A luta de uma mulher cristã contra o câncer

No mês de Outubro, o mundo todo realiza a campanha de conscientização para o controle do câncer de mama. Este movimento foi criado no início dos anos 90, pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, com o intuito de compartilhar informações a respeito do tratamento e do diagnóstico precoce, além de proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico (em especial, aos laboratórios e hospitais), a fim de contribuir para a redução da mortalidade por meio desse câncer.

Diversos órgãos públicos e privados, além de empresas e ONG’s têm se unido à campanha de diferentes formas: oferecendo exames gratuitos, organizando palestras com especialistas, promovendo eventos públicos de debate e conscientização, divulgando informações médicas na mídia e redes sociais, arrecadando lenços e doações de mechas de cabelo para apoiar instituições que tratam mulheres com câncer, entre outras iniciativas.

Aqui no Graça em Flor, nossa proposta é um pouco diferente: lhe convidamos a conhecer a história de uma mulher que passou por essa grande luta e venceu o câncer, pela graça de Deus. Que seu testemunho lhe encoraje, mas principalmente, engrandeça o nome do Deus que está acima da doença e pode tudo, em Sua soberania.

O início de um ministério

Nilma Silva de Oliveira é uma filha amada de Deus, esposa do Henri e mãe de muitos filhos (biológicos, adotivos e de coração). Sua história está interligada à história do Lar Tia Edna, um lar de crianças fundado em 1957 pela missionária americana Edna Deakins, em São Paulo. Nilma se casou com Henri, o filho de Edna, e desde o falecimento da missionária em 1986, o casal se dedica inteiramente ao lar, que até hoje acolhe e presta atendimento a crianças, adolescentes e jovens na faixa etária de 3 a 18 anos.

Ao longo de sua história, o Lar Tia Edna cuidou de muitas crianças. Muitas voltaram ao convívio da família natural, outras foram adotadas por famílias brasileiras ou estrangeiras, muitas saíram casadas e outras independentes para o exercício de sua cidadania.

Tenho o privilégio de conviver com a família Oliveira desde que nasci, e sou testemunha de que este ministério vai além do acolhimento. Tio Henri e Tia Nilma, como eu carinhosamente os chamo, têm buscado oferecer também a assistência espiritual a todos que passam pelo Lar, a fim de apresentar o amor do Pai celeste e o bom caminho da vida, ao lado de Jesus Cristo.

Apesar de desenvolver um belíssimo e inspirador ministério, as lutas sempre estiveram presentes na vida deste casal, bem como a companhia fiel e infalível daquele que os instruiu a ter paz e bom ânimo (João 16:33). Uma delas foi marcante e até hoje inspira muitas pessoas, além de servir como um impactante testemunho de fé, como poderemos conhecer agora.

Quando o câncer mudou tudo

Para contar essa história, fizemos uma entrevista com a própria Nilma, a fim de compartilhar o que ela mesma descreve como a experiência que a levou a confiar plenamente no cuidado de Deus.

Graça em Flor: Como você descobriu o câncer?

Nilma de Oliveira: Fazendo os exames habituais solicitados pela minha ginecologista, em 2007. Fiz uma Mamografia, a médica viu algo diferente e pediu para fazer uma nova imagem. Foi nesse exame que constataram um nódulo. Lamentavelmente, estava no laboratório onde trabalhava minha sobrinha Mercia, que veio pessoalmente trazer o diagnóstico. Houve muito choro na entrega do exame pela Mercia e por minha outra sobrinha Joyce. Recebi da minha médica o direcionamento imediato para novos exames e comecei a ser acompanhada pela mastologista.

GF: Como se sentiu no momento que recebeu o diagnóstico?

NO: Bem, vou retroceder um pouquinho para dizer o que senti. Fiz uma biopsia urgente, pois o tempo é muito importante, e fui pessoalmente buscar o exame junto com minha amiga Luci. Juntas abrimos o exame e vi o resultado: “Carcinoma ductal invasivo” na mama direita. No momento, li e fiquei calma, dirigi até a casa da Luci para deixá-la, e liguei para meu Pr. Ebenézer, confirmando que estava com câncer de mama. Em casa, sofri ao ver os olhares de espanto e preocupação da família. No meu quarto, sozinha, orei e clamei por misericórdia, porque pensei no trabalho no Lar e nas minhas responsabilidades, e o meu Deus inundou meu coração de paz. No final do dia seguinte, recebi uma ligação do meu outro Pastor, Josué, que estava nos EUA, me abençoando com a seguinte frase: “Irmã tenha fé, a última palavra quem dá é Deus!”

GF: Por quanto tempo fez o tratamento?

NO: Entre o diagnóstico e o final de tratamento foram 2 anos, porém acompanhei de 3 em 3 meses no primeiro ano, de 6 em 6 meses no segundo ano e agora anualmente, no Hospital AC Camargo.

GF: Como foi a reação da sua família?

NO: Como disse acima, houve olhares de espanto e preocupação, mas todos deram apoio e quase todos foram comigo na mastologista e fizeram perguntas à médica para se interarem dos procedimentos, reações e etc. O Henri me acompanhou em todas as sessões de quimioterapia. Tive a companhia da minha sobrinha Joyce na primeira noite da cirurgia e minha fiel irmã Nadilza cuidou de mim na recuperação da cirurgia e da minha casa com as crianças.

GF: Qual foi seu primeiro pensamento em relação a Deus, ao receber o diagnóstico?

NO: Somente pedi graça, porque Ele sabe de tudo e se estava permitindo, é porque eu precisava passar por tudo. Não tive revolta, embora alguns amigos a tenham tido por mim.

GF: Como foi sua caminhada espiritual durante o tratamento? Alguma experiência em especial que gostaria de compartilhar?

NO: Descobri que podemos sentir a graça de Deus mais de perto, porque as reações da quimio nos deixam muito caídas. Eu ficava prostrada nos primeiros 3 dias; da segunda sessão em diante, aprendi a me recolher, pedir graça, ficar quieta, e recebê-la com toda calma, assim eu passava esse tempo totalmente na dependência de Deus e da água de coco. A experiência que me deixou muito feliz, foi quando o pastor Ebenezer me trouxe as mensagens que ele havia pregado durante meu tempo de ausência, que me fortaleceram e trouxeram mais esperança.

GF: Quais versículos ou passagens bíblicas marcaram esta trajetória?

NO: O primeiro foi o versículo que recebi de uma amiga escocesa que o enviou numa mensagem e numa pulseira de prata: “Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos” (Salmos 91:11 Tradução NVI).

E a segunda passagem: “Por esse tempo, o rei Ezequias ficou doente e quase morreu. O profeta Isaías, filho de Amoz, foi visitá-lo e disse: ‘O Senhor Deus diz assim: ‘Ponha as suas coisas em ordem porque você não vai sarar. Apronte-se para morrer.’ Então Ezequias virou o rosto para a parede e orou assim: ‘Ó Senhor, lembra que eu tenho te servido com fidelidade e com todo o coração e sempre fiz aquilo que querias que eu fizesse’. E chorou amargamente.Aí Deus mandou que Isaías voltasse a falar com Ezequias e lhe dissesse: ‘Eu, o Senhor, o Deus do seu antepassado Davi, escutei a sua oração e vi as suas lágrimas. Vou deixar que você viva mais quinze anos. Livrarei você e esta cidade de Jerusalém do rei da Assíria e defenderei esta cidade. O Senhor Deus lhe dará um sinal para provar que vai cumprir a sua promessa. Na escadaria feita pelo rei Acaz, o Senhor fará com que a sombra volte dez degraus.’ E a sombra voltou dez degraus.” (Isaías 38: 1 a 8)

GF: Você teve problemas com sua autoestima? Se sentiu menos feminina com os reflexos do tratamento?

NO: Na verdade, no começo não. Na primeira quimio, meu cabelo caiu quase todo; sai do banho e fui direto para o salão de uma amiga e pedi que raspasse meu cabelo. A família tentou me desanimar para isso, mas fui decidida, e levei meu neto, o Baby Henri, junto comigo para cortar o cabelo dele. Sentamos lado a lado e, quando me viu careca, ele disse assim: “Vovó Shrek!” Todos que estavam em lágrimas, riram. Então, quando cheguei em casa e todos me viram, percebi nos olhares o sofrimento. Fui para meu quarto e chorei, chorei muito. Mas, depois, ao longo do tratamento, fui me acostumando e não me incomodava nada do que estava mudando na minha aparência. Era tanto carinho recebido que não tinha espaço para pensamentos negativos e mau-estar.

GF: Houve algum momento em que duvidou que Deus a amava ou estava presente na sua luta?

NO: Não houve nenhum momento. Deus se fez presente em todos e senti Seu amor presente até nos pequenos detalhes, como uma amiga que se fez presente em cada quimioterapia e outra que veio fazer sorbet de fruta para eu comer em dias de enjoos.

GF: Nas horas mais difíceis, o que fez você continuar?

NO: Houveram muitos momentos difíceis, mas Deus me deu novos amigos que se fizeram presentes com mensagens animadoras e a presença carinhosa nesse tempo.

GF: O que uma doença grave te ensinou que nenhuma outra coisa poderia ensinar?

NO: Saber que Deus está no controle; se você não para, Ele te para. E a confiar plenamente no Seu Cuidado.

GF: Qual é a pior parte de estar doente, além da dor?

NO: A limitação. Para mim, que sou agitada e gosto de estar a frente de tudo, tive que aprender a delegar e sossegar.

GF: O que você diria para uma mulher cristã que está enfrentando um câncer atualmente?

NO: Que se acalme, confie que Deus está no controle, sabendo que médicos e tratamentos também são dádivas de Deus que têm importância e fazem parte da cura. A fé é um instrumento importante no tratamento.

GF: Como você acha que ela pode se sentir mais feminina em um período que traz tantas dúvidas à mulher?

Valorizando o amor de Deus por ela, não se preocupando com as opiniões alheias, sabendo que esse tempo não é duradouro e possivelmente, Deus assim permitindo, vai passar. E, no que for possível, hoje podemos ter resolvido qualquer falta ou dificuldade. Além de se cuidar, se amar, e não desleixar porque está doente.

Durante o tratamento, fui a um casamento de lenços para “tampar a careca”, não por minha causa ou pela noiva. Num certo momento, eu estava com muito calor, tirei o turbante de lenços e, para minha surpresa, uma senhora se aproximou e disse: “Ah, põe o lenço, estava mais bonito”. Eu respondi a ela: “me desculpe se te incomodo, mas vou ficar assim.”

Muitas pessoas nos trazem mal-estar, mas não podemos dar ouvidos, temos que ter firmeza em Deus, ao invés de vergonha ou constrangimento.

GF: Qual é a responsabilidade da mulher cristã em relação ao seu corpo (pensando na prevenção e no acompanhamento médico)?

NO: Bem, chegamos onde é muito importante. Se eu não desse importância ao controle que os médicos pedem a toda mulher, não teria descoberto meu câncer. Como mulher cristã, temos uma responsabilidade a mais, somos templo do Espírito Santo e precisamos cuidar bem dele. Então, mulher, não deixe de lado os exames de prevenção, faça acompanhamento médico, mesmo que pelo SUS, que está dando um suporte importante para as mulheres. Se tem histórico familiar, precisa mais ainda. Não se entregue à ignorância de achar que você é IMUNE.

Certamente, Nilma teria muito mais a nos contar das experiências que vivenciou de 2007 a 2009. Mas, esse vislumbre já é suficiente para nos fazer sentir a imensa responsabilidade de cuidarmos de nosso corpo, fugirmos da falsa ideia de que somos imunes a doenças e outras provações da vida, e, principalmente, nos encontrarmos prostradas diante do Senhor Jesus que também padeceu dores, mas em tudo honrou ao Pai.

Nilma é uma das mulheres guerreiras que Deus tem usado para propagar a mensagem do Evangelho em nossos dias. O câncer não foi capaz de abafar a sua voz, muito menos sua fé. Mas, ela também usa sua história para alertar mulheres de todas as idades a pensarem na saúde de forma preventiva, não desprezando a sabedoria que Deus dá aos médicos. Por isso, neste Outubro Rosa (e durante todo o resto do ano) lhe encorajamos a honrar a Deus com seu corpo e enxergá-lo como uma dádiva preciosa que lhe foi dada para uma boa mordomia, a fim de oferecê-lo de volta, no melhor estado possível, ao Criador.

Seja a mulher que Deus lhe chamou para ser, independente da fase de vida, das dores e das lutas. E encoraje outras mulheres a viverem em sua melhor versão possível, para a glória de Deus.

Para conhecer mais sobre a história do Lar Tia Edna, visite o site: http://lardatiaedna.com.br/