Chamadas ao Aconselhamento

Aconselhamento bíblico é um tema precioso demais, rico em sabedoria que vem da pessoa de Jesus Cristo e com muitas metodologias que visam alcançar os diferentes problemas que rodeiam nossa vida terrena. Ao mesmo tempo em que vai na contramão da sabedoria popular e de teorias que exaltam o ego, o aconselhamento busca trazer-nos de volta ao molde criado por Deus em fazer-nos parecidas com Cristo, tendo os mesmos pensamentos, sentimentos e atitudes que Ele espera de nós.

É verdade que algumas pessoas possuem habilidades específicas para o aconselhamento cristão. Também é verdade que alguns ministérios exigem certo preparo para lidar com essa necessidade, como é o caso de pastores e líderes. Mas, não podemos criar barreiras e fugir da responsabilidade enquanto cristãs de que somos chamadas ao discipulado, ao caminhar mútuo, ao “uns aos outros”. Fomos todas chamadas ao aconselhamento.

Talvez você esteja pensando que esse artigo não é para você e já até pensou em alguém diretamente envolvido com aconselhamento a quem enviar, como forma de incentivo. Mas, convido-lhe a ficar um pouquinho a mais conosco, para que possamos refletir sobre o assunto.

Um chamado sem distinções

A igreja de Cristo é rica em diversidade e é extremamente importante descobrir onde podemos melhor servir, de acordo com aquilo que o Senhor nos presenteou (dons espirituais da salvação – 1 Co 14:12). Você não deve, de forma alguma, forçar o seu enquadramento em um ministério com o qual não se identifica, pois servir a Deus nunca deve se tornar um fardo. É, antes de tudo, uma honra ser útil ao Reino por meio daquilo que Deus nos dá.

Porém, chama a minha atenção a quantidade de textos bíblicos que apontam para importância de relacionamentos interpessoais. Eles se referem a pessoas exortando e edificando umas às outras (1 Ts 5:11), consolando (1 Ts 4:18), estimulando-se ao amor e às boas obras (Hb 10:24), agindo com benignidade e misericórdia (Ef 4:32) e dividindo as cargas (Gl 6:2). Esses, querida irmã, são atributos do aconselhamento e do discipulado, portanto, são direcionados a qualquer membro da igreja.

Em um folheto distribuído a novos membros da Capitol Hill Baptist Church, disponibilizado também no site do Ministério Fiel, encontramos a definição de discipulado como sendo o “encorajamento intencional e o treinamento de discípulos de Jesus com base em relacionamentos deliberadamente amorosos.”

“Jesus nos diz para acompanharmos uns aos outros deste modo: ‘O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei’ (João 15.12). Como Jesus amou os seus discípulos de maneiras que possam ser imitadas? Ele os amou intencional, propositada, humilde, alegre e normalmente.”[1]

Não é necessário fazer um curso de aconselhamento ou discipulado para aprender a amar o próximo. Esse é um mandamento e também uma dádiva da nossa salvação que vai sendo multiplicada à medida que nos esforçamos em ser igreja. Por isso, este chamado é para todos os salvos, inclusive os mais tímidos.

Quando você menos esperar, um irmão em Cristo estará sentado ao seu lado, compartilhando a vida e, possivelmente, pedindo um conselho ou um apoio espiritual. E agora?

Não é sobre nós

Compartilho do frio na barriga que ocorre quando a situação acima se torna realidade. Mas, deixe-me acalmar seu coração: você não precisa se cobrar tanto, pois o aconselhamento bíblico não é sobre nós, muito menos sobre a pessoa que nos procura.

Durante a palestra “O evangelho e o aconselhamento”, da Conferência Fiel para Mulheres, que aconteceu no fim de Julho deste ano, a autora Elyse Fitzpatrick disse: “Não há nada em você ou em mim ou feito por você e por mim pelo qual somos aceitáveis a Deus. Devemos sempre ser aceitas pela obra de Cristo, ou nós nunca seremos aceitas. Sempre é e sempre será por causa do sangue e da justiça de Jesus. O aconselhamento bíblico é o que aponta essas verdades do Evangelho.”

Quando o Senhor Jesus nos manda uma pessoa para auxiliar e aconselhar, Ele não espera de nós soluções mirabolantes ou palavras filosóficas. Ele espera que apontemos a cruz, que lembremos a pessoa do amor incomparável de Cristo, da condição humana, da Graça transformadora e da importância do sangue de Jesus, acima de qualquer esforço humano.

Então, você me pergunta: como apontar verdades do Evangelho se o que a pessoa me pede é um conselho pessoal? Bem, todas as nossas questões pessoais possuem motivações mais profundas do que podemos enxergar e talvez leve algum tempo para distinguir o que está no profundo da alma. Para começar, não seja leviana nas palavras, não menospreze o sentimento do outro, tampouco trate-o como inferior por lidar de forma “imatura” com algo que você já teria facilmente resolvido. Ouça esta pessoa com atenção, identifique se ela realmente busca um conselho ou apenas quer desabafar (neste caso, ser uma boa ouvinte é suficiente), e pense em como Cristo se encaixa na situação. Como o exemplo que Ele deixou se aplicaria na condição dessa pessoa? Como Jesus a orientaria? Que tipo de palavras ela precisa ouvir?

Durante sua palestra, Elyse também disse que “o objetivo do aconselhamento é que seu irmão ou irmã que precisa de conselhos cresça em entendimento do evangelho e como ele se aplica a todas as áreas de sua vida, e possa responder em grata obediência, não no intuito de ganhar algo de Deus ou provar algo a Deus, mas porque já recebemos muito e para que possamos crescer em obediência em todas as circunstâncias, para a edificação da igreja e para a glória de Deus”.

Em resumo, apresente o Evangelho de forma prática, dependa do Senhor, medite constantemente na Palavra, se submeta à orientação do Espírito Santo e esteja pronta para servir sua irmão ou seu irmão quando o Senhor lhe pedir. Não existe uma fórmula perfeita, mas um Deus perfeito que deseja sarar nossas feridas. Não é sobre nós. Não é por nós. É tudo sobre Jesus.

“Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus”  2 Coríntios 3:5

Lidando com situações delicadas

Precisamos ter em mente que Deus pode colocar em nosso caminho pessoas que estão enfrentando situações delicadas, como doenças, problemas emocionais, crises familiares, luta contra pecados, ou outros assuntos difíceis. Nessas horas, minha irmã, é preciso vencer nossa tendência de dar respostas prontas ou simplistas. Revista-se de coragem, e siga em frente, Deus também pode lhe usar nesses momentos.

Porém, faço aqui uma pausa para lembrar que não precisamos carregar esse fardo sozinhas. O Senhor levantou pastores e pessoas capacitadas para lidar com essas situações. Ao se sentir temerosa em lidar com alguma situação, ou até mesmo incapaz de tratar de situações que fogem de seu domínio, encaminhe essa pessoa a um líder espiritual de sua confiança. Procure seu pastor, peça orientações e, se tiver oportunidade, acompanhe a pessoa em uma conversa com seu líder. Há uma grande possibilidade dela se sentir intimidada em conversar com alguém que não conhece bem, mas se você estiver junto, isso poderá encorajá-la a buscar uma ajuda específica.

Há assuntos que necessitam mais do que uma conversa. Muitos casos de aconselhamento espiritual são tratados durante semanas ou até anos em gabinetes pastorais ou discipulado. Se isso ocorrer com alguém que inicialmente lhe pediu ajuda, tenha em mente que não se trata de um fracasso enquanto conselheira. Como eu comentei no início, Deus levanta e capacita pessoas com habilidades específicas para o aconselhamento cristão. Vá até onde conseguir, ame as pessoas que Deus lhe mandar, mas permita que o corpo de Cristo lhe ajude a suportar a carga, quando ficar pesado demais.

Ao abordar esse aspecto do aconselhamento, Elyse também ressalta que este é um processo de se aproximar do outro com palavras da Verdade para encorajar, admoestar, confortar e ajudar:

  • Encorajar a lembrar que os nossos pecados já foram perdoados pelo poder do sangue de Jesus;
  • Admoestar a não ouvir as palavras do diabo, quando ele lança dúvidas e diz que Deus não nos ama e nem aceita;
  • Confortar quando se está lutando e perguntando se Deus ainda pode amar depois de tudo o que aconteceu;
  • Ajudar a levantar os olhos para a esperança que há em Cristo

Nós sabemos que a Palavra nos traz princípios e diretrizes de como agir. Entretanto, no aconselhamento devemos evitar a imposição de regras do que fazer ou não fazer, pois regras não nos mudam. Apenas o Evangelho nos muda. Ao caminhar com uma pessoa em discipulado e aconselhamento, precisamos lembrar constantemente o quanto ela é amada por Deus. Regras são úteis, mas não para nos escravizar, e sim correr para Jesus. Os próprios mandamentos, criados pelo próprio Deus, não foram feitos para nos condenar, mas para mostrar que somos todos pecadoras e falhas, mas também amadas e bem-vindas. Não pelo que somos ou fizemos, mas pelo que Ele é e fez no Calvário.

O reverendo Augustus Nicodemus disse em sua palestra “A igreja e o aconselhamento”, também da Conferência Fiel,  que “a única terapia que pode ser feita em nome de Jesus é o aconselhamento bíblico, pois visa trazer à mente de quem estamos aconselhando a sabedoria que reside na pessoa de Cristo, além de ressaltar a gratidão por tudo aquilo que Deus fez por nós”. Gosto dessa definição, pois pela obra redentora de Cristo em nós, estamos aptas a amar, acolher e direcionar pessoas, mesmo sem o “cargo” de conselheiras ou terapeutas.

É importante frisar que terapias não se caracterizam como pecado e podem ser muito úteis, quando feitas por bons profissionais. Entretanto, não podemos depender delas para que nosso coração seja mudado. A Bíblia nos ensina que nossas vidas devem ser guiadas pela orientação contida nas palavras próprio Deus, como podemos ver em 2 Timóteo 3, versículos 16 e 17:

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.”

Minha oração é que estas verdades lhe encorajem e direcionem à benção do aconselhamento bíblico. Em um mundo caído e com tantas lutas que temos enfrentado, será um refrigério encontrarmos mais cristãos dispostos a viverem o lema “Uns aos Outros”.


[1] https://ministeriofiel.com.br/artigos/discipulado-o-que-e-o-que-fazer-e-como-comecar/