Casamento ou celibato – há um chamado elevado?

Há algo que me deixa profundamente entristecida no meio cristão: a separação no próprio corpo de Cristo entre as mulheres que estão numa aliança matrimonial e as que não receberam ainda, e talvez nunca receberão o dom do casamento. Mulheres cristãs que apontam o casamento como um pedaço do céu na terra e, “pobre daquela que não se agarrar a isso o quanto antes, essa jamais será uma criatura inteira”. Querida amiga, não se engane, não é porque não acontece com você ou próximo a você, que tal coisa não existe.

Tem sido cada vez mais evidente a idolatria do casamento, e muitas vezes disfarçada de piedade. Irmãs queridas em Cristo que fazem disso o centro de toda existência e o ápice da nossa fé, como se a mulher cristã tivesse apenas um propósito na vida e esse propósito só se cumprisse por meio do casamento. Mas nós precisamos sair da nossa bolha para então reconhecer que não vivemos numa realidade onde isso é possível para todas, e sequer isso é a vontade de Deus para todas.

Colocar o casamento acima de tudo na vida de uma mulher como algo elevado e mais honroso, é idolatrar o matrimônio, e mais, é excluir da graça as viúvas, as mulheres que embora tenham sido regeneradas e perdoadas continuam a sentir atração por pessoas do mesmo sexo e precisam do celibato para crescerem em santidade, e outras mulheres que não têm sequer uma perspectiva de se casar um dia. É menosprezar um dom do próprio Criador. Afirmar que o casamento glorifica mais a Deus é ignorar que todos somos feitos à Sua imagem e somos parte da família de Deus, e isso não se dá por meio do casamento, mas pelo sangue de Cristo, que une a Ele todas as pessoas que Ele quiser chamar.

Embora o casamento seja um chamado glorioso, não é superior ao celibato, pois o casamento por si só não glorifica mais a Deus. O matrimônio é algo glorioso por vários motivos e um dos principais é porque ele aponta para o evangelho e um grande mistério: representa o casamento glorioso entre Cristo e a Igreja. São duas criaturas de Deus, homem e mulher, que se tornam uma só carne e vivem um para o outro numa relação de amor sacrificial e serviço, e isso é algo maravilhoso! O casamento é uma parábola viva do Noivo e da Noiva, um emaranhado de amor, sacrifício, serviço, submissão, liderança.

Não há dúvidas também que a família cristã é um meio da propagação do evangelho. Deus constituiu a família – Deus ordenou na criação que o homem se multiplicasse, e o meio seguro e legítimo para essa multiplicação era e é o casamento. Mas não podemos afirmar, como se houvesse uma base bíblica para tal afirmação, que por esse motivo o casamento pode ser considerado um chamado elevado. O casamento não é o principal alvo da vida cristã, conhecer a Cristo e depositar a confiança em sua obra perfeita na Cruz, esse sim é o nosso alvo. Mesmo em sua mais alta glória, o casamento não detém toda a glória para si.

O apóstolo Paulo em 1 Coríntios 7 afirma que, quem é solteiro tem mais tempo para se dedicar às coisas do Senhor, mas é igualmente honroso como o casamento. Essas afirmações do apóstolo sobre casar/não casar, revelam que ele não obriga os crentes ao celibato e nem ao casamento. Ele está dizendo que nem um, nem outro estão pecando. No estado marital, a preocupação fica dividida entre o cônjuge, filhos e outras preocupações, e no celibato as preocupações são voltadas para o Senhor. Embora sejam dois termos absolutos, eles não são comparativos.

A perspectiva escatológica deve sempre guiar a nossa atitude em relação às coisas temporais e temporárias. Elevar o casamento é ignorar a finitude de todo ser humano, é ignorar que o casamento dura enquanto durar a vida. É ignorar a fala do próprio Senhor Jesus, quando afirma que ninguém é dado em casamento no céu. Lá já estaremos casadas com nosso Marido Eterno, Perfeito e Glorioso.

Celibato e casamento – dádivas de Deus

O celibato é um dom, há os que receberam o dom da continência, logo, do celibato; há outros que foram colocados sob a necessidade de se juntar. Mas ambos são dons de Deus. O casado não glorifica mais a Cristo pelo fato de ser casado, e embora o casamento seja uma ordenança criacional, não é uma obrigação para todos. Isso mesmo: ninguém é obrigado por Deus a se casar. Deus não te ama menos se você for celibatária. Cada uma deve considerar o que recebeu de Deus e glorifica-Lo como foi chamada.

Precisamos crer, querida amiga, que o próprio Senhor nos conduz em amor à uma vida que O honre, e para algumas mulheres, o caminho a ser percorrido é do casamento, mas para outras, a vida celibatária. Em ambos estados Deus é glorificado. O motivo para casar ou não casar não pode ser guiado por impulsos ou caprichos, mas por considerações que promovam e conservem os interesses da piedade. Colocar o casamento como um dom elevado, automaticamente menospreza os que não recebem este dom. Há quem viva uma vida celibatária que glorifique e represente muito melhor a Cristo do que alguns casamentos.

Nada, absolutamente nada, nem o mais harmonioso e perfeito casamento, pode nos preencher e nos satisfazer por completo. Isso só se dá num relacionamento íntimo e profundo com o nosso verdadeiro Noivo. Colocar em qualquer outro lugar nossa confiança senão em Cristo, é percorrer por um caminho que leva à destruição.

Há irmãs que carregam feridas profundas causadas por terem acreditado um dia que precisavam de uma outra pessoa para serem a perfeita representação de Cristo, quando na verdade o que precisavam era somente do próprio Cristo. Há irmãs que carregam cicatrizes de um casamento falido e pensam que por causa disso são menos merecedoras da graça de Deus. Há irmãs que perderam seu amado e não têm mais esperança de “serem completas” novamente. Há irmãs adoecidas por pensarem ser menos valiosas aos olhos do Senhor por não estarem numa aliança marital. Amadas, nesta palavra quero trazer esperança para todas nós: haverá um casamento final, entre Cristo e a Igreja. Haverá um dia em que todas nós seremos finalmente casadas com nosso amado, fiel e verdadeiro Noivo, e esse é o único casamento que vai perdurar eternamente e por isso, devemos preocupar mais em nos adornar em santidade para esse grande dia, esse deve ser nosso anseio, nosso meditar e nosso viver aqui deste lado da eternidade. O casamento aqui, finito e limitado, deve apontar para este casamento que é eterno e glorioso, no sentido de revelar amor, alegria, regozijo e entrega.

Todas nós, solteiras e casadas, somos preenchidas e satisfeitas plenamente somente no amor de nosso Criador. Todas nós, independente do estado civil precisamos unicamente do sangue de Cristo para nos levar de volta ao Senhor e restaurar nosso relacionamento com Ele. Ele nos criou com o propósito de glorifica-Lo e ter prazer Nele, e Ele mesmo nos conduzirá à caminhos que nos levem a isso. É de extrema urgência parar de constranger nossas irmãs as empurrando para os portões dourados do matrimônio e conduzi-las amorosamente a buscar a Deus sobre todas as coisas, e fazer tudo que pudermos para incentivá-las a conhecer e amar o Senhor com toda força de coração e entendimento. Precisamos antes de ensinar sobre a beleza do matrimônio e da família e de como isso glorifica a Deus, ensinar sobre Deus, a verdadeira Beleza, o dono de todas essas coisas. Fora disso, o ensino é vazio e hipócrita. Todos nós, homens e mulheres temos o mesmo propósito: glorificar a Deus à medida que crescemos em semelhança a Cristo.