A Reforma Protestante
Por muitos anos a igreja católica romana influenciou e controlou seus fiéis por todo o mundo. Os líderes dessa igreja diziam (e ainda dizem) que a salvação se dava através de boas obras. Eles vendiam “indulgências” que eram cobranças em dinheiro para que o perdão aos pecados e a salvação eterna pudessem ser adquiridas. E ainda, eles continuavam a usar as Sagradas Escrituras em latim, deixando a missa parecer mais um ato sacrificial do que de aprendizado e adoração.
Martinho Lutero
Um monge, atormentado por não conseguir cumprir as regras para ser um bom receptor da salvação eterna, no século XVI, após estudos profundos das Escrituras, começou a protestar contra essa influência e contra esse controle de Roma. Ao ler em Romanos 1.17 “o justo viverá pela fé”, Martinho Lutero (1483-1546) percebeu que a justiça de Deus é lançada em Cristo na cruz e que isso tirava dele um enorme peso dos ombros. Ele então declara:
Noite e dia eu ponderava, até que via conexão entre a justiça de Deus e a afirmação de que ‘o justo viverá pela sua fé’. Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão desta descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda Escritura passou a ter um novo significado […] esta passagem de Paulo tornou-se para mim, o portão para o Céu.
A partir daí os olhos de Lutero se abriram para erros que aconteciam em sua vida e na igreja católica e ele começou a escrever 95 teses (declarações) que iriam contra os princípios fundamentais da igreja na época.
Lutero então prega essas teses, no dia 31 de outubro de 1517, na porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, um costume universitário entre os estudantes, uma espécie de “blog” de 500 anos atrás.
A igreja estava tomando um rumo que não agradava mais seus fiéis. O papa, necessitado de fundos para construir a sua Basílica em Roma, dá autorização para o padre Johann Tezel recolher as indulgências. Tezel era um herege e falava que cada moeda que caía nos cofres da igreja tirava uma alma do purgatório, causando horror em Lutero.
É bom lembrar que Lutero não queria romper com a igreja e sim, reformá-la. Suas teses tornaram-se “viral” e um debate sincero em torno desses temas era o que ele desejava. Porém, elas se tornaram uma afronta ao papado e à igreja porque continham críticas profundas a eles.
O papa, então, promulgou uma bula (que é um documento aprovado pelo papa com força de lei eclesiástica) que dizia que um “javali selvagem” tinha entrado na igreja e autorizou a destruição de toda a literatura de Lutero que, ao receber essa bula, a queimou também rompendo de vez com a igreja católica. Ele não mudaria suas convicções porque entendia que elas estavam de acordo com as Escrituras. E foi no ano de 1521 que ele enfrentaria o imperador Carlos V na Dieta de Worms, onde ele deveria se retratar perante a igreja mas, ele não o fez e ainda disse: “Não retirarei coisa nenhuma, porque ir contra a própria consciência não é honesto nem seguro. Aqui estou, e não posso agir de outra forma. Deus me ajude. Amém.”
Mais tarde, Frederico, o sábio, sequestra Lutero e o esconde da morte decretada pelo imperador. Nesse exílio ele começa a traduzir as Escrituras para o alemão. Muitas revoltas e intrigas começam a acontecer junto com tudo isso e aí aparece outro personagem da reforma: Ulrico Zuínglio (1484-1531).
Ulrico Zuínglio
Um padre suiço humanista, político e teólogo, que começou a pregar contra o movimento de obtenção da salvação que a igreja católica pregava,Zuínglio foi mais intelectual que Lutero e começou a estudar a Palavra profundamente. Dessa maneira, chegava às mesmas conclusões que Lutero mesmo sem o conhecer.
Zuínglio também rompe com a igreja católica e começa a Reforma Protestante na Suíça, com mudanças no culto e na hierarquia da igreja. O estado suíço se torna protestante e Zuínglio se fortalece pregando contra o sistema de jejum. Os monges e freiras começam a se casar, e o sacerdócio universal possibilita que até leigos possam levar a Palavra de Deus para outras pessoas. Finalmente, ele enfrenta uma revolta vinda dos estados que não queriam romper com a igreja católica e é morto em combate.
João Calvino
Não se sabe quando Calvino se converte ao protestantismo e se isola em Basileia, sistematizando a Bíblia e criando as Institutas da fé cristã, produzindo um conteúdo riquíssimo. Sua obra é um resumo da fé cristã e foi publicada em 1536 quando tomou fama por toda a Europa.
É de Calvino que recebemos a primeira teologia sistemática reformada. Quando ele chegou na cidade de Genebra, os líderes religiosos insistiram para que ele fosse e ensinasse a doutrina reformada para a cidade, e ali, Calvino se tornou um dos grandes reformadores da Suíça.
A reforma dentro da reforma
Um grupo de cristãos denominados anabatistas não acreditavam que a igreja deveria ser perseguida, mas sim que seus líderes não haviam avançado o suficiente nas reformas. Eles queriam viver o cristianismo de uma maneira mais radical.
Bastante devotos na oração, eles eram muito piedosos e começaram a crer que o batismo de crianças era errado, praticando novamente o batismo de adultos. Seus pensamentos radicais começaram a enfrentar resistência perante os reformadores e católicos. A não aceitação deles levou-os à perseguição extrema, causando muitas mortes. Uma triste mancha na história do cristianismo.
Um homem chamado Mennon Simmons ainda tentou lutar pelos ideais dos anabatistas mas, não conseguiu por muito tempo. Porém, seus seguidores permanecem fiéis até os dias de hoje em alguns lugares das Américas e são chamados de menonitas.
A reforma na Inglaterra
A reforma protestante na Inglaterra foi mais política: Henrique VIII não conseguia ter filhos e decidiu pedir o divórcio para o papa para que pudesse casar novamente, pois precisava de um herdeiro. A igreja católica nega o pedido e ele rompe com ela, declarando sua própria reforma. A igreja anglicana surge e depois do rei Eduardo VI realmente organiza uma verdadeira reforma. A rainha Elizabeth I estabelece uma típica doutrina anglicana para que os ânimos sejam acalmados entre protestantes e católicos.
Ao serem perseguidos por Maria I, “a sanguinária”, os protestantes fogem para a Suíça e lá eles estabelecem a igreja episcopal em Genebra e se tornam mais reformados do que nunca, voltando para a Inglaterra com uma teologia reformada mais densa.
A teologia calvinista foi uma das principais influências da reforma na Inglaterra.
Ao ler sobre tantos nomes, devemos nos lembrar de que esses reformadores não eram infalíveis, mas sim pecadores que erraram muito com seus grandiosos argumentos. Entretanto, eles foram usados por Deus, mostrando que ele é o único Senhor da história. A consequências da reforma ainda hoje para nós protestantes brasileiros de 2022 foram, principalmente, as conhecidas cinco solas:
- Sola fide (somente a fé);
- Sola scriptura (somente a Escritura);
- Solus Christus (somente Cristo);
- Sola gratia (somente a graça);
- Soli Deo gloria (glória somente a Deus).
Fora isso nós podemos perceber outras consequências como o surgimento de novas igrejas como a luterana, a calvinista, a anglicana; a diminuição do poder da igreja sobre o estado; a Bíblia começou a ser traduzida para diversos idiomas para que todas as pessoas pudessem ter acesso a ela, entre outras.
Estudar a Reforma Protestante ainda é importante para nós porque ela mostra nossa história, nossas raízes. Com a reforma sabemos que agora somos declarados justos em Cristo pelo seu sacrifício na Cruz onde agora temos a segurança diante do juízo divino e podemos proclamar a mensagem da graça. Com ela, a Cruz faz mais sentido e podemos entender que foi por misericórdia que o Amor nos amou entregando sua vida em favor de muitos. Tenhamos em mente que nossa redenção vem através da justificação pela fé diante da obra salvadora de Jesus Cristo somente.
Fontes:
A Reforma Protestante | A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO | Episódio 4 – Youtube – Escola do Discípulo.
Shelley, Bruce L. História do cristianismo : uma obra completa e atual sobre a trajetória da igreja cristã desde as origens até o século XXI / Bruce L. Shelley ; tradução Giuliana Niedhardt. — 1. ed. — Rio de Janeiro : Thomas Nelson Brasil, 2018.
Por que a Reforma ainda é importante / Michael Reeves e Tim Chester;[tradução: Elizabeth Gomes]. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2017.
Esse post faz parte da nossa série de postagens de Maio com o tema “História do Cristianismo”. Para ler todos os posts clique AQUI.
2 Comments
Muito bom!!!
I don’t think the title of your article matches the content lol. Just kidding, mainly because I had some doubts after reading the article.
1 Trackback