Casamento: Comunicação

Logo no início do meu casamento, achei que esse assunto seria “fichinha” para uma social media super comunicativa como eu. “Trabalho com comunicação o tempo inteiro, vou dominar esse tópico no nosso relacionamento!”, pensei. Eu sempre gostei de falar, nunca me faltaram palavras quando me era dada a oportunidade. “Você é muito comunicativa, se expressa bem!”, era o que eu mais ouvia desde a minha infância. Ter dificuldades no diálogo dentro do casamento estava fora de questão. O problema é que eu tinha esquecido de um pequeno detalhe nisso tudo: a comunicação no casamento não é um monólogo egoísta da esposa comunicadora que adora falar pelos cotovelos, mas um diálogo entre duas pessoas diferentes que constantemente precisam entrar em consenso e concordância para a tomada de decisões que atingem as suas vidas e de toda a família.

Foi preciso lembrar-me que a comunicação no casamento acontece a partir de um diálogo. Duas pessoas diferentes e vulneráveis, que expõem seus pensamentos e incertezas sem medo de julgamento, dedos apontados ou feições de desgosto. Precisamos estar sob a luz das Sagradas Escrituras para ter um casamento saudável e livre de más interpretações. O diálogo pode não ser a receita pronta do casamento, mas, com certeza, é um ingrediente base. Sem fermento o bolo cresce? Não. Assim é com o bom diálogo: sem comunicação não há crescimento no matrimônio. 

“Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se.” (Tiago 1:19)

Prontos para ouvir

Não saber ouvir é um dos grandes desafios que precisamos lidar na comunicação. Só pode haver compreensão quando aprendemos a silenciar os nossos pensamentos e falas prontas e começamos a ouvir o que o outro tem a dizer. Eu sou uma daquelas que fala demais. É fácil abrir a boca e soltar um sermão não preparado, mas cheio de conhecimento a fim de receber aplausos que massageiam o ego ao ser vista como “mais sábia” aos olhos dos outros. Difícil mesmo é guardar as nossas ideias e esperar pacientemente até que o outro se expresse. No seu tempo. Na sua maneira de falar. Com o seu sentimento. Do seu ponto de vista.

Se ouvir é difícil, compreender, então, requer de nós a sabedoria de sermos mais parecidas com Jesus e ter a mansidão do Senhor Jesus quando, mesmo com toda a onisciência do Pai e conhecendo todos os corações, Ele pacientemente ouvia. Jesus ao sol do meio-dia ouviu a mulher samaritana (cf. Jo 4). Jesus ouviu um centurião desesperado pedindo a cura de seu servo (cf. Mt 8:5-13). Jesus ouviu os seus discípulos temerosos, amedrontados, incertos do futuro ainda que tivessem ouvido do seu Mestre que Ele ressuscitaria, pois o Pai estava com Ele… Jesus, sabendo de tudo isso, os ouviu e os amou. Jesus ouvia.

Ouvir é o primeiro passo para obter a sabedoria em um diálogo. No matrimônio, nós servimos ao outro; portanto, devemos trazer isso a mente sempre que tivermos uma conversa. No diálogo, nós ouvimos primeiro.

Como já disse Tim Keller em O Significado do Casamento: “Procure servir ao outro em vez de tentar ser feliz e você encontrará uma felicidade nova e mais profunda.” Quando paramos para ouvir o nosso cônjuge estamos lhe dizendo alguma coisa: que o que ele tem a dizer é importante para nós e merece a nossa atenção. Não é à toa que a Palavra nos exorta a sermos prontos para ouvir. Porque ouvir é sempre oportuno. É serviço! É um ato de amor.

Tardios para falar

É fato que proporcional a não sabermos ouvir, é não sabermos falar. O desafio do casamento está em conseguirmos falar o certo na hora certa, no lugar certo e da maneira certa. Muitas vezes é até legítimo o que queremos falar, mas é equivocado acharmos que podemos falar em qualquer lugar, a qualquer momento, de qualquer jeito. O tom errado pode mudar todo o sentido de uma frase. Por que será que usamos a expressão “falar a verdade em amor”? 

“Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.” (Tiago 3:2)

Tropeçamos no falar quando nossas palavras não acompanham o fruto do Espírito Santo, ou quando não buscamos a sabedoria que vem do Senhor, ou quando queremos (ainda que algumas vezes errados) estar com a razão em todas as situações.

E essa é uma dificuldade que não parece ser problema para muitos na nossa sociedade, na verdade é um reflexo do que a cultura já nos ensinava antigamente. Para muitas pessoas está tudo bem a mulher falar demais, afirmam ser “normal da mulher”. Eu não quero aqui generalizar erroneamente e dizer que todas as mulheres são assim porque, de fato, não somos. Deus nos criou diferentes umas das outras, assim como nos criou diferentes dos homens; homem e mulher os criou (cf. Gn 1:27). Compreender as nossas diferenças nos torna mais íntimos um do outro. Logo, o que aprendemos aqui é que temos a capacidade de avaliar se temos a tendência de falar muito e não dar espaço para o outro ou se, ao contrário disso, somos fechadas demais ao ponto de não expressarmos o que sentimos e deixarmos que o silêncio fale por nós. Nenhum desses extremos é saudável no casamento. Se apoiar no silêncio como fuga de um diálogo pode se tornar uma fraqueza no relacionamento. Falar demais e não falar nada é igualmente perigoso. 

Mais uma vez, é necessário voltarmos os olhos para Jesus. O Mestre sabia o que estava fazendo. Ele compreendeu para quem deveria falar, onde deveria falar e quando deveria falar. O discipulado de Jesus nos mostra que é na intimidade com os seus discípulos que ele lhes dá a interpretação de suas parábolas (cf. Mt. 13:10-15). 

Tardios para irar-se

Leiam com amor o que tenho a lhes dizer: a ira pode ser inevitável na grande maioria das vezes. O “tardio” para irar-se não impede a ira, mas adia a explosão do nosso temperamento, ao ponto dela poder se dissipar e você já nem lembrar o porquê de tal sentimento. Um conselho que recebi da avó do meu esposo enquanto estávamos no processo de noivado foi um dos mais importantes, daqueles que eu levo comigo e nos momentos de ira relembro em minha mente. Ela nos dizia que nunca, em hipótese nenhuma, deveríamos dormir intrigados sem nos falar. Ora, no mesmo instante, lembrei que na Bíblia já havia lido conselho parecido e que não poderia passar despercebido.

“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira; nem deis lugar ao Diabo.” (Efésios 4:26-27).

Enquanto Tiago nos alerta para sermos demorados para a ira, Paulo nos exorta de que ao nos irarmos, não pequemos. A ira poderá surgir em determinadas situações, mas o pecado nasce quando deixamos que ela penetre os nossos corações e faça morada alimentando nosso orgulho e inflando nosso ego. E tudo isso pode acontecer enquanto deixamos que o dia acabe sem que haja comunicação. 

O silêncio pode ser tão ardiloso quanto os gritos em momentos de ira. Sei que às vezes pode ser mais fácil calar, mas isso não significa resolver, isso significaria fugir. E quando fugimos de enfrentar os nossos problemas, damos o lugar a alguém mais interessado em destruir o matrimônio: o diabo. Não durmam irados. Não deixem que o silêncio fale por vocês. Não deem lugar ao maligno. 

Entendo que a boa comunicação no casamento não é uma questão de saber quem vai estar certo e quem será o errado. Não estamos em um debate presidencial no qual os argumentos são usados para tirar vantagens dos erros do outro. Diante de Deus nos tornamos um. Jogamos no mesmo time. Caminhamos juntos para o mesmo Alvo. As decisões afetarão o mesmo teto. O casamento não é uma competição, é uma jornada compartilhada e aprender a reconhecer os nossos erros vai ser tão vital na vida a dois quanto saber perdoar o erro de quem amamos sem julgamentos.

Se você chegou até aqui e acha que não vai conseguir incluir esses conselhos bíblicos na sua vida conjugal, deixa eu compartilhar um pouco da minha história:

A experiência mais desafiadora no meu casamento aconteceu logo nos primeiros meses. Casamos e, após a lua de mel, mudamos de país pelo fato do Guilherme ter passado para um doutorado em Portugal. Durante 3 meses, vivemos em um estúdio universitário (ou T0 como chamam) com menos de 20m². A cama era dentro da cozinha, a pequena 

mesa para comer era entre o banheiro e a porta de entrada, tínhamos malas por todos os lados e dividiamos um mini guarda-roupa entre nossas roupas, a roupa de cama e os utensílios de limpeza. Éramos dois jovens longe de toda família, longe da nossa cultura e longe de qualquer coisa que nos parecesse familiar. Só tínhamos um ao outro, só tínhamos a Deus. Os votos “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe” faziam mais sentido do que nunca! Nos piores momentos de conflitos e desentendimentos, a única opção válida era a comunicação e, em alguns momentos, o orgulho vencia a humildade. Até que um dia lembramos do conselho da amada Vó Maria: “não durmam brigados“. Não foi fácil nem tão pouco perfeito, mas foi um tempo precioso em que o ouvir era essencial, o falar era preciso e o adiar a ira era vital.

Um recado para as casadas e solteiras: é nos relacionando com Jesus e observando como Ele se relaciona com a sua Igreja que aprenderemos a nos comunicar com o nosso cônjuge de maneira sábia e bíblica.


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