Os Pais da Igreja 

No decorrer desta última série de textos sobre a história do cristianismo, foi possível aprendermos um pouco mais acerca de temas relevantes para a construção do que hoje entendemos como doutrina bíblica. Acontecimentos e lições significativos podem ser observados em cada século de história da Igreja, inclusive nos primeiros, época em que foram plantadas as sementes de grandes ensinamentos teológicos.

Vivemos em um mundo em que quase tudo acontece muito rápido, e isso aumenta nosso anseio pelo novo, pela próxima coisa. Em termos teológicos, queremos ler aquele livro que traz uma nova visão sobre tal assunto, queremos novos vídeos, novos eventos, novas perspectivas…

Não há nada de errado em buscar novidades, o Senhor dá sabedoria e criatividade para pessoas e essas dádivas devem ser valorizadas e usufruídas a fim de que cresçamos na fé e edifiquemos o Corpo de Cristo. Contudo, não podemos permitir que as urgências do agora e o anseio pelo porvir nos façam ficar cegos para um passado repleto de ensinamentos. Estudar a história da igreja é fazer esse exercício de parar e observar a estrada atrás de nós, que vai muito além da nossa existência (cf. Dt 32:7).

Quem eram os pais da Igreja?

Falar em pais da igreja pode soar como algo completamente novo para muitos cristãos. Não é incomum encontrar pessoas que pouco ou nada sabem sobre quem eles foram, sua importância para a história da igreja ou a relevância desses ensinos hoje. De maneira simples, os pais da igreja foram crentes que viveram no passado, tiveram importância na construção da base teológica de doutrinas essenciais à fé cristã e continuam, mediante seus escritos, a ensinar outras gerações da Igreja até aos dias de hoje.

Podemos não ter consciência disso, mas, teologicamente, estamos mais ligados aos pais da Igreja do que imaginamos. Doutrinas e termos que hoje nos são bem conhecidos, como Trindade, autoridade da Bíblia e Eclesiologia (doutrina da igreja), foram rudimentar e pioneiramente explorados pelos pais da Igreja.

Estudar sobre os pais da Igreja vai muito além de debates teológicos abstratos. É sobre ver a história da fé tomando forma mediante homens de carne e osso, com pecados e falhas, mas que eram amantes do Senhor e dispostos a edificar seu povo. Segundo Robert Wilken, citado por Bryan M. Litfin em seu livro Conhecendo os pais da igreja: “O esforço intelectual da igreja primitiva estava a serviço de um objetivo muito mais nobre do que dar forma conceitual à fé cristã. Sua missão era conquistar o coração e a mente de homens e mulheres e transformar a vida deles”.

Por que estudar os pais da Igreja?

São muitos os benefícios de conhecer a história e os ensinos de homens que viveram piedosamente antes de nós e que foram responsáveis por manter a fidelidade do Cristianismo no início da Igreja. Um desses benefícios é poder alinhar nossos corações à ênfase geral da fé cristã. Segundo Bryan M. Litfin, “existe um cristianismo puro e simples que define a própria essência da fé cristã. É nesse ponto que os pais da igreja desbravaram coletivamente o caminho para nós”. Em meio a tantas novas perspectivas teológicas, é de grande importância que cada um de nós continuamente avalie se está trilhando o mesmo caminho da ortodoxia histórica, cuja elaboração teve participação desses grandes teólogos da antiguidade.

No entanto, o estudo dos escritos desses teólogos e homens piedosos não deve se restringir a trazer efeitos apenas acadêmicos ou doutrinários. Como dito anteriormente, quando vemos a vida e os ensinos desses homens, podemos observar que seu principal objetivo era trazer os ensinos teológicos ao dia a dia dos crentes, de modo a preservar a pureza da fé cristã e edificar a Igreja enquanto comunidade. É com essa visão que nós, crentes de hoje, devemos olhar para a vida e obra dos pais da Igreja: como ferramentas para aprender e aplicar as verdades bíblicas ao nosso cotidiano.

Em Hebreus 12 vemos a lista de alguns heróis da fé. Aqueles nomes seguidos de breves relatos estão ali, dentre outras razões, para encorajar os cristãos do primeiro século a permanecerem firmes da fé: “Portanto, também nós, rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, depois de eliminar tudo que nos impede de prosseguir e o pecado que nos assedia, corramos com perseverança a corrida que nos está proposta” (cf. Hb 12:1-2). É como se o autor da carta de Hebreus estivesse dizendo “Olhem para esses grandes homens e mulheres que viveram antes de vocês. As lutas, tribulações e angústias que vocês hoje vivem não são tão diferentes das que eles viveram. Olhem para eles, imitem seus acertos e desviem-se de seus erros a fim de serem mais parecidos com o Senhor de todos, que é Cristo”. Esse exercício de olhar para trás e aprender com os antigos é, também, válido para nós, crentes de hoje.  

Outra razão para aprender sobre os pais da Igreja é que, à medida que conhecemos biografias e ensinos do passado cristão, somos motivados a servir mais a igreja e viver em fidelidade ao Senhor. Quando começamos a conhecer a forma como Deus usou os crentes que viveram antes de nós, ampliamos nosso olhar sobre o que é ser parte do Corpo de Cristo e sobre os inúmeros privilégios de que desfrutamos ao servir a Jesus.

Com Policarpo, que aos 86 foi queimado por não negar a Cristo, aprendemos sobre mantermos firme a confissão de nossa fé. Com Justino, aprendemos que Cristo é a verdadeira filosofia e a fonte de todas as respostas que o nosso coração anseia. Com Agostinho de Hipona, considerado por muitos um dos maiores teólogos da história, cujos estudos influenciaram fortemente Lutero e Calvino e, consequentemente, a Reforma Protestante, aprendemos sobre a doutrina da graça e a soberania de Deus na salvação.

Aprender sobre como esses crentes amaram a Deus e zelaram pela doutrina bíblica, faz-nos amar mais o Senhor que nos fez um mediante o sangue de Cristo e nos dá uma percepção de que somos parte de algo maior que nossa própria vida, somos parte do povo amado por Deus. Também nos faz ver com mais humildade nossos estudos teológicos de hoje, sabendo que, na verdade, caminhamos sobre os ombros de gigantes. Policarpo e Justino, Tertuliano e Agostinho… você, eu… todos graciosamente unidos à Videira que é Cristo, para a glória de Deus Pai.

Se você deseja começar a estudar sobre os pais da Igreja, deixamos como dica esses dois livros:

Os pais da Igreja – Hans von Campenhausen https://www.cpad.com.br/os-pais-da-igreja-119829/p

Conhecendo os pais da Igreja – Bryan Litfin – https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/659/ 


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