Casamento: Ciúme

Eu queria achar a brincadeira mais divertida para fazer minha pequena priminha rir. Será que um doce resolveria? O que mais eu poderia fazer para conquistar sua amizade e completa admiração? Nada, nada adiantava apesar de tentar meus melhores truques. Ninguém conseguia ver, mas eu via, sentia e quase podia tocar. Aquele sentimento estava ali presente em nossa roda, mas escondido dentro de mim, e algo me dizia que não havia beleza naquele sentimento. O fato de não ser eu a prima favorita me deixava perplexa e confusa. A favorita? Ah, a favorita  era mais velha, mais corajosa, mais independente… é claro que seria ela! 

Eu sentava lá, na beirada do sofá, observando-as interagirem; no meu rosto um sorriso mais amarelo que pequi cozido, enquanto aquele novo, esquisito e terrível sentimento me corroía por dentro, encolhendo minha alegria e deixando gosto amargo na boca. Aqui está minha mais antiga memória do ciúme. 

Os anos passam e com o passar deles, o ciúme vai ficando mais elaborado, mais disfarçado e mais tóxico. Eu sabia que meu controle era muito pequeno sobre essas situações, enquanto eu também sabia que toda vez que o percebia, eu não fazia o menor esforço para jogá-lo para longe, chutá-lo porta afora. Ao invés disso, eu “marinava” naquelas águas amargas, porque, afinal de contas, o ciúme era quase como meu aliado. Ele me entendia, me dizia que eu tinha razão, me lembrando de todas as evidências, do fato de que eu era a vítima e que eu deveria ir sempre à luta pelo que era meu.

O ciúme é uma reação doída de alguém presa na ideia de que está prestes a perder o que antes tinha ou pensava ter. É uma das mais terríveis doenças do ego, fazendo com que ele inche ao mesmo tempo que o adoece. É uma prova do fato de que talvez não seja amada, desejada ou querida como se esperava. O ciúme convida a insegurança e a ira para nos fazerem companhia, e esse triângulo nos corrói de dentro para fora, distorcendo nossa perspectiva sobre os outros, sobre nós mesmas, e intoxicando nossa mente. 

Mesmo assim, brincamos com fogo. Deixamos o ciúme ali do lado, até porque ninguém parece estar sendo prejudicado pela sua existência. Quando falamos em pecado e analisamos o estado do nosso coração, fazemos vista grossa quando passamos a lupa pelo cantinho do ciúme e cada vez mais, dizemos que ele é bem-vindo, que fique confortável, que se sinta  em casa.

O plano de Deus para um casamento saudável e frutífero é um relacionamento em que não há espaço para ciúmes. Ouvi, muitas vezes, e até já usei a frase “eu tenho um ciúme saudável”, o que é o mesmo que dizer que dormir de olho aberto é normal e que cárie faz bem para os dentes. Mas sentimos a necessidade de buscar algo que nos ajude a cuidar do nosso casamento, a manter nossos olhos abertos e nossas mentes alertas quanto a qualquer perigo que venha trazer destruição. Queremos poder ir à luta e não abraçar a passividade. E por isso mesmo fomos chamadas pelo nosso Pai a praticar o zelo.

Zelos, do grego, é a palavra usada em Tiago 4:5, que diz “…vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que Ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes?” É a mesma palavra que Paulo usa quando diz que é com o zelo de Deus que ele zela pela igreja de Corinto, para apresentá-la “como virgem pura a um só esposo, que é Cristo.” Esse é o zelo de Deus. Não é só uma palavra para substituir a outra. É uma perspectiva a ser substituída, é uma confiança a ser edificada. Enquanto o ciúme, ira e insegurança andam juntas compondo aquele time de vilões, o zelo, a prudência e a confiança são o elo que vai salvar o dia. É desse zelo que somos chamadas para participar em nossos casamentos. Somos chamadas para zelar com forte ânsia pela integridade e pureza em nosso matrimônio, confiando em Cristo somente para nos amar perfeitamente. 

Certa vez fui à uma festa e sentei à mesma mesa que uma irmã em Cristo; eu a observava enquanto ponderava em meu coração o quão terrível deve ser passar pelo vale de ter o casamento por um fio. Ela tinha sido traída no passado e, apesar do seu casamento estar em um lugar bem melhor agora, a falta de segurança era asfixiante. Que dor. Enquanto a música tocava e as bandejas passavam sobre nossas cabeças, ela olhava ao redor de um modo que deixava claro que sentia um aperto no peito. Ela sentia cheiro de ameaça no ar. Depois de uns minutos e com uma expressão triste no olhar, ela encosta sua cabeça no ombro dele, como se estivesse rendendo seu poder de fazer algo sobre isso. 

Temos, entre nós, irmãs, guerreiras que enfrentam a traição, o olhar cobiçador, a pornografia e tantos outros pecados em seus casamentos que fazem parecer que o ciúme não é opcional, mas uma das armas de defesa! Parece que o ciúme jamais vai achar a porta da rua. Para essas minhas irmãs eu digo: existe sim um Perfeito Amor. Existe alívio. Existe proteção segura.

Em Cristo, nós podemos amar nossos maridos sem sermos ameaçadas por sentimentos intoxicantes! Sim, nós somos livres para isso! Nós somos livres para zelar pelo nosso amor conjugal sem o gosto amargo do ciúmes. “O perfeito amor lança fora todo o medo” 1Jo 4:18. Não o amor do meu marido por mim, não o meu amor por ele, mas a Pessoa do Amor: Jesus Cristo. É Ele quem lança fora todo o medo. Somente Ele pode nos amar perfeitamente e somente nEle temos a certeza de nunca sermos traídas, nunca termos nossa segurança ameaçada e podemos, com confiança, jogar um balde de água fria nesse ciúmes que arde no peito. 

Somos filhas queridas e amadas por um Pai que quer nos ver andando em novidade de vida e nos deleitando nEle. Descansemos em Seu zelo por nós, Sua noiva, a quem Ele tem santificado dia após dia. 


Melva Balnchard tem pós em Estudos Teológicos pela Andrew Jumper e mora nos EUA com seu marido e filhos.


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