Esperança em Tempos de Transição – Redefinindo Propósitos e Chamados em Novas Fases da Vida
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ec 3:1)
Vivemos dias em que pessoas buscam incansavelmente por viver seu propósito de vida e confesso que, com o tempo, entendi o quão romântico isso soa. Porque, sim, eu já tive essa visão sobre mim, de que fui criada para um propósito, uma missão específica, e por não estar vivendo esse propósito ainda não tinha encontrado plenitude de vida.
Conforme fui aprendendo com a Palavra e com as diferentes fases da minha vida, percebi que não se trata de ser criada por Deus para um propósito específico onde eu teria um sentido para viver, mas que as mudanças em nossas circunstâncias revelarão propósitos diferentes, não para protagonizarmos a história, mas para servirmos ao Senhor e aos que estão ao nosso redor.
A vida debaixo do sol, como nos lembra Eclesiastes, é frágil, confusa, angustiante e mortal; e nada pode mudar essa realidade. Podemos nos desesperar, buscar prazeres desenfreados ou viver despreocupadamente como se o amanhã não fosse algo a se considerar. Podemos ainda trabalhar por horas a fio, ler muitos livros, estudar e nos graduarmos cada vez mais; e tudo isso como uma forma de encontrar sentido ou tentar mudar a realidade inevitável da existência, mas todas essas coisas, não sendo erradas em si mesmas, apenas nos farão correr atrás do vento se não encontrarmos um propósito real de vida.
Nossa sociedade se pauta muito pelo trabalho. Ter uma graduação, ser especialista, doutor, pós-doutor para trabalhar em um cargo alto de uma empresa ou do governo e atuar em áreas de grande influência na sociedade, para muitos isso é propósito de vida ao ponto de se tornar a identidade da pessoa, mas para nós, cristãos, produtividade não se confunde com identidade porque nossa vida está em Cristo.
Quando olhamos para vida de José, um dos doze filhos de Jacó, podemos entender melhor sobre o real significado de encontrar propósitos, redefini-los e viver de acordo com diferentes chamados em nossas vidas.
José foi filho amado, escravo, mordomo, prisioneiro e governador. Imagino que enquanto estava com sua família, nunca almejou se preparar para se tornar governador de qualquer coisa, mas suas circunstâncias mudaram tão inesperadamente que seus talentos foram aplicados de diferentes formas e contextos. Ele tinha um talento nato para administrar coisas, foi o governador do Egito, abaixo apenas da autoridade do faraó. No entanto, quando lembramos de José, o que vem à nossa mente não é o exímio administrador, mas o seu exemplo de fidelidade e compaixão por seus irmãos, não é mesmo? Não importa qual fosse o seu chamado em diferentes fases da vida, seu propósito era se manter fiel ao Senhor Deus de seu pai.
Nossos propósitos se revelam a nós quando pertencemos a algum núcleo social, onde nossos talentos são necessários para contribuir com uma necessidade, mas nossos núcleos sociais não são permanentes, e é por isso que a essência do propósito não pode mudar ou estar ancorada em situações ou pessoas, pois mudanças podem ocorrer e pessoas podem nos deixar ou mesmo nós podemos ir embora.
Quando compreendemos que Deus deve ser o centro da nossa existência porque pertencemos a ele, nosso propósito de vida se torna pleno, assim como foi com José que, mesmo longe de sua família – seu núcleo social mais importante e íntimo – não se deixou corromper ou deixou de contribuir com zelo nas diferentes tarefas que lhe incumbiam, pois ele nunca perdeu de vista que sua vida pertencia ao Senhor.
Ao final, quando se reencontra com seus irmãos, os mesmos que o venderam como escravo ao Egito, José afirma e declara o propósito final de todas as circunstâncias, boas e ruins, pelas quais passou: “Agora, pois, não fiquem tristes nem irritados contra vocês mesmos por terem me vendido para cá, porque foi para a preservação da vida que Deus me enviou adiante de vocês” (Gn 45:5, grifo meu).
José encontrou seu propósito no servir: serviu seu pai e sua família, serviu a Potifar, serviu ao chefe da prisão, serviu ao faraó e, mais tarde, ao povo do Egito e dos reinos ao redor. E depois de milênios, na plenitude dos tempos, Cristo, o Deus encarnado, nos dá o mesmo exemplo de propósito. O que podemos entender, então, é que Deus pode e vai fazer obras por meio de nós: somos seus instrumentos, seus filhos e servos, pertencemos a ele e nossa vida é dele.
Nossos propósitos vão mudar, precisarão ser redefinidos, mas não fique com medo ou se sinta frustrada por não conseguir se manter em um lugar, profissão, comunidade local ou até mesmo entre parentes e amigos quando uma fase de sua vida te direcionar para outros horizontes.
Nós somos mutáveis, mas Deus não, e isso é maravilhoso porque compreendemos que não importa por quais mudanças de propósitos tenhamos que passar, Deus estará conosco em cada uma delas e nunca seremos reféns de pessoas e de circunstâncias.
Renovos acontecem para que a cada dia o propósito do Deus imutável se concretize em nós: ser cada vez mais parecidas com Jesus. Firmados neste bendito e supremo propósito, sempre seremos livres para viver cada fase de nossa existência em fidelidade e contentamento por ele, por meio dele e para a glória dele (cf. Rm 11:36).
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