Alegria no Ordinário: Transformando a Rotina em Adoração – Dicas para Praticar a Presença de Deus Todos os Dias

Se eu pudesse mandar um bilhete pra minha versão de 15 anos, escreveria o seguinte: sua saúde mental, emocional e espiritual podem ser muito melhores nos próximos anos se você aproveitar cada dia como um presente, ainda que pareça chato na rotina e nos afazeres normais. Nem todos os dias serão fantásticos, nem todos os dias serão diferentes, mas haverá o cuidado de Deus em todos eles, e nisso há muita beleza.

Há uns dois anos comprei um produto de uma papelaria cristã, e na caixa, junto com meu pedido, veio uma arte impressa que grudei na parede de casa. Nela há uma imagem dividida entre o céu estrelado em cima, e uma cidade iluminada embaixo. No centro, a frase que muda meus dias: “O extraordinário já chegou!” Pra mim, esse lembrete é essencial na luta contra a busca constante por experiências, novidades, agenda cheia, expectativas altas, e por aí vai. É como um freio que me ajuda a parar o motor que me impulsiona a querer sempre mais, e me força a praticar o contentamento.

Jesus Cristo é o extraordinário que o mundo sempre esperou, e ele já veio. Não há nada melhor para nossas vidas do que esse advento. Não há nada mais especial, nada que preencha mais nossas almas. Por Ele, acessamos a eternidade em nossos dias ordinários e podemos desfrutar diariamente de tudo o que a comunhão com o Pai oferece, seja em momentos bons ou difíceis.

Enxergar meus dias comuns com essa perspectiva tem me levado a desenvolver um estado constante de adoração, onde identifico mais facilmente as oportunidades para praticar a presença de Deus a cada momento, sem precisar esperar por eventos na igreja, grandes marcos na caminhada cristã ou outras formas de conexão com Deus. O que você lerá a seguir não é uma lista de regras sobre como ser mais espiritual dentro do ônibus ou lavando a louça. São apenas dicas de alguém que, junto com você, está construindo um modo de adorar mais contínuo e simples.

Planejando os dias

Minha primogênita acorda todos os dias perguntando “o que vamos fazer hoje?”, e quase sempre tenho vontade de rir, porque é como se eu estivesse olhando um espelho em miniatura. Infelizmente, só com 30 e poucos anos comecei a me deleitar nos benefícios da rotina e na beleza dos dias comuns. Por causa da presença do pecado, nossa alma está sempre inquieta, insatisfeita e ansiosa, precisando ser lembrada constantemente que Cristo é tudo, e só Ele pode nos satisfazer.

Há alguns anos, planejar meu dia era algo antinatural, pois eu me sentia engessada pela rotina. Mas, com a ajuda de irmãos em Cristo que foram instrumentos de Deus na minha caminhada, aprendi que seguir uma sequência de ações e ter o mínimo de planejamento para o dia é uma forma de adoração também. 

Em 1 Coríntios 14:33, o apóstolo Paulo é categórico em dizer que Deus é um Deus de ordem e de paz. Trazendo para a realidade do cotidiano, viver dias sem planejamento e organização é um convite para a ansiedade e a ira entrarem em ação. Olhe para a narrativa da criação do mundo. Deus não saiu criando coisas a torto e direito, jogando tudo pro alto e criando o ser humano no meio do caos. Isso parece mais com a teoria do big bang. Nosso Deus é organizado e fez tudo dentro de um fluxo absolutamente inteligente e coerente. Ele é nosso primeiro exemplo a aprender e seguir no planejamento de nossas vidas, e admirá-lo é uma forma de adoração. 

O extremo oposto da filosofia “deixa a vida me levar”, de querer controlar tudo e não admitir imprevistos, também é perigoso. No equilíbrio encontramos um caminho seguro: precisamos planejar a vida, pensando na manutenção de uma ordem que promova o bem (para nós e para os outros), mas tomando cuidado para não achar que nossos planos são sempre perfeitos e exatos. Organizamos a agenda, mas damos liberdade para o conduzir do Espírito e, assim, adoramos o Senhor.

Enxergando o sentido eterno das coisas

Lavando louça, passando roupa, tomando banho, cuidando da família, preenchendo relatórios, preparando aulas, comprando frutas na feira, trocando fraldas e fazendo reuniões online. Em tudo isso, Deus está presente e deve ser adorado. Mas, temo que a realidade, na maioria esmagadora dos lares do século 21, seja a de enxergar bençãos reais como fardos banais e, assim, deixar passar despercebidas as oportunidades de contemplação e adoração. 

Podemos mudar isso com uma simples mudança de perspectiva. Vou dar alguns exemplos: lavar a louça pode edificar nossa vida quando pensamos que a louça existe porque havia alimento na mesa; passar roupa se transforma em adoração quando a fazemos como oferta ao bem estar do que Deus nos presenteou; trocar fraldas é uma bela chance de adorar quando lembramos da preciosidade que é a alma do bebê pelo qual somos responsáveis; fazer reuniões pode passar de fardo para benção quando enxergamos oportunidades de demonstrar os talentos que Deus nos deu e testemunhar da graça e bondade dele por meio de nossas palavras e do trato com o próximo.

Nesses dias tão intensos, a tendência é a de passar por eles sem intencionalidade. Mas, como bem escreveu a Jaque no primeiro artigo dessa série: o Eterno está na rotina. Faço coro com o Projeto Sola que canta: “Que as tarefas comuns e diárias não sejam um peso ao seu coração.” Procure o sentido eterno das tarefas ordinárias e sua sensibilidade à presença de Deus será maior a cada dia.

Transformando pensamentos em orações

Eu tenho o hábito de colocar música ou podcasts para ouvir enquanto arrumo a casa, trabalho no computador ou estou a caminho de algum compromisso. Por ter uma mente agitada, essa era minha forma de silenciar um pouco dos pensamentos e descansar mentalmente. Mas, percebi que existe uma possibilidade ainda melhor: transformar meus pensamentos, dúvidas, temores e lembranças em orações. 

Quando Paulo ensina que devemos orar sem cessar (1 Ts 5:17), penso que o apóstolo se referia a essa prática de permanecer em oração durante o dia. Acho esplêndido que a oração não precisa de lugar ou momento certo para acontecer; por meio de Jesus Cristo, temos acesso ao Pai em qualquer circunstância e momento, seja na cama de um hospital ou na fila do banco. De forma prática, podemos levar pessoas ao trono de Deus durante as tarefas diárias, quando lembramos de suas causas e lutas. Enquanto lavo a louça, tenho liberdade de elevar meus pensamentos aos céus e confessar pecados com os quais tenho lutado, pedir graça para limitações que tenho, contar meus anseios e agradecer pelas bençãos que vou lembrando ao longo do dia. E assim, ao invés de encher minha mente de conteúdo, posso esvaziar meu coração de angústias e encher a alma de paz. Deus nos ouve, se importa e se agrada dessa comunicação constante.

Por fim, lembro novamente das palavras do apóstolo Paulo: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus” (Efésios 5:15,16). Nossos dias não precisam (e nem devem) ser “mais do mesmo”, ou desperdício de tempo. Também não precisamos esperar por momentos grandiosos para enxergar sentido na vida. Exercitando o contentamento e a atenção plena ao dia-a-dia que o Senhor nos permite viver, seremos consideradas sábias por aproveitar cada oportunidade para adorar, cultuar e buscar a santificação.

Faça esses pequenos exercícios intencionais durante os próximos dias e perceba como a adoração a Deus se fará cada vez mais presente em seu ordinário.


Esse post faz parte da nossa série de postagens com o tema “Alegria no Ordinário”. Para ler todos os posts clique AQUI.