Admoestar em amor não é sobre ter razão
Relacionar-se é um desafio. Não importa muito o tipo de relacionamento, via de regra. Quando temos pessoas inseridas em nossa rotina e vida íntima, tendemos a participar também de suas vidas na mesma intensidade, confidenciando segredos, dividindo felicidades, angústias e, obviamente, buscando ser luz.
A vida em comunidade traz muitos benefícios, uma vez que o auxílio e encorajamento estão sempre presentes e não lidamos mais com a solidão ou o desamparo. Contudo, deixar alguém se aproximar pode ser doloroso, principalmente quando precisamos ser repreendidos.
Nem sempre (quase nunca) fazemos tudo certo. Quem amamos também não. Admitir isso pode levar muito tempo e se não abordarmos nossos queridos de forma sábia podemos perde-los, revoltá-los.
Ser igreja, como já falamos em tantos outros textos aqui, é mais do que participar de eventos e se cumprimentar uma vez na semana. Precisamos da intimidade justamente para estarmos sensíveis a leves mudanças de comportamento, a reações imediatas quando certos assuntos viram pautas nas conversas, ou até mesmo a um crescimento considerável da ausência em meio ao corpo de Cristo.
Podemos identificar algo errado e o Senhor pode nos dar oportunidades para alertar e cuidar de nossos irmãos.
Dito isso, existe uma receita para admoestar? Claro que não. Cada ser humano é único, com suas fraquezas, lutas, traumas. Cada um reage de um jeito a certas confrontações porque não há um padrão para as marcas.
Contudo, podemos lembrar-nos de algumas dicas que podem facilitar um pouco a nossa abordagem e nos guiar melhor nesse momento tão sensível.
Não se coloque em posição de superioridade
Pessoas que cometem pecados e não se arrependem – ou não têm noção ainda do seu pecado – tendem a ficar no “modo defesa”. Elas geralmente buscam ganhar a discussão com quem está tentando abrir-lhe os olhos, com a mentalidade de que se ganharem em argumentos, não se sentirão diminuídos e ficarão com a sensação de que podem não estar tão errados assim.
A vulnerabilidade não é bela aos olhos de muitos.
Nem todo mundo aceita ser repreendido. Aproximar-se dessa pessoa como se nós fossemos mais “santos” por estarmos cumprindo as regras, distribuindo lições de moral pode piorar (e muito) a situação, além de ser hipócrita, uma vez que não fosse a graça, poderíamos ter caído na mesma coisa.
Não estamos tentando fazer com que a pessoa simplesmente nos diga que temos razão. Estamos tentando fazê-la enxergar que o pecado dela a afasta do Senhor.
Estamos clamando para que ela se arrependa. Estamos entrando no abismo em que ela se encontra para segurar a sua mão e levá-la para fora. Estamos com ela.
Assuma para ela que você também tem pecados. Se possível, cite alguma experiência própria e conte como conseguiu superar. Dê a ela forças e encorajamento e não apenas repreensão. Ela pode estar ferida demais para aguentar mais pedras sobre si.
“Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.” (Filipenses 2: 1-4)
Aborde a pessoa com mansidão e empatia
Crie um clima favorável para tratar do assunto. O objetivo é conseguir uma abertura para entender toda a situação. Tente não se escandalizar com nada que ouvir, por mais pesado que seja. Se você conseguiu a confiança de seu irmão em Cristo a ponto dele confessar todo o seu pecado a você, é preciso honrar essa confiança e tratar o pecado com seriedade, mas sem drama ou choque.
Também não busque “tirar satisfações” de qualquer jeito e, principalmente, em público. A abordagem faz toda diferença porque ela pode ser uma porta para a confiança.
Às vezes fazer uma cena ou dar bronca pode apenas atestar que você não vai compreender o seu irmão. Não vai ajudá-lo em nada. Você vai tão somente mostrar a ele que você é “igual a todo mundo”.
Entenda que talvez você não possa resolver o problema
Por mais difícil que seja aceitar, isso pode acontecer. Talvez você, como ovelha, não possa fazer nada por outra ovelha. Talvez ela esteja passando por algo tão profundo, que as autoridades e líderes da igreja precisam saber e intervir.
Em tempo, talvez ela precise inclusive de ajuda médica ou de disciplina. Talvez, ao ir removendo as camadas de autoproteção, você descubra que a sua função é apenas ouvir e ser apoio para o processo de cura e restauração. Se for, seja isso.
Permaneça em oração
Independente do caso e do tipo de pecado, nunca pare de interceder. Coloque a pessoa querida na sua lista de oração e diariamente clame por sua vida. Peça ao Senhor que Ele, através de Sua Santa Palavra e do Espírito, abra os olhos dela. Que o evangelho seja capaz de levar essa pessoa ao arrependimento. Ore pelas pessoas que estão cuidando dessa vida, ore pelas más influências que as cercam. Ore para que ela resista às tentações.
Queridas, o amor não anula a firmeza da admoestação. A Palavra de Deus não muda. Você não deve florear a verdade.
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3:16-17)
Em verdade, devemos estar alertas não apenas com a motivação da nossa admoestação, mas também com o tipo de argumentos que podemos usar. A nossa única fonte para aprendermos a agradar ao Senhor e sermos habilitadas para toda boa obra é a Bíblia.
Não adianta buscar corrigir as pessoas com base na moralidade, no que as pessoas vão pensar ou por conta do escândalo que o pecado descoberto pode causar.
A nossa base é a Escritura. Algo é certo porque ela diz que é certo e algo é errado porque ela diz que é errado. A Lei moral do Senhor não é limitada a períodos históricos e pode ser aplicada em todas as áreas de nossas vidas, de modo que não há omissão de sua parte referente ao pecado X ou Y.
Por fim, fica a última dica para você, minha amiga: Estude as Sagradas Letras. Se você tem essa aptidão para conversar com seus irmãos, se você sente que pode ser uma conselheira para eles e pode influenciá-los com a luz de Cristo que brilha em você, não deixe a Palavra de lado. Sem ela, tudo é em vão. Não queremos pessoas que fazem tudo certo, queremos uma igreja arrependida e prostrada aos pés de Cristo. Uma igreja unida e viva, pelo evangelho da salvação.
Não queremos pessoas que fazem tudo certo, queremos uma igreja arrependida e prostrada aos pés de Cristo. Click To Tweet“Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.” (Hebreus 12:11)
Glória a Deus por Sua misericórdia e amor para conosco. Que nós possamos viver para servir nossos irmãos, sendo fonte de força e encorajamento, custe o que custar.
5 Comments
Carolina eu já conheço seus textos!
Gosto muito deles, quando começo a ler, já sei que são seus!
Tão sensatos e sábios.
Que Deus continue te abençoando e capacitando.
Gostei do texto, mas senti falta da ação do Espírito Santo. É Ele que nos leva ao conhecimento de Deus, nos convence do pecado, da justiça e do juízo Dele. É Ele que nos leva ao arrependimento dos nossos pecados. Somos sim, instrumentos na mão do nosso Redentor, capacitadas pelo Espírito Santo para toda boa obra e nesse sentido concordo com o texto. Só que por mais cuidadosa e bíblica que sejamos, nunca devemos nos esquecer que os resultados são Dele. Esse pensamento evitará muitas frustrações prolongadas e nos ajuda a nos capacitarmos cada vez mais.
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Gostaria de saber a mensagem que diz que ‘a admoestação deve ser feita em amor e util para o ensino ‘
Meu email é emirtavares@gmail.com
Obrigado
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