Cansada demais para ter esperança (Sobre 2020)

Talvez, assim como para mim, 2019 tenha sido um dos anos mais difíceis de sua vida. Foram muitas lutas, muitas decepções, muitas perdas, muitas incertezas. Compartilhando brevemente meu testemunho, meu esposo e eu ficamos desempregados no nosso primeiro ano de casamento. Você pode imaginar a quantidade de incertezas que rodearam a minha mente, levando em conta nossos compromissos financeiros e a falta de condições para nos planejarmos para o futuro? Foi preciso lutar para preservar a fé, não entregar os pontos, manter os olhos fixos em Jesus e não ser pedra de tropeço na vida de quem nos observava de perto ou de longe.

 Imagino que você também tenha passado por momentos duros e de muitas provações nesse ano. Talvez o término de um relacionamento, a perda de uma pessoa querida, o desemprego, uma doença, uma notícia inesperada, decepções na igreja, entre outras coisas. Nós lutamos, choramos, nos revoltamos com a injustiça, pensamos que seria impossível dar o próximo passo, duvidamos do sustento para o dia seguinte, sentimos pesar em ver pessoas gozando a vida enquanto estávamos no vale seco e escuro. E, então, o marco da mudança de ano chega mais uma vez, como que para nos dar uma chance. Mas, chance do que e para quê? Chance de mudar, chance de renovar a fé, chance de seguir em frente, chance de voltar atrás e fazer diferente, chance de amar melhor, chance de perdoar, chance de superar. Só há uma coisa que esse marco não traz: disposição. Estamos cansadas demais para ter esperança.

O profeta que quis desistir

Isso me lembra a história do profeta Elias. Ele também estava cansado demais para ter esperança, quando, depois de ter passado por momentos terríveis com Acabe, recebeu uma ameaça de morte de Jezabel (leia essa história em 1 Reis, capítulos 17 a 18). O profeta, já sem forças para continuar, desejou a morte e, como num suspiro, disse: “Já basta, ó Senhor” (1 Reis 19:4). Muitas vezes, achamos que nos conhecemos o suficiente para dizer ao Senhor “Já basta de lutas e tristezas”. Mas, minha querida, Ele nos conhece melhor ainda. Ah, como é reconfortante pensar que Ele sabe como anda nosso coração e nosso mundo interior. E tal como fez com Elias, Ele nos leva para debaixo de uma sombra, nos faz pegar no sono e nos dá o sustento necessário para recuperar as forças. De forma mais prática, eu diria que isso acontece quando Ele nos dá noites de sono pesado, em que sequer sonhamos. Ou, quando coloca em nosso caminho uma pessoa bondosa que nos compreende, nos diz palavras amáveis, diz estar orando por nós e, muitas vezes, até mesmo nos manda algum tipo de sustento. A vida com Deus nos ensina a estarmos sempre prontas para sermos surpreendidas pela Graça!

A ilusão da solidão

No último filme da 3ª trilogia de Star Wars, lançado neste mês, há uma frase que me chamou a atenção e, desde então, tem martelado em minha cabeça. Foi algo mais ou menos assim, “Eles vencem fazendo você pensar que está sozinho”. Puxa, como isso mexeu comigo! Quantas vezes, aqui entre as paredes da minha casa, eu me senti sozinha e abandonada. Sentia como se o mundo continuasse girando, a vida das pessoas continuasse prosperando, e a minha se mantivesse estagnada. Eu já levantava da cama sem forças para enfrentar o dia, e ia dormir sem esperança de que o dia seguinte traria notícias boas. A nossa carne é fraca, querida leitora. Basta tirar, por um segundo, os olhos da cruz, e nos sentimos sozinhas no mundo frio e cruel. A carne é especialista em nos dar ilusões sobre o futuro, seja ele próspero (mas, sem Jesus), ou árduo (mesmo sabendo que Jesus é suficiente).

O profeta Elias também teve essa ilusão. Gosto muito de como a Palavra nos dá um parâmetro para medirmos nossa vida, com base no que é tangível à nossa realidade. Tiago disse que “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos” (5:17). Elias também se sentiu só, abandonado e incapaz de dar o próximo passo. Por isso, lamentou perante Deus: “Senhor, eu fiz tudo por Ti, entreguei o meu melhor; mas o esse povo é infiel e desobediente, até derrubaram os altares e mataram os profetas. Eu fiquei só.” (1 Reis 19:14)

Em momentos de profunda dor e sofrimento, precisamos cuidar de nosso coração, para não nos colocarmos na posição de vítimas e olharmos a vida pela perspectiva incorreta. Querida, lembremos da cruz e do que foi pago no Calvário. Éramos inimigas de Deus e vivíamos com o coração totalmente voltado para os nossos próprios interesses, totalmente incapazes de termos um relacionamento com o Pai. Mas, Cristo, em amor profundo, nos reconciliou com Deus, por meio de muito sangue derramado por um corpo físico que nunca conheceu o pecado. Lembremos deste sacrifício para que nosso parâmetro de dor não se sobreponha ao de Jesus. Ele sabe o que é sofrimento e, inclusive, é a única pessoa que compreende exatamente o que sentimos. Por isso, afirmo que você não está só. Tire os olhos de sua dor e coloque-os nas mãos e nos pés feridos, e na fronte marcada pelos espinhos. Não foi para vivermos em solidão e desânimo que o Cordeiro de Deus veio até nós. A vida em Cristo é de abundância espiritual, contentamento, restauração e crescimento. Por isso, o comando que Ele nos dá é o mesmo que deu a Elias: “Vai” (1 Reis 19:15). Levanta, enxuga o rosto, respira fundo e vai. Não fique prostrada, Deus não parou de agir. Tenha Esperança!

O ciclo pode ser o mesmo, mas você não

A virada do ano é um marco importante no tempo e nos ajuda a compreender melhor a vida dentro das limitações terrenas. Precisamos desses marcos para amadurecer, fazer escolhas, enfrentar desafios. Mas, o ano novo não é mágico. Você não irá acordar no dia 1 de Janeiro com todos os seus problemas resolvidos. Deus, de fato, está agindo e provendo. Porém, há em nossas mãos a habilidade de fazer escolhas. Assim como podemos permanecer prostradas em dor, também podemos escolher tentar mais uma vez, dar o próximo passo, dar uma nova chance. O ciclo de resoluções e promessas cumpridas ou não pode se repetir, caso você permaneça com as mesmas atitudes que teve este ano.

Entretanto, assim como olho no espelho e vejo uma mulher diferente da que eu via em Janeiro de 2019, creio que você também se vê outra pessoa. A princípio, pode ser que enxergue uma pessoa sofrida e com marcas profundas do que houve durante o ano. Mas, se esforce um pouco mais. Sente em frente ao espelho e tente lembrar das lições aprendidas e do que você, sem perceber, já mudou dentro de você. Perceba como já mudou sua percepção a respeito de algumas situações e pessoas. Veja como esses olhos já enxergam a vida de outra forma. Chamamos isso de resiliência, a capacidade de se recuperar de situações de crise e aprender com elas.

O ano de 2020 pode ser ainda mais difícil. Você, certamente, está mais forte do que se tivesse que enfrentá-lo com sua versão de 2019. Mas, sua postura depende da Esperança que você tem. Ela vem de suas expectativas e sonhos pessoais, ou da Cruz? Se idealiza um ano com menos lutas, preciso dizer que não é isso que Jesus promete. Caso idealize um ano com mais perdão, aí sim posso afirmar que será possível. Encha seu ano da Esperança vinda de Jesus, e a solidão pouco a pouco perderá espaço no seu coração; o desânimo rapidamente fugirá de sua vista, e os novos dias que estão por vir te trarão alegria de poder, simplesmente, continuar.

Enfrente o cansaço com metas reais

Talvez você, assim como eu, tenha dificuldade de traçar metas, uma vez que já se frustrou tanto com o que idealizou no passado. Isso é normal e também fruto de maturidade. Precisamos traçar metas que possam ser alcançadas e não facilmente abatidas pelo cansaço.

Por exemplo:

– Ao invés de colocar um objetivo alto de perder x quilos, tente mirar em uma alimentação mais saudável, com menos frituras, refrigerante e doces, e mais exercícios físicos;

– No lugar de assumir muitas responsabilidades, tente assumir poucas e comprometer-se a elas constantemente;

– Caso esteja buscando Relacionamentos Intencionais (e nós temos um Estudo sobre isso, pra te ajudar), foque em 2 ou 3 pessoas que estão relativamente próximas a você, ao invés de buscar fazer mil e um novos amigos;

– Se o seu desejo é aprofundar o conhecimento da Palavra, tente estudar um ou dois livros da Bíblia por mês, com profundidade e devoção. Certamente, será mais proveitoso do que tentar ler a Bíblia toda em um ano sem dar a devida atenção aos textos;

São exemplos simples, mas com o intuito de trazer à reflexão o que nós queremos versus o que nós podemos realizar. Não se trata de falta de fé, mas de aliviar a carga que nós mesmos colocamos em nossos ombros, uma vez que Cristo nos convida a vivermos de forma mansa, leve e humilde. Se Ele mesmo não nos coloca pesos e opressão, por qual razão fazemos isso?

Querida amiga e leitora, eu não sei o que de fato se passou em sua vida neste ano de 2019. Não consigo compreender (embora eu sinceramente queira) o que lhe deixou abatida e cansada. Por isso, lhe convido a atender o convite do amado Jesus, que te conhece por completo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei […] meu jugo é suave, meu fardo é leve” (Mateus 11:28 e 30). Descanse em Deus, peça a Ele que renove, mais uma vez, as suas forças, e use as lições aprendidas neste ano para honrá-lO e glorificá-lO em 2020. Podemos estar cansadas demais, mas nEle há Esperança!