Apaixonada e cega (aprendendo com Sansão)

“Longas eram as noites quando meus dias revolviam ao redor de você”. Taylor Swift expressa bem como meu coração se sentiu há algum tempo, nessa frase da música Dear John. Eu ainda me lembro de como era estar cegamente apaixonada. Eu tinha 16 anos, ele 17. Mas, a cabeça era de alguém muito mais velho. Ele me ensinava sobre os pensamentos dos grandes filósofos em um dia, reclamava da namorada em outro, e descrevia uma experiência com drogas ilícitas num terceiro.

Nossa interação limitava-se às conversas online, mas a gente se via na escola todos os dias – exceto que lá ele fingia não me conhecer. Provavelmente por causa da namorada. Eu mencionei que ele tinha uma namorada? Pois é. Mas isso não o impedia de ser todo galanteador comigo (e sabe-se lá mais quantas). Era bem bipolar também – em um dia parecia gostar de mim, no próximo estava quase me xingando (alô relacionamento abusivo!).

Meus amigos tentavam me convencer de que ele era uma má ideia, mas eu não conseguia enxergar, nem que minha vida dependesse disso. Eu pensava “mas, eles não o conhecem como eu conheço”, “eles não sabem das coisas lindas que ele me diz”, “eles não entendem nossa conexão”. E assim me cegava cada dia mais. Pela graça de Deus consegui me livrar desse rapaz e me desintoxicar de tudo o que ele era quando o Ensino Médio acabou. Me apaixonar por ele coincidiu com meu primeiro ano de convertida a Cristo, mas sinto que só comecei a florescer como cristã quando Deus o tirou da minha vida. Ele era sufocante assim.

Por mais que eu queira crer que você nunca passou por isso, sei que é improvável. Talvez seja a forma como Deus nos fez mais sensíveis e emotivas, talvez seja a influência de Hollywood a nos dizer que o amor é aquele “nunca ter” que nos empurra a amar o bad boy que nos fará sofrer amarguradas, ouvindo Taylor Swift antes de dormir. Talvez seja só o pecado em nós, que nos quer ver afundadas, amarradas e inúteis. Porque, sinceramente, é assim que ficamos quando estamos cegas de paixão. Felizmente Deus colocou Sua mão no meu caminho e impediu que aquele rapaz se aproximasse mais, porque eu não sei o que teria feito por ele. Talvez caminhado por rotas pecaminosas das quais eu me arrependeria pra sempre. Talvez seja por elas que você caminhou. Talvez esteja caminhando. Talvez ele diga que tudo bem, afinal de contas ele te ama. Talvez ele sussurre que não tem problema entregar tudo de si, alma e corpo, porque vocês têm uma ligação especial. Ou talvez ele seja como o meu – bipolar. Num dia te ama, no outro está de sorrisinhos com sua melhor amiga.

Qualquer que seja sua situação, eu quero que você saiba que não está sozinha.

Não só eu já estive aí, como um rapaz descrito na Bíblia também. Sansão. E sabe, ele me faz perceber que os rapazes estão propensos a essa cegueira tanto quanto nós. A diferença, eu teorizo, é que nós caminhamos nessa rota por causa da nossa sensibilidade exagerada que nos faz romantizar maus tratos. E eles por causa da lascívia que os deixa amarrados a mulheres que sabem usar seus corpos para ter o que querem. De qualquer forma, eles caem nessa armadilha também, seja por outros ou mesmos motivos que os nossos.

A história de Sansão é uma das mais trágicas que a Bíblia apresenta, na minha opinião. Ele tinha tudo para ser um grande heroi, desses de filme, conhecido na História como o salvador de Israel, o homem mais forte que o mundo já viu. Mas, infelizmente seu pecado foi mais forte que seus músculos.

Sansão foi escolhido, desde o ventre, pelo Senhor. Sua mãe recebeu uma visão que dizia que ele era especial, separado a Deus. Ele cresceu sabendo disso, com a consciência de sua importância. Mas tudo começou a desandar quando ele estava passeando por uma cidade de seus inimigos (os filisteus) e viu uma moça muito atraente. Assim, de cara, ele sabia ela era the one. Não precisou conversar nem saber o que ela pensava, do que gostava, a quem servia. Ela era bonita e isso bastava para Sansão. Seus pais tentaram convencê-lo de que aquela era uma péssima ideia, mas a obsessão era tanta que ele disse “Consiga-a para mim. É só ela que me agrada.” (cf. Jz. 14:3).

Infelizmente, como seus pais previram, tudo deu muito errado. Uma série de eventos culminou na morte dessa moça, depois do casamento, sendo que o mesmo nunca sequer foi consumado. Não só a esposa morreu, como também seu pai (e queimados!).

Depois disso, era de se esperar que Sansão tivesse um pouco mais de prudência na sua próxima escolha amorosa, para proteger a si e aos outros, mas infelizmente não foi assim.

Depois de rapidamente se envolver com uma prostituta, a próxima escolha de Sansão foi uma mulher chamada Dalila. Sua paixão era tão forte que o deixou completamente abobalhado. Seus inimigos fizeram um acordo com ela, para que o manipulasse a dizer como poderia ser derrotado. Ele sempre mentia, e ela sempre fazia o que ele dizia. E eu me pergunto: será que ele não percebeu o que estava acontecendo ali? Por exemplo, ele dizia que perderia sua força se suas tranças fossem presas a uma estaca. No dia seguinte ele acordava com as tranças presas a uma estaca. Hmm, helloooo? Sansão, sua namorada está claramente tentando te matar. E isso aconteceu três vezes sem que ele, nem por um segundo, pensasse em se afastar dela.

É assim que somos quando estamos presas a um rapaz tóxico. Ele está claramente tentando nos fazer mal, mas nós estamos ali, à sua porta, manhã após manhã. Completamente cegas.

Sansão ficou literalmente cego mais tarde na história. Talvez uma ironia divina. Sua cegueira lasciva o levou à cegueira física e, finalmente, à morte. Todo aquele potencial, toda aquela força que poderia ter sido usada para salvar seu povo de uma guerra cruel, desperdiçada sob as colunas do templo filisteu. Sansão morreu, levando consigo todas as possibilidades de uma vida vivida para a glória de Deus.

E nós morremos todos os dias para as nossas possibilidades enquanto estamos sob o domínio da paixão.

Morremos todos os dias para as nossas possibilidades quando estamos sob o domínio da paixão. Click To Tweet

Ah, o quanto eu poderia ter feito para Deus naquele meu primeiro ano de conversão, quando o fogo do primeiro amor queima mais forte! Mas toda aquela energia foi desperdiçada sofrendo e esperando por um rapaz que não só não amava meu Jesus, como O odiava, e deixava isso claro em seus discursos. E como eu podia não ver?! Porque, assim como Sansão, eu corri para minhas paixões e vontades, ao invés de correr para o único que tinha a cura para minha intoxicação. Eu fiquei ali, tossindo até à morte, ao invés de tomar o antídoto.

Querida amiga, eu não quero te ver desperdiçando sua juventude rendida aos pés de um rapaz que te chuta. Que não te trata com respeito. Que não te valoriza. Que te coloca como mais uma entre muitas. E que, acima de tudo, não ama seu Deus.

É na esperança de te ver livre e enxergando bem que eu compartilho com você tanto a minha história quanto a de Sansão. É tudo o que eu posso fazer. Tentar te chacoalhar e dizer: Ei, esse caminho vai te levar à morte. Você está correndo rumo a um desfiladeiro.

E eu sei que é difícil acreditar. Eu sei que esse rapaz tem raízes tão profundas em você que puxar para arrancá-lo vai te rasgar por dentro e te fazer sangrar.

Mas, sabe, Deus vem e preenche todo o buraco que as raízes dele deixar. E Ele cura, te abraça e te relembra: filha minha, eu te amei pra que você viva muito mais do que isso. Essa meia-vida, intoxicada e doente, não é a vida para a qual Ele te resgatou.

Não. Ele te chamou das trevas para sua MARAVILHOSA LUZ. Chega de escuridão, amiga. Chega de cegueira. Diga basta e corra pra cruz. Ainda há tempo. Jesus te espera de braços abertos para te curar e te livrar desse rapaz, dessa paixão e, finalmente, de si mesma.

Sua amiga,
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