedade, quero lhe convidar a pegar sua xícara preferida com uma bebida quentinha e sentar-se à nossa mesa. A conversa de hoje pode render boas reflexões, para além deste artigo. Falaremos sobre como Deus pode e quer usar irmãs com dons criativos nas áreas de comunicação e tecnologia, justamente por serem estes alguns dos meios mais eficazes de multiplicar a revelação de seu amor e caráter.

“Se Deus é a fonte de toda bondade, então revelar a si e o seu caráter a nós é uma das coisas mais amorosas que ele poderia fazer”, declarou Jordan Raynor, autor do genial livro “Chamados para criar”. Nesta obra, ele traça um caminho excepcionalmente acolhedor e convidativo a todas as mentes criativas espalhadas pelo mundo, ao jogar luz sobre um interessante aspecto do caráter do nosso bom Deus: Ele é o Deus criador que tomou a iniciativa de preencher o vazio sem forma. Ele criou algo do nada e estabeleceu ordem ao caos. Conhecer esta face de seu caráter é importante para consolidar em nosso íntimo o propósito de nossa vida. Ele nos criou porque nos ama e porque queria compartilhar conosco o amor perfeito que a Trindade experimenta por toda a eternidade. Ele nos criou para, junto com Ele, também criarmos.

Todos os seres humanos possuem a capacidade de criar, cada qual em uma área diferente. Está errada a ideia de que há uma hierarquia de chamados, já que a própria Palavra revela que há diversidade de dons (Romanos 12:6) e, independente da área de atuação, todos devem fazer tudo “de todo o coração, como ao Senhor, não aos homens” (Colossenses 3:23). É óbvio que o ofício desempenhado não deve envolver valores que sejam antagônicos à Palavra, denegrindo a imagem de Deus ou de suas criaturas, ou apontando o caminho oposto ao da cruz. Devemos ser o que Deus nos chamou a ser, glorificando a Ele em tudo o que fizermos.

“Você trabalha com o quê?”

Esta é uma das perguntas mais comuns em conversas com desconhecidos ou pessoas com quem não temos muita afinidade, até mesmo no ambiente da igreja. Há algo intrínseco nesta pergunta, consegue perceber? Conscientemente ou não, damos uns aos outros o valor relacionado aos ofícios profissionais desenvolvidos, sendo que o correto deveria ser agregar valor ao fato de sermos, enquanto cristãos, filhos amados de Deus (1 João 3:1). Isso implica em diversas más interpretações, inclusive a de se julgar mulheres por trabalharem em áreas que não estão enquadradas nos padrões comuns da feminilidade*.

É tão lindo ver como Deus foi criativo em colocar em cada ser humano capacidades plurais para suprir necessidades diversas. Minha amiga e cunhada Adriana é exemplo disso. Bacharel em Ciências da Computação com MBA em Engenharia de Software, ela trabalha com Tecnologia da Informação há 17 anos. Como ela pode refletir a imagem de Cristo nesta área? Uma das formas é desenvolver bons sistemas com eficiência e qualidade, a fim de facilitar o dia a dia das pessoas de diversas formas. Além disso, Deus espera que ela testemunhe de Seu amor aos colegas de trabalho, sendo uma missionária na área de tecnologia. 

Com o desejo de servir com suas capacidades também em sua igreja local, ela se voluntariou para aprimorar o site da igreja. Daí em diante, outras oportunidades surgiram, como auxiliar na estrutura de inscrição do instituto missionário e teológico da igreja, na gravação das pregações em CDs (com o intuito de gerar mais um meio para evangelização), modelar o sistema de secretaria da igreja e, posteriormente, iniciar a transmissão ao vivo dos cultos via redes sociais. Seu talento natural em lidar com tecnologia a levou a expandir o alcance da igreja para além da comunidade local. “A transmissão dos cultos nasceu com o propósito de levar o culto para irmãos que estavam doentes ou com alguma outra impossibilidade de ir à igreja (porque se mudaram para outro país, por exemplo). Tendo já este ministério iniciado quase um ano antes do início da pandemia, estávamos mais preparados para ajudar nossos pastores a manter os cultos mesmo quando as pessoas no geral não podiam sair de casa”, ela conta.

Como as mídias e a tecnologia podem servir ao Reino

Outras duas amigas trabalham no ministério de comunicação da minha igreja, e quero compartilhar o testemunho delas para encorajar a todas vocês que sentem este chamado de servir com estas ferramentas. Ellen veio de outra área, a Administração, na qual atuou com gestão de projetos por 15 anos. Desde 2015, porém, trabalha para o Senhor apoiando igrejas e projetos ministeriais por meio da criação de materiais de divulgação (impressos ou virtuais), criação e edição de vídeos, além de artes gráficas para os mais variados fins e apoio no desenvolvimento de projetos ministeriais de pastores e missionários.

Quando perguntei sua opinião a respeito da importância deste ministério na igreja de Cristo, a resposta me causou muitas reflexões e não posso deixar de compartilhar: “Penso que, se essa fosse a época de Jesus vir e habitar entre nós, ele usaria todos os recursos que estivessem à mão para espalhar o Evangelho. Certamente, não abriria mão de falar olho no olho com as pessoas, mas usaria as ferramentas disponíveis para que sua mensagem chegasse ainda mais longe. Estes recursos permitem que mais pessoas congreguem ou tenham acesso à Palavra de Deus”. 

O mundo de hoje é o da globalização e da comunicação. Empresas prosperam por meio da tecnologia e das mídias ou são criadas para elas. Ao invés de depreciarmos o seu uso, por que não os usarmos como ferramentas propositais? Por que não os exploramos para nos aproximarmos da realidade de nossa geração? É exatamente essa reflexão da Natália, formada em Relações Públicas desde 2012, que atua há mais ou menos 8 anos com Comunicação Corporativa. Desde a época em que atuava no ministério de jovens da igreja, se colocou à disposição para apoiar com o conhecimento que tinha em comunicação.

“No momento em que vivemos, as redes sociais se tornaram parte da nossa rotina. Para qualquer lugar, seja você novo ou mais maduro, o smartphone é sua companhia constante. Por isso, ainda que não sejamos desse mundo, precisamos buscar as pessoas que estão nele, assim como um dia fomos encontrados e libertos por Cristo. Em nossa época, alguma estratégia de comunicação foi usada conosco para que o Espírito Santo nos levasse ao arrependimento. Atualmente, direta ou indiretamente, as novas formas de comunicação também podem facilitar a chegada da mensagem de Cristo. Em redes de muitos conteúdos, nós temos o melhor de todos”, ela declara.

O ministério de evangelização e edificação do corpo de Cristo por meio das mídias sociais tem um alcance imensurável. Por termos acesso quase que global dos conteúdos, o que criarmos com estas ferramentas também pode chegar bem longe, de forma que somente no céu (se Deus quiser nos revelar lá na eternidade), saberemos o resultado de um vídeo, uma foto ou um texto publicado. De certa forma, isso nos traz um senso de responsabilidade pelo que estamos produzindo, pois pode ser pedra de tropeço na vida de alguém, seja cristão ou não. Precisamos estar em constante submissão ao Espírito Santo e aos ensinamentos da Palavra, para agirmos espiritualmente. Por outro lado, as mídias e a tecnologia podem servir muito bem ao Reino, levando a mensagem de redenção e esperança de formas criativas, seja na manutenção da rede, na configuração de sites, na transmissão de cultos ou na produção de conteúdo bíblico para as redes sociais.

Desafios e recursos necessários

Perguntei às minhas amigas quais são os maiores desafios e eis aqui alguns deles:

  • O trabalho nos bastidores requer bastante dedicação e horas disponíveis para preparar a estrutura para a transmissão, estudar como operar e quais equipamentos usar; são horas dedicadas fora do horário de trabalho secular e fora dos horários dos cultos também (Adriana);
  • Velocidade, e não apenas da que compartilhamos e interagimos com as informações publicadas. Existe velocidade para vermos os resultados, termos ainda mais investimento, tecnologia moderna, novos recursos, entre outras coisas (Natália);
  • Cuidado durante as transmissões, com mensagens e anúncios nos chats que não edificam, até o cuidado com o formato da comunicação e tecnologias que estão em constante mudanças (Ellen).

Acrescento a essa lista o desafio de fazer bem, com os recursos que se tem. A respeito disso, Jordan Raynor diz: “Para glorificar nosso Criador e amar ao próximo, os cristãos devem fazer o trabalho onde podem dar o seu melhor […] Se escolhermos um trabalho que não podemos fazer bem, refletimos mal a Deus, cujo caráter fomos chamados a refletir para o mundo”. O chamado não é a qualquer tipo de serviço, pelo simples fato de servir. Na verdade, trata-se de um chamado à excelência, pois aquele que nos chamou é digno do melhor. “O maior desafio de todos é permanecer como meio e não como o fim nas igrejas, com o foco sempre em Cristo e em Sua Palavra”, confessa Ellen. E que importante é ter isso em mente! 

Se você trabalha nestas áreas em sua igreja ou deseja iniciar um ministério de mídias e tecnologia, aqui vão algumas dicas práticas:

  • Com um smartphone é possível criar comunicações e divulgar as ações da igreja, além, é claro, de evangelizar e ser um canal de salvação. O Instagram e o Youtube são grandes veículos para propagar a mensagem. Mesmo com poucos recursos, a igreja pode fazer lives de devocionais, imagens com frases e versículos bíblicos, tirar fotos das programações, divulgar os eventos, e outras ações deste tipo;
  • Aplicativos como Canva, Grid Post, Lightroom, Mojo, CC Express são bons exemplos de ferramentas gratuitas e bastante criativas;
  • As redes sociais, principalmente Facebook e Instagram, permitem a transmissão de cultos ao vivo das próprias plataformas;
  • É possível utilizar as mesmas webcams que são usadas nos computadores para fazer chamadas de vídeo ou com celulares ou câmeras fotográficas que também são filmadoras (vale lembrar que, quanto melhor for a câmera, melhor será a qualidade de imagem da transmissão);
  • Para boas transmissões simultâneas entre plataformas, é necessário um pouco mais de recursos, como um computador de boa performance, internet banda larga cabeada e uma placa de vídeo dedicada a este fim.

É possível começar mesmo com investimentos baixos e evoluir conforme as possibilidades financeiras da igreja e o aprendizado da equipe. Afinal, o povo de Deus nunca precisou de fartura para avançar, não é mesmo? É evidente que o conhecimento técnico facilita a dinâmica, principalmente se o Espírito a capacitou para trabalhar ministerialmente com tecnologia ou mídias. Mas, não desprezemos a simplicidade, a dedicação e a predisposição em aprender que muitos irmãos certamente têm a oferecer. À medida que o cristão conhece e desenvolve seus dons, pode permanecer ou migrar para outros ministérios que se enquadrem melhor na área de atuação que corresponda ao seu chamado criativo.

Há espaço para servir e há necessidades a suprir. Minha esperança é que esta conversa sirva de incentivo. Se Deus estiver lhe chamando para servir nesta área, venha com o que você tem e seja benção no serviço do Reino. Se já está servindo, siga em frente com humildade e disposição. Pessoas precisam do que você tem a oferecer.

*Para saber mais sobre as implicações do conceito de “Feminilidade exclusiva”, encorajo a leitura de “Ela à imagem dele”, de Francine Veríssimo Walsh.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Abril com o tema “Serviço”. Para ler todos os posts clique AQUI.