A consciência de Paulo – Comentário sobre o filme “Paulo, Apóstolo de Cristo”

(Créditos da imagem – Deseret News)

No drama de Andrew Hyatt, “Paulo, Apóstolo de Cristo”, os dias de Paulo na prisão e o trabalho de Lucas, que começou a escrever o texto bíblico, é tratado de forma que nunca se viu. O jovem Paulo, que antes era perseguidor dos cristãos, agora é perseguido, tornando-se um dos mais influentes proclamadores do Evangelho no Novo Testamento; e, acompanhar parte da história bíblica por meio da “visão”, com essa obra cinematográfica, realmente é uma excelente experiência.

De agora em diante, o texto conterá spoiler, então se você ainda não viu o filme e deseja guardar as surpresas, não continue a leitura.

“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.” (II Coríntios 12:7)

Há diversas teses sobre qual seria o espinho na carne de Paulo: “(1) uma deficiência física por ser ‘na carne’, (2) uma perturbação de um demônio (‘mensageiro de Satanás’) ou (3) a constante perturbação dos perseguidores judeus” (Bíblia de Estudo de Genebra, 2009, p. 1551).

Não se pode ter certeza sobre nenhuma hipótese do espinho na carne, já que o texto não nos permite ir além do que já foi exposto na passagem. Mas contemplar as possibilidades pode nos trazer reflexões positivas quanto à nossa vida.

O filme abordou uma possibilidade de que ainda não havia pensado, e nem lido em nenhum artigo. O espinho na carne de Paulo seria sua própria consciência. Novamente, não podemos garantir que seja isso, ou ao menos dizer que é a melhor hipótese. Mas, diante de tudo que foi vivido por ele, faz muito sentido.

Consciência

O filme divide as cenas principais com lapsos do “passado”, em que Paulo se vê perseguindo e matando as pessoas que seguiam a Jesus. Esses pesadelos o acompanhavam a todo momento, acordado ou dormindo. O “reviver” do passado era atormentador. Agora, ele sabia quem era o Jesus daquelas pessoas que ele havia perseguido, e, por ação divina, era agora o alvo das perseguições.

Creio que todos nós temos um passado do qual nos envergonhamos, mesmo aqueles que são de “berço cristão”. E creio que muitos também possuem o pesar na consciência ao lembrar dos pecados passados. Talvez os fantasmas antigos ainda insistam em nos assombrar, tentando minimizar o perdão já recebido pelo sacrifício de Cristo. Entretanto, o pecado não está, necessariamente, em ver os fantasmas, mas se entregar a eles. Explico: assim como no filme, alguém pode estar sendo atormentado por algo que um dia fez. O “ser atormentado” não é uma atitude pecaminosa. No entanto, se ao nos depararmos com tal provação nos rendermos a ela e aceitarmos todo entulho de acusação, cometemos o pecado da incredulidade e ingratidão, pois não estamos crendo no perdão e nem sendo gratos por ele.

As lembranças inevitavelmente permanecerão em nós, como o ferro quente que marca a pele do gado. “Um coração sensível não pode olhar para trás, para as loucuras da juventude, e não sentir ecos de vergonha, mesmo que tenhamos resolvido tudo com o Senhor.” [PIPER, p. 65]*

Reviver o passado

Quando fito o passado por muito tempo, trago as sensações pro meu presente. E além disso, começo recriar novas sensações até piores que as antigas. Quantas vezes fui injusta comigo e com meu próximo, por não deixar o passado no passado!

Deixei de ser graciosa por usar o passado do outro para fazer comparações, para sugerir que, se tal pessoa agiu assim no passado, irá agir assim hoje.

Deixei de ser graciosa comigo mesma por trocar a promessa divina de que as misericórdias se renovam a cada dia, pela minha mentira de que “a vergonha se renova a cada dia”. Em nós há o poder de se opor a tudo que é bíblico, puro, justo, santo honesto.

Mas há graça no passado também. O Verbo que existe antes da fundação do mundo encarnou e selou o pacto de justiça e salvação para com o Pai, nos provendo caminho aberto de volta aos céus. Se nossa mente é capaz de revirar a gaveta do passado vergonhoso, devemos discipliná-la a se deleitar no descanso provido a nós, antes mesmo que existíssemos.

Sobre a prostituta perdoada em Lucas 7:48, – “Por exemplo, uma mulher vem a Jesus na casa de um fariseu, chorando e lavando seus pés. Sem dúvida, ela sentiu vergonha quando os olhos de Simão comunicaram a todos presentes que essa mulher era uma pecadora, e que Jesus não deveria deixá-la tocar nele. De fato, ela era uma pecadora. […] Como Jesus a ajudou a combater os efeitos incapacitantes da vergonha? Ele lhe deu uma promessa: ‘Os seus pecados estão perdoados! A sua fé salvou você. O seu futuro será de paz’. Ele declarou que o perdão passado agora renderia um futuro de paz. […] Não importa se o ato do perdão de Deus é inteiramente passado, ou se há novo perdão no futuro – em ambos os casos, a questão é o poder libertador do perdão de Deus para nosso futuro – liberdade da vergonha. O perdão é cheio de graça futura.” [PIPER, pp. 66 – 65*]

Do mesmo modo Paulo, o apóstolo, agarrou-se à graça quando o espinho permaneceu. Talvez o espinho de Paulo possa ter sido realmente a consciência. Mas, mesmo que não fosse o dele, com certeza é um espinho que muitos estão sofrendo hoje.

Seja qual for o nosso pesar, na consciência ou em reviver o passado, só há um modo de combater esses fantasmas: Olhemos para Cristo!

“A minha graça te basta!” (2 Coríntios 12.9)

Seja qual for o nosso pesar, na consciência ou em reviver o passado, só há um modo de combater esses fantasmas: Olhemos para Cristo! Click To Tweet

Fernanda Araújo

 

*As citações de John Piper são de seu livro “Lutando Contra a Incredulidade”.