As Parábolas de Jesus: A Semente de Mostarda e o Fermento

Nesta vida debaixo do sol tudo tem um começo, uma vez que nada é eterno, e tudo o que está ao nosso redor possui uma história com começo, meio e fim. Eu sou fascinada por entender a origem das coisas como, por exemplo, de determinada matéria que estou estudando, de uma história, de uma palavra, de uma pessoa (aliás, acho incríveis as árvores genealógicas); tudo o que vemos de complexo hoje começou de uma forma geralmente simples.

Quando chegamos à concretização de determinadas ideias ou afazeres, temos a tendência de dar pouca importância ao começo, a verdade é que sequer imaginamos ou conseguimos idealizar o resultado, e ser surpreendidos por bons resultados nos torna ainda mais gratos pelo primeiro passo e por todo o processo que enfrentamos.

Porém o início ainda continua sendo fascinante porque é nele que está toda a potência do que pode vir a acontecer. Um simples início – talvez não do jeito que gostaríamos, mas que se revelará bom no futuro – com certeza resultará em muitas mudanças, ainda que seja apenas os atos iniciais de um homem plantando sementes de mostarda ou de uma mulher misturando fermento em uma grande quantidade de farinha, atos simples e cotidianos do ouvinte do século I que o nosso amado Jesus usou em suas parábolas para comparar com o Reino dos Céus.

Começos desprezados

Jesus contou outra parábola . Ele disse ao povo: — O Reino do Céu é como uma semente de mostarda, que um homem pega e semeia na sua terra. Ela é a menor de todas as sementes; mas, quando cresce, torna-se a maior de todas as plantas. Ela até chega a ser uma árvore, de modo que os passarinhos vêm e fazem ninhos nos seus ramos. 

Jesus contou mais esta parábola para o povo: — O Reino do Céu é como o fermento que uma mulher pega e mistura em três medidas de farinha, até que ele se espalhe por toda a massa. 

Mateus 13:31-33 NTLH

Quando tentamos imaginar sobre o Reino dos Céus é até difícil encontrar imagens neste mundo que possam expressar aquilo que temos em mente. Às vezes, vamos buscar paisagens de vastos campos floridos e verdejantes, com um belo nascer do sol, para tentar ilustrar o que poderia ser o Reino dos Céus para nós, mas Jesus usa uma planta e um ingrediente para levedar massas… sim, ele usou elementos impensáveis ou naturalmente desprezados para uma comparação com algo tão grandioso, mas que possuíam a potência para expressar, não o sentido físico do Reino, mas da transformação que a cultura do Reino faria ao vir a nós.

As parábolas da semente de mostarda e do fermento são chamadas também de monádicas, isto é, apresentam apenas uma ideia usando comparações diferentes, elas fazem parte de um contexto de parábolas, conforme Mateus 13, que falam sobre o Reino dos Céus.

É importante que você saiba, que o foco das comparações não está no homem que planta a semente e na mulher que mistura o fermento, mas na semente e no fermento em si, afinal sementes não se plantam e o fermento por si só não se mistura à massa se alguém não o fizer.

Outro ponto importante é entender que a semente de mostarda de modo algum é a menor de todas as sementes do mundo, mas atualmente sabemos que são as sementes de morango e de tefe (uma planta natural das terras altas da Etiópia e Eritreia, na África). Pelas traduções nos parece que Jesus estava afirmando essa ideia sobre a semente de mostarda, mas para o ouvinte daquela época, dentre as sementes cultivadas, ela de fato era a menor delas e que ao crescer poderia se transformar em um grande arbusto ou pequena árvore de mais de 3 metros de altura onde as aves poderiam fazer seus ninhos, diferente do morango e da tefe onde tal situação não seria possível. As aves que se aninham no arbusto de mostarda representam os povos de todo mundo que serão atraídos pela mensagem do Reino e viverão a cultura do Reino aqui neste mundo.

Quanto ao fermento que a mulher mistura em uma grande quantidade de farinha ou, em algumas traduções, em três medidas de farinha, calcula-se que variava entre 25 a 40 litros de massa capaz de alimentar mais de 100 pessoas. Embora algumas correntes teológicas atribuam a ideia do fermento aqui como algo ruim, algo relacionado ao pecado, indicando que a parábola do fermento na verdade significa uma oposição ao Reino que cresce tal qual o arbusto de mostarda, a parábola da semente, como paralela à de fermento, não aponta para essa ideia e não há outros elementos no texto que nos leve a compreender o fermento como algo maligno.  

Jesus era um exímio contador de boas histórias e o uso de situações cotidianas, conhecidas do povo, dava a oportunidade para que todos pudessem mentalizar e visualizar seus ensinos, portanto, Jesus não errou ao comparar a semente de mostarda como a menor de todas, pelo contrário, ele aproxima os ouvintes de seus ensinamentos.

Todavia, nos chama a atenção os exageros nas histórias, em regra um arbusto de mostarda dificilmente chegaria a uma estatura onde as aves poderiam se aninhar em seus galhos, como também a quantidade de massa levedada pela mulher é tanta que alimentaria uma multidão, mas o que Jesus nos comunicou através das parábolas é que os resultados de inícios notadamente pequenos e desprezados são simplesmente surpreendentes e grandiosos.

Crescimento e transformação

Neste momento quero contar um pouco da sua e da minha história, de parte da história da Igreja de Cristo formada pelos gentios. Tudo começou em um dia de sábado, quando um homem e seus amigos decidiram sair da cidade para irem à beira do rio. Ali eles se sentaram e começaram a conversar com algumas mulheres, dentre elas havia uma mulher que temia ao Senhor, pois ele mesmo abriu-lhe o entendimento para que ela escutasse as palavras do homem à beira do rio e foi assim que nasceu a Igreja de Cristo entre os gentios: desse simples, pequeno e cotidiano momento, foi possível que nós conhecêssemos a Jesus. 

Se pudéssemos acrescentar um clã às tribos de Israel, que recebeu o enxerto dos gentios em seu tronco por meio da graça, poderíamos chamar seus membros de lidianitas, ou seja, os descendentes de Lídia, a vendedora de púrpura da cidade de Tiatira que estava naquele sábado, junto com as mulheres à beira do rio, ouvindo a pregação do apóstolo Paulo (At 16.11-15).

Nesta passagem das Escrituras creio que posso me permitir comparar Paulo ao homem que plantava as sementes de mostarda e a mulher à Lídia que, ao ouvir a mensagem de Paulo, distribuiu o que recebeu para muitos de forma que, assim como na massa fermentada, alimentou multidões que tinham fome da Palavra de Deus.

Apesar de, no início, a Igreja de Cristo ter enfrentado extremas perseguições e também, internamente, problemas sérios com o pecado, como na igreja de Corinto, ela cresceu, floresceu e frutificou em circunstâncias completamente adversas. Não por causa de quem plantou ou de quem disseminou a mensagem do Reino – com certeza, homens e mulheres são instrumentos de Deus no avanço do Evangelho –, mas porque é o próprio Deus quem preserva seu povo, é ele quem criou a semente para dela nascer uma planta e conferiu ao fermento a propriedade de transformar a massa e fazê-la crescer, pois estas coisas são impossíveis aos homens. 

Em suma, a lição que obtemos das parábolas do Reino comparado à semente de mostarda e ao fermento, contadas por Jesus, é a de que somente Deus provê o crescimento da Igreja e que todos os seus progressos só se revelarão verdadeiros se dependerem dele totalmente. Portanto, não importa os tímidos começos, não despreze o poder de inícios simples e pequenos, afinal para Deus nada é impossível e ele fará – continuará fazendo – obras cada vez mais grandiosas, novos começos, plantando mais sementes ao redor do mundo.   

Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que direcionou as sementes ao coração de Lídia, sementes essas que cresceram e se tornaram surpreendentemente grandes que os povos da Terra se achegaram a ela e foram transformados em portadores da mensagem de vida eterna e salvação. Minha oração é que o Reino de Deus venha sobre nós, esteja em nós e transborde em nós como fontes de águas vivas até que o Rei volte! Amém!


Bibliografia consultada:

BLOMBERG, Craig L. Interpretando as Parábolas. Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2022.

BLOMBERG, Craig L. Pregando as Parábolas: da interpretação responsável à proclamação poderosa. Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2019.


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