Trabalho e Descanso: A Esperança do Descanso Escatológico
Provavelmente, a primeira coisa que vem à nossa mente quando ouvimos a palavra “descanso” é algo relacionado a uma viagem para a praia ou para as montanhas, ou uma soneca após o almoço. Talvez fazer compras ou maratonar uma série. E por que não todas essas opções? No meu caso, um dia off perfeito envolve saber que meu filho e marido estão envolvidos em atividades que eles gostam enquanto eu fico em casa, de pijama, lendo ou assistindo filmes antigos, daqueles que já assistimos dezenas de vezes.
Percebe-se então que descansar pode significar diferentes atividades. O descanso geralmente está ligado com nosso próprio bem-estar, mas isso não é necessariamente o que a Palavra de Deus nos ensina sobre esse assunto.
Descansar está longe de ser um item opcional na agenda do povo de Deus. Descansar é tão essencial quanto todas as outras atividades da nossa rotina. Não somente porque o descanso é benéfico para a nossa saúde, mas, sobretudo, porque aponta para a realidade de que existimos para Deus e de que ele está no controle de tudo, e tudo o que fazemos em nosso trabalho é para honra e glória dele.
Porém, o pecado complicou nosso envolvimento com o trabalho e nos levou a enfrentar a morte. Sim, a morte, ao contrário da frase que ouvimos as pessoas dizerem quando alguém morre (“descanse em paz”), não é um descanso. Isso porque só haverá descanso e paz perfeitos se enxergarmos a morte não como um fim. Somente na vida eterna encontraremos o descanso verdadeiro.
Para que nosso descanso continue fazendo sentido em um mundo pós-queda, precisamos de uma perspectiva redentiva sobre o descanso. Precisamos ter esperança que a vida vai além da morte. Essa esperança só existe por causa do evento mais glorioso de toda a humanidade: a ressurreição de Jesus. Como vitória definitiva de Deus sobre a morte, o sepulcro vazio é a conclusão de todo o trabalho perfeito do Criador e também do seu descanso.
Em toda a Bíblia temos exemplos de que o descanso do povo de Deus nada mais é do que uma metáfora para descrever o plano de redenção do Criador através do nascimento, vida, morte e ressurreição de seu único Filho.
Ao lermos o trecho de Hebreus 4:1-13, entendemos que Jesus Cristo é o único capaz de mediar nosso acesso a Deus e somos exortados a permanecermos firmes no evangelho e, assim, termos a garantia da nossa participação na ressurreição dos mortos na segunda vinda de Cristo.
O descanso que Deus desejou para nós na criação do universo precisou ser adiado depois da Queda; porém, foi iniciado naquele domingo, três dias depois da crucificação de nosso Salvador. Não é um mero capricho cristão a mudança do dia separado para o Senhor para o domingo. O que antes era feito no sábado, depois da ressurreição de Cristo, é feito agora no primeiro dia da semana, marcando o início do nosso descanso escatológico, ou seja, o descanso final de Deus.
Vivemos entre o descanso do qual já podemos participar, por tudo que Jesus realizou, e o descanso final de Deus na consumação da nova criação. Temos a certeza disso na passagem de Hebreus 4:3: “Pois nós, os que cremos, entramos em seu descanso”.
E no versículo 11 temos a importância da nossa perseverança em buscar sempre pela santidade: “Portanto, esforcemo-nos para entrar nesse descanso”.
Os contemporâneos de Jesus, ao ver que ele curava no sábado, achavam que ele estava zombando do valor da sacralidade daquele dia, acusando-o de violar a lei de Moisés (Mateus 5.17). Quando, na verdade, Jesus sabia muito bem da importância daquele dia e tinha convicção do seu valor. O ponto é que Jesus estava inaugurando seu reino e o descanso escatológico de Deus. Ao curar, ensinar e fazer tantas outras atividades no sétimo dia da semana, o Filho apontava para a chegada do reino do Pai, isto é, a própria realidade para qual o descanso sabático apontava.
Portanto, falar de descanso para nós, cristãos, não é meramente falar de como podemos dar uma pausa na correria do dia a dia para reabastecer as energias. Praticar o descanso é santificar a esperança que temos na ressurreição de Jesus, sabendo o que nos está preparado no mundo que há de vir, na consumação do reino de Deus. Hebreus 4:11-13 deixa claro que precisamos estar alertas e firmes na Palavra de Deus enquanto essa consumação não acontece.
O ato de descansar não é apenas uma distração vazia nem uma atividade sem propósito; é uma prática sagrada onde nutrimos nossa esperança pelo descanso da vida eterna. Descansar não é ficar à toa. É confiar e deixar nossa vida ser iluminada pela segunda vinda de Cristo, para que possamos participar daquilo que foi inaugurado em sua primeira vinda. Descanso para nós, cristãos, tem que significar esperança.
Esse post faz parte da nossa série de postagens de Outubro com o tema “Trabalho e Descanso”. Para ler todos os posts clique AQUI.
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