Carta à Minha Amiga na Faculdade

Querida amiga,

Como eu fico feliz quando recebo mensagens suas! Não nos falamos desde o culto de ações de graças pela sua aprovação que, por sinal, me deixou com o coração aquecido por ver a bondade do Deus a quem servimos. É emocionante quando refletimos sobre a forma como ele tem conduzido sua vida desde a sua concepção e tudo o que tem feito nela. Ele te deu inteligência, paciência e resiliência, quando tudo o que você queria era desistir por estar cansada de tentar. Deus te guiou pelo caminho que só ele sabia e hoje você está onde tanto sonhou.

Fico feliz por tanta coisa que você tem vivido nessa nova fase: descobertas, amizades, adquirido conhecimento e crescido com tudo isso. Mas também sinto muito que você esteja passando por provações na faculdade: ataques à fé, dúvidas e medo do que venha a acontecer. Obrigada por compartilhar comigo o que tem vivido. Tudo se torna mais suportável quando não estamos sozinhos. 

Vivemos na era da pós-modernidade e, considerando que a universidade reúne uma grande diversidade de pessoas das mais distintas origens e crenças em um mesmo espaço, as características desse período parecem acentuadas. Vejamos: várias verdades coexistem e a verdade absoluta dá lugar ao pluralismo; tudo depende do ponto de vista em que se observa e cria-se o relativismo; a razão dá lugar às emoções na busca pelo conhecimento; e recebemos um grande volume de informação em um curto espaço de tempo, graças à internet.

Nós cremos que a Palavra de Deus é a verdade absoluta e, portanto, a bússola que nos guia em meio às dificuldades e diante de decisões simples, nos ajudando a filtrar as informações que vêm até nós. E é por isso que gostaria de refletir contigo sobre tudo isso à luz dela, mais precisamente, através da história do profeta Daniel.

Sobre identidade e convites “irrecusáveis”

No terceiro ano do reinado de Jeoaquim em Judá, o rei Nabucodonosor, da Babilônia, se levantou contra Jerusalém e a ocupou. Ele levou consigo alguns jovens nobres, de boa aparência, inteligentes e sábios, para servirem em seu palácio. O objetivo era ensinar a cultura e a língua dos caldeus, nutri-los com a comida e a bebida reais por três anos para que, ao fim desse período, pudessem servir na presença do rei.

Daniel, Hananias, Misael e Azarias eram alguns desses jovens. A primeira coisa que lhes aconteceu foi receberem novos nomes que remetiam aos deuses pagãos daquele povo. O nome nos identifica, diz algo sobre nós. A intenção era tirar a identidade deles, fazê-los esquecer que eram parte do povo da aliança, pois assim poderiam ser moldados conforme a cultura babilônica.

Não é esse o grande desafio que você enfrenta, minha amiga? Você se vê diante de situações que se opõem ao que você acredita e te fazem questionar se realmente você é filha de Deus? Se a sua identidade for fragmentada, você estará muito mais suscetível a outras tentações e pecados, pois a Palavra não será mais sua única regra de fé e prática. 

Você é definida por Cristo, e não por ser boazinha, santinha, perfeitinha ou sem graça, como muitos insinuam. Ele te atraiu com amor eterno e pagou um alto preço para que você fosse salva da condenação eterna e feita filha de Deus, quando nada de bom havia em você. Isso é pura graça.

Daniel decidiu firmemente não se contaminar com as finas iguarias do rei. Não se sabe se porque violaria alguma lei alimentar que o Senhor deu ao povo, ou se porque as comidas eram dedicadas aos ídolos. Fato é que, diante do que havia de mais saboroso e agradável aos olhos de todo o povo, os jovens resolveram se abster. Parece loucura, não é mesmo? Tendo acesso liberado a tudo o de melhor que havia na gastronomia, o jovem decide se alimentar de água e legumes. 

Querida, você pode parecer estranha aos olhos dos demais universitários por se abster de festas, mesas de bares, por não colar nas provas e por frequentar assiduamente todas as disciplinas do semestre. Para muitos você não vai aproveitar a faculdade “como todo mundo faz, afinal, são poucos anos e logo a graduação chega ao fim”. Nem por um só dia, os quatro amigos ousaram provar um pouquinho daquilo que infrigia a lei de Deus. Pense no domínio próprio que tiveram! Eu sei que isso você consegue imaginar, uma vez que sabe muito bem o que é se manter firme na dieta enquanto os demais se alimentam de delícias altamente calóricas.

Sobre a solidão e os ataques à fé

Sobre o que você disse em relação a estar longe de casa, como é desafiador, não é mesmo? Um dia você acorda e percebe que para comer você precisa cozinhar, fazer compras, a casa não se limpa sozinha e as contas precisam ser pagas. Somos forçadas a amadurecer e vamos aprendendo à medida que as situações acontecem. O sentimento de tristeza por estar sozinha e a vulnerabilidade daí decorrente podem te fazer buscar companhia nos lugares errados, ou servir como desculpa para que você dê vazão a desejos pecaminosos.

A distância de casa, a solidão, o medo de ser isolada pelos outros ou o fato de ser maior de idade não te habilitam a se desviar do caminho do Senhor. Pelo contrário, é nesses momentos em que você deve se apegar à sua fé. Lembre-se que os jovens judeus foram retirados à força de sua família e de sua cultura e levados para uma nação inimiga onde deveriam se submeter às suas normas. Eram sábios e inteligentes, certamente sabiam o risco que estavam correndo ao se opor às ordens do rei. 

Pode parecer que tudo na vida dos quatro amigos era só vitória. Se a postura firme, de um lado, os levou a posições elevadas na Babilônia (Daniel 2.48,49), de outro, levou Daniel para a cova dos leões e Sadraque, Mesaque e Abede-Nego para a fornalha aquecida sete vezes mais. 

Desde que você se posicione de acordo com a Palavra, estará sujeita a sofrer ataques, seja qual for o ambiente. Por muitas vezes você se sentirá rodeada por leões que querem te destruir ou prestes a sucumbir diante do calor intenso da provação. Talvez esteja se sentindo assim agora. Minha amiga, não posso garantir que você será livrada dessas adversidades, mas eu sei que o quarto Homem da fornalha, o Deus Emanuel está contigo em todas essas situações. 

Pode parecer clichê, mas minha dica mais básica é: não deixe a vida devocional de lado. Em alguns momentos do semestre você estará tão atarefada, com tanto material a ler e trabalhos a fazer, que a leitura bíblica e a oração correrão o risco de serem deixadas de lado ou feitas com menos qualidade, apenas por fazer. Não negocie seus momentos a sós com Deus. Lembre-se que Jesus, mesmo depois de tanto andar pelas ruas e vilas cumprindo sua missão, acordava de madrugada para ter audiências com o Senhor.

Os colegas de trabalho de Daniel, vendo que ele se destacava, armaram um plano para prejudicá-lo. Sabendo de sua fidelidade ao Deus da aliança convenceram o rei a assinar um decreto em que quem fizesse petição a outro deus, que não ao rei, fosse lançado na cova dos leões. Sabendo disso, o que Daniel fez? 

Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer.

Daniel 6.10

O desfecho foi que Deus o livrou em meio aos leões. Seja fiel ao Senhor e desfrute minuciosamente de cada minuto na presença dele. Pratique as disciplinas espirituais e ouça ele te dizer quem ele é, quem você é e qual o seu propósito desse lado da eternidade.

Sobre aproveitar as oportunidades

Pelo que dissemos até aqui, você pode estar pensando que a vida universitária só traz dificuldades ao cristão e é bastante hostil. A verdade é que a maioria dos locais por onde passamos é assim. Sofremos ataques à fé na família, no trabalho e até em momentos de lazer. Esse mundo está sob o controle do maligno, sob a influência do pecado (1João 5.19), mas a graça e a misericórdia de Deus se manifestam nele e, muitas vezes, por meio de seus filhos.

Daniel não ficou se lamentando durante os longos anos em que frequentou a “universidade da Babilônia”, mas aproveitou as oportunidades, estudou, cresceu e se tornou uma pessoa importante que sempre apontava para Deus e dava-lhe glória diante dos homens.

No ambiente acadêmico temos uma produção muito grande de conhecimento. Livros, teorias e experimentos nascem em suas dependências. Veja que grande oportunidade que o Senhor te proporciona ao te colocar aí. Você pode desenvolver trabalhos sérios a partir de uma cosmovisão cristã, que terão um alcance global graças à internet. A vantagem de se estar em um local que preza tanto pela liberdade de pensamento é que pode usá-la a seu favor. Cristãos precisam ocupar espaços nas universidades. Precisamos de cristãos fiéis em todas as áreas do saber.

Caso te sejam apresentados apenas autores que possuam um viés tendencioso, você pode pesquisar por outros autores bons que tenham uma visão mais coerente. Enquanto isso, seu conhecimento é expandido, você ganha capacidade de argumentação e pode ter sua fé fortalecida ao ver que existem pessoas conhecidas e respeitadas cujos ideais não batem de frente com sua crença.

A universidade também te concede o privilégio de conhecer mentes brilhantes na sua área de atuação. Quantos eventos e congressos te permitem escutar e até conversar com os profissionais que se destacam em sua área! Além disso, existe a possibilidade de intercâmbio dentro e fora do país. Conhecer outras culturas, outras linhas de pensamento, outras pessoas.

Outra bênção que você pode desfrutar é a de se conectar a outros irmãos. Grupos de estudantes cristãos de diversas denominações se reúnem diariamente em salas ou espaços abertos para cantar e meditar sobre a Palavra. Procure participar, você encontrará pessoas que enfrentam os mesmos dilemas ou que já os superaram e vão poder te ajudar no processo. Quantas experiências ricas você tem ao seu dispor, minha querida. 

Conta-se a história de que um sapateiro convertido perguntou a Martinho Lutero como servir melhor a Deus. Ele respondeu: “faça um bom sapato e venda-o por um preço justo”. Ele não precisava abandonar sua profissão ou ficar recluso, mas sim, fazer o melhor no lugar em que estava, pois assim traria glória a Deus. 

Nós cremos que você está aí porque o Senhor te capacitou e abriu as portas, então, faça o melhor. Seja uma boa aluna e não se porte de modo a envergonhar quem te colocou aí. Aproveite as oportunidades que tiver, seja luz em meio às trevas, apresente o caminho aos perdidos, encoraje seus irmãos a perseverar e não hesite em pedir ajuda quando necessário.

Para terminar, você se lembra daquele tapete que seu irmão colocou na entrada do apartamento dele? Está escrito: “sinta-se em casa, mas lembre-se de que não está!” É o que eu diria pra você: a faculdade será sua casa pelos próximos anos, então desfrute, viva todos os dias o que o Senhor colocar diante de você, não precisa sentir medo ou ver o diabo em tudo. Há graça ali. Mas lembre-se de que não está em casa, você está a caminho de lá, portanto, não se acomode. Tudo o que viver e aprender são instrumentos para que cumpra seu propósito com excelência, você está em missão. 

Querida amiga, minha oração é que o Senhor fortaleça sua fé e conceda todo o necessário para que você viva essa fase da sua vida de forma saudável em todas as áreas. Que você o glorifique em todo o tempo, não se aparte do Caminho e que desfrute tudo com alegria. 

Com carinho,

Naquele que é a fonte de todo o conhecimento,

Sua amiga.

Esse post faz parte da nossa série de postagens de Março com o tema “Cartas às Minhas Amigas”. Para ler todos os posts clique AQUI.