5 Diferenças entre Religião e Evangelho

Timothy Keller, em seu livro Fé na Era do Ceticismo, afirma existir  um grande abismo entre a visão de que Deus nos aceita em decorrência de nosso esforço e a visão de Deus nos aceita com base no que Jesus fez.

Muitas são as diferenças entre religião e evangelho, mas vamos analisar cinco abordadas pelo autor nessa obra citada.

1. Diferentes em princípios

A religião atua segundo o princípio “obedeço, logo, sou aceito por Deus”, mas o evangelho funciona segundo o princípio “sou aceito por Deus por meio do que Cristo fez, logo, obedeço”. Na religião, tentamos obedecer aos padrões divinos por medo. Acreditamos que se não obedecermos, perderemos a benção de Deus neste mundo e no próximo. No evangelho a motivação é nossa gratidão pela benção já recebida por causa de Cristo.

2. Diferentes em motivações

Enquanto o moralista é obrigado a obedecer, motivado pelo medo da rejeição, o cristão se apressa a obedecer, motivado pelo desejo de agradar e de se parecer com aquele que deu a vida por nós.

3. Diferentes em senso de identidade e autoestima

Em um contexto religioso, sentimos estar satisfazendo os padrões religiosos que nós mesmos escolhemos, daí a sensação de superioridade e o desdém com relação aos que não seguem o verdadeiro caminho. O evangelho cristão diz que somos tão falhos que Jesus precisou morrer por nós, mas ainda assim somos amados e valorizados (e Jesus fez questão de morrer por nós). Isso leva, ao mesmo tempo, a uma humildade profunda e a uma profunda confiança. Acaba tanto com a presunção quanto com a lamúria. O cristão não pensa mais ou menos de si. Em vez disso, o cristão pensa em si menos, conforme disse C. S. Lewis.

4. Diferentes maneiras de tratar o Outro (aqueles que não compartilham das mesmas crenças e práticas)

Os pensadores pós-modernos entendem que o “eu” é formado e fortalecido por meio da exclusão do Outro (aqueles que não possuem os valores ou características sobre os quais baseamos nossa própria importância). Infla-se o senso de valor desvalorizando os que pertencem a outras raças e têm outras crenças e características.

A identidade do evangelho nos fornece uma nova base para interações sociais harmoniosas e justas. O valor de um cristão não é construído através da exclusão de alguém, mas por meio do Senhor que foi excluído em nosso benefício.

Isso significa que o cristão não despreza quem não crê como ele crê, já que não se baseia em doutrinas e práticas próprias.

O evangelho nos possibilita escapar à suscetibilidade, à postura defensiva e à necessidade de criticar os outros. A identidade do cristão não se baseia na necessidade de ser visto como indivíduo bom, mas na avaliação de que Deus faz de nós em Cristo.

5. Diferentes maneiras de lidar com os problemas e o sofrimento

A religião moralista faz seus adeptos se convencerem de que se levarem uma vida de retidão, Deus (e os outros) lhe deverá respeito e favores, e eles merecerão uma vida decente e feliz. No entanto, se a vida começar a desandar, os moralistas sentirão uma raiva debilitante. Ficarão revoltados com Deus (ou com o “universo”) por acharem que, já que vivem melhor que os outros, deveriam ter uma vida melhor, ou sentirão profundo rancor de si mesmos, incapazes de se livrar da sensação de não ter vivido como deviam.

O evangelho, porém, possibilita escapar da espiral de amargura, autocensura e desespero quando as coisas não vão bem na vida. Sabemos que a premissa básica da religião – se vivermos bem, as coisas darão certo – está errada. Jesus foi a pessoa mais correta do ponto de vista moral que já existiu, mas em sua vida não faltou pobreza, rejeição, injustiça e até mesmo tortura.

A mensagem básica do Evangelho

Nas palavras de Tim Keller, “a mensagem básica do cristianismo se distingue na raiz dos pressupostos da religião tradicional. Os fundadores de todas as outras principais religiões eram, em essência, mestres, não salvadores. Eles vieram para dizer: ‘Faça isso e você encontrará o divino’, mas Jesus veio essencialmente como salvador e não como mestre (embora também tenha ensinado). Ele disse: ‘Sou o divino que veio até vocês, para fazer o que vocês não eram capazes de fazer sozinhos’. A mensagem cristã é de que não somos salvos pelo nosso histórico; por isso, o cristianismo não é religião nem irreligião, mas algo totalmente diverso”. 

O cristianismo não é religião nem irreligião, mas algo totalmente diverso. (Tim Keller) Click To Tweet

A tendência natural do coração é confundir a lei com o evangelho

Para Michael Horton, em seu livro Cristianismo Sem Cristo, “todas as religiões – incluindo o ‘cristianismo sem cristo’, que não é cristianismo de jeito nenhum – pressupõem alguma forma de redenção por esforço próprio. É sempre surpreendente, irracional e até mesmo ofensivo para os seres humanos ouvir que a salvação não depende da decisão ou do esforço humano, mas de Deus, que mostra misericórdia (Rm 9.16).”

Ao discorrer sobre por que a lei faz sentido e o evangelho parece estranho, Horton conclui: “Então, há realmente apenas duas religiões no mundo: a religião do esforço humano para ascender a Deus por meio de obras, sentimentos, atitudes e experiências piedosas, e a religião das boas-novas da descida misericordiosa de Deus até nós em seu Filho. As religiões, filosofias, ideologias e espiritualidades do mundo diferem apenas nos detalhes. Independente de estarmos falando de Dalai Lama ou do Dr. Phill, do Islã ou da Oprah, de liberais ou conservadores, a convicção mais intuitiva é a de que somos boas pessoas que precisam de bons conselhos, não pecadores impotentes que precisam de boas-novas.” 

Mais que bons conselhos

Em relação a esses bons conselhos, C.S. Lewis, autor de Cristianismo Puro e Simples, ressalta a diferença de Jesus ser um bom mestre e conselheiro e ser um Salvador. Lewis enfatiza o perigo de sermos complacentes com a ideia de que Jesus Cristo não passava de um grande mestre humano: 

“Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a respeito de Jesus: ‘Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus’. Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.”

Marília Werner
Equipe Graça em Flor


Marília também escreve no blog Graça Pura, Sem Mistura.