Como a família pode cuidar da vida espiritual no lar durante o distanciamento social

Com a pandemia do corona vírus muitas igrejas estão promovendo cultos online e momentos de oração e devoção nas mesmas horas e dias que aconteciam os cultos presenciais, pois alguns estados do nosso país decretaram o fechamento das igrejas para impedir a propagação desse mal invisível. 

Seguimos dando graças a Deus pelo cuidado com nossa saúde sabendo que Ele tem um plano perfeito para nossas vidas e devemos ser gratas por tudo, em especial pela tecnologia que nos permite, mesmo através das telas, ter comunhão com os irmãos de nossas igrejas locais. 

Em algumas igrejas, há também programações online para crianças, adolescentes e jovens. Professores desses dois departamentos se desdobram e viram “youtubers” para conseguir levar a mensagem de Deus até os lares. E foi dentro desse contexto que vi a necessidade de trazer o assunto desse texto à tona. 

O mundo atual terceirizou muitos aspectos da vida em família. O ensino das escrituras e a adoração a Deus não ficaram de fora desse novo caminho de conduzi-la. Um caminho totalmente fora dos padrões bíblicos. 

É de responsabilidade inteira dos pais conduzirem seus filhos a adoração a Deus dentro do lar e não há desculpas para os pais cristãos não levarem seus filhos a Cristo dentro de suas casas. 

Deus organizou os seres humanos em famílias e é da vontade dEle, como vemos pelo exemplo de Josué, que a adoração ou o culto a Ele não seja algo opcional em cada família. Em Josué 24 lemos que toda a sua casa servia em adoração ao Senhor todos os dias de suas vidas. Todos os dias. 

O que vejo nessa época de pais mais presentes em casa e filhos sem poder sair é que não há rotina de comunhão e adoração a Deus em quase nenhum lar. A dificuldade que agora os pais talvez tenham em fazer com que os filhos assistam ou interajam com os vídeos enviados pelos departamentos das igrejas locais é o reflexo da falta de comprometimento com a busca pela santidade familiar que possivelmente existe dentro das casas. 

Trazendo Jesus para dentro dos lares

Algumas famílias limitam o tempo de adoração a Deus em suas casas a uma breve, e às vezes superficial, oração antes das refeições e ao deitar. Posso lhe assegurar que somente essas orações não são suficientes se quisermos convencer nossos filhos que o cristianismo é verdadeiro e deve ser seguido. 

É claro que a oração deve ser parte relevante da adoração dentro dos lares. As famílias devem orar juntas diariamente. Se pecamos diariamente, então a confissão pelos pecados através da oração deve ser diária também. A oração é somente um dos aspectos da adoração familiar. 

O entoar de cânticos e a leitura bíblica são outros aspectos para uma adoração bem sucedida. Não existe nada mais agradável dentro de um lar do que entoar hinos e louvores ao Senhor. Se você tem algum filho com o dom da música, aproveite. Lembrando sempre que o louvor a Deus não exige afinação ou talentos com instrumentos. A ordem do Senhor é que todo ser que vive e respira louve ao Senhor independente de talento ou não. A adoração a Deus através do louvor traz paz e alegria: “… está alguém alegre? Cante louvores.” (Tiago 5:13) 

A instrução diária da palavra de Deus, além de promover uma interação entre pais e filhos, possibilitará a ordem dada em Deuteronômio 6; 6 e 7: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.” Sem esses aspectos nossos filhos não aprenderão normas e princípios da palavra de Deus e a sua autoridade para uma genuína vida cristã.  

A nossa família foi algo projetado por Deus e sermos leais a Ele através do culto doméstico é um ato de devoção total. Sim irmãs, estou falando desde o início do texto do tão esquecido e negligenciado “culto doméstico”. Vemos nas literaturas cristãs que desde o século 18 ele é visto como um pilar para o crescimento saudável das igrejas e comunidades.  Mas, nesse contexto de modernidade líquida que vivemos, nesse imediatismo, a rotina de adoração a Deus em família (ou culto doméstico, chame como quiser) não existe mais. Os objetivos da criação de filhos em um lar cristão são mais notáveis e respeitáveis do que um conforto momentâneo. 

Muitas são as desculpas para a não realização desse momento: “não tenho tempo”, “meus filhos são muito pequenos”, “meu marido trabalha muito e nunca está em casa”, entre outras. Estou certa de que essas desculpas realmente parecem grandes impasses, mas temos os recursos em Cristo para realizar esse momento. 

O dever patriarcal desses minutos com o Senhor dentro dos lares é indiscutível e bíblico, porém nosso papel como ajudadoras idôneas será de grande e sólida contribuição. Comece com sua devoção pessoal. Devemos ansiar a presença de Deus em nossas vidas e pedir por piedade e disciplina para conduzirmos a família que Deus nos proveu em adoração, mesmo se formos as únicas capazes de assim o fazer. 

Como devemos proceder? 

A cada culto doméstico que fazemos em nossos lares, estaremos conduzindo nossos filhos à presença de Deus. O bem estar de nossa família deve ser nossa prioridade. Não faça desses momentos algo enfadonho ou cansativo. Envolva todos, seja na preparação do lugar (acender as luzes, colocar almofadas) ou, na leitura de um trecho da Bíblia. 

Use bons livros devocionais, hinários e até mesmo o testemunho de como foi o dia de alguém da família para introduzir a bíblia nesses breves momentos. Seu culto doméstico deve ser agradável e atender à necessidade e a realidade dos seus entes queridos. Crianças pequenas não se concentram por mais de quinze minutos e os mais crescidos podem estar cansados dos afazeres diários e não terão grande proveito em longos devocionais. Seja, então, breve. “Que o culto doméstico seja curto, agradável, simples, terno e celestial”, disse Richard Cecil.

Tenham consciência da importância de um equilíbrio: não abandone os instantes diários de adoração familiar por estabelecer uma rotina idealista ou por achar que esse evento está longe de ser alcançado por vocês.  

Oremos para que Deus use a palavra dEle para nutrir seus corações. Oremos para que Deus nos revista de autoridade para conduzir nossos filhos à orientação do nosso Salvador. Oremos para que Deus nos use e nossos maridos para instruir nossas famílias e que possamos dar o exemplo necessário para levá-los a uma adoração verdadeira. Lembre-se: um cristão deve ser cristão em todos os lugares, mas o primeiro é dentro de casa.  

Oremos pela persistência. Lembro-me sempre que o maná caia todos os dias para alimentar o povo de Deus. Diariamente, o povo escolhido recebia alimento vindo do alto. Essa verdade vem junto com outra: “nem só de pão viverá… mas de toda palavra” – não há desculpas para passar um dia sem nos alimentarmos dos ensinamentos de nosso Senhor; oremos pela luta contra os inimigos desse tempo de culto.

Por fim, nossos filhos são nosso grande ministério. Estamos preparando futuros propagadores do evangelho de Cristo e conforme as coisas forem dentro de nossas casas, elas serão fora dela. Saiba que a adoração iniciada no lar poderá permanecer por várias gerações. No Salmo 78: 5-7 vemos isso: “Pois ele estabeleceu seus preceitos a Jacó, deu sua lei a Israel. Ordenou a nossos antepassados que a ensinassem a seus filhos, para que a geração seguinte, os filhos ainda por nascer,
a conhecesse, e eles, por sua vez, a ensinarão a seus filhos. Portanto, cada geração deve pôr sua esperança em Deus, não esquecer seus poderosos feitos e obedecer a seus mandamentos.”

De uma coisa estou certa: nossa principal motivação para estabelecer a adoração em família ou o culto doméstico é o amor a Deus e o amor à sua Igreja. Deus deseja que uma geração siga a outra nos caminhos dEle. Que possamos dar às nossas igrejas filhos e filhas espiritualmente fiéis.

Pensar que muitas famílias nunca mostraram fidelidade a Deus através do ensino de suas verdades dentro do âmbito familiar é algo entristecedor para mim. Lembro-me de minha avó materna com a sua Bíblia de letra gigante aberta embaixo da janela do seu quarto, onde a luz do sol da manhã era mais forte e possibilitava a leitura. Essa cena diária me fez crescer sabendo que ali, naquele lar, que foi o meu muitas vezes, havia adoração ao Único que é digno.

O meu desejo é que, assim como a minha família, as de vocês possam crescer tendo exemplos de fidelidade. Não espere o momento ideal, ele não existirá. Tenham disposição e paciência. Mostre referência e disciplina: culto doméstico não é entretenimento e sim adoração a Deus. Crie um ambiente familiar para que seus filhos possam se sentir seguros a falar sobre os sentimentos deles. Seja exemplo. E reflita: nesse momento de isolamento e distanciamento, que memórias você quer deixar para eles?