O que o Cristianismo Não é: Legalista
Desde os tempos de Jesus encarnado encontramos relatos na Bíblia de grupos de religiosos que pregavam que para que o homem fosse aceito por Deus era preciso que fosse cumprida uma série de regras, as quais eram como fardos que tornavam árdua a caminhada daquele que almejava obedecer ao Pai. Temos aqui a definição de legalista.
Legalismo é o ato de impor regras para que um indivíduo se torne merecedor da salvação, estabelecer normas a serem cumpridas para que se alcance o favor de Deus.
Como bem observa o pastor Paulo Júnior, o legalismo é diferente do zelo. Portanto, faz-se necessário salientar que o objetivo do texto não é criticar o cuidado de muitos cristãos pela Palavra em sua caminhada de obediência e santidade para com o Senhor, mas mostrar, pelas lentes das Escrituras, que não há nada que o homem possa fazer para ser salvo.
O homem não é capaz sozinho
Comecemos pelo começo. No jardim do Éden, ao criar o homem, o Senhor lhe deu instruções e a ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois, caso o fizesse, certamente morreria. Adão e Eva escolheram não obedecer ao mandamento divino e, a partir daí, o pecado passou a exercer influência sobre o ser humano.
Deus, sendo rico em misericórdia e sem diminuir sua justiça, não os matou imediatamente, mas anunciou que viria um nascido de mulher que morreria no lugar deles, derrotaria Satanás e restauraria todas as coisas. A redenção da humanidade estava a caminho.
Ao longo das gerações, o Senhor separou para si servos fiéis que observavam a sua Lei, mas que, mesmo assim, eram incapazes de cumpri-la de forma perfeita. Por meio do sistema sacrificial do Antigo Testamento os pecados eram perdoados à medida que as ofertas eram trazidas diante de Deus. Cada rei ou profeta que era instituído trazia a memória e a expectativa de que o Messias prometido estava para chegar trazendo libertação.
Adão, e aqueles que vieram depois dele, são a comprovação de que o homem nada pode fazer para salvar-se, uma vez que a semente do pecado nele implantada o torna incapaz de oferecer sacrifício perfeito que aplaque a ira divina de forma definitiva e redentora.
Nas palavras do apóstolo Paulo: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23).
Foi pra isso que Cristo Jesus veio ao nosso mundo: o homem não é capaz de salvar a si mesmo.
Suficiência de Cristo
O Senhor Jesus encarnou e viveu como o homem perfeito aqui na terra, sem cometer pecado. Ele cumpriu toda a Lei dada por Deus, tudo o que era necessário que o homem fizesse para ser readmitido na presença do Pai foi executado pelo Messias. Assim que morreu crucificado, o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mateus 27.51). Isso indicava que o imaculado sacrifício fora aceito diante do Senhor, a morte de Cristo subiu como aroma suave que apaziguou e restaurou o relacionamento harmonioso entre o ser humano e seu Criador, o pecado não teria mais poder de separá-los.
A obra redentora de Cristo torna justos todos aqueles que creem nele, isto é, por meio da fé, seu sacrifício é creditado a nós, nos purificando de todo o pecado de uma vez para sempre e, portanto, tornando-nos aceitos permanentemente na presença de Deus.
Não há nada, absolutamente nada, que o homem possa fazer para ser salvo, uma vez que estava morto em seus delitos e pecados (Efésios 2.1). Ora, mortos espirituais de nada são capazes, não têm iniciativa nem forças. “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15.5), disse Jesus.
Da mesma forma que o pecado e a morte entraram no mundo por meio de Adão, o perdão, a justiça e a vida vieram por meio do segundo Adão – Cristo Jesus.
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.” (Romanos 5.18,19)
O cristão e a Lei
Diante dessas afirmações surge uma série de perguntas: se Cristo cumpriu tudo o que Deus requer do ser humano, isso significa que não precisamos mais levar em consideração a Bíblia? Ela está ultrapassada, uma vez que vivemos no tempo da graça e não da Lei?
Antes da vinda de Cristo, a Lei servia como aio, uma espécie de tutor, que conduzia os homens mostrando a realidade de seus pecados e a punição merecida. Ela os protegeu na jornada até que o Verbo se fez carne e redimiu seu povo.
“Agora que veio o caminho da fé, não precisamos mais da lei como guardião.” (Gálatas 3.25)
A lei sacrificial, aquela que diz o que o homem precisa fazer para ser aceito na presença de Deus, foi cumprida e encerrada no Senhor Jesus. O que resta a ser observado é a lei moral, a qual instrui sobre o modo de vida na presença de Deus, o que lhe agrada ou não, a forma de lidar com o próximo e a busca da santidade que imita a Cristo.
Por estarmos sob a graça abundante de Deus, nós sentimos prazer, alegria e contentamento em fazer a vontade do Senhor conforme ele revelou em sua santa Palavra. Não obedecemos por obrigação, mas em gratidão por tudo o que ele fez por nós gratuitamente em Cristo. A Palavra não nos torna limitados, como muitos pensam, pelo contrário, ela nos protege e liberta da influência do mal.
Nossos atos de bondade são inválidos quando o assunto é o recebimento da salvação. No entanto, eles são consequência da transformação operada em nós pelo Senhor. Uma vez mortos para o pecado, devemos viver como Cristo, servindo ao próximo, exercendo misericórdia, compartilhando tudo aquilo que recebemos gratuitamente.
E então muitos questionam: por que vemos tantos “usos e costumes” no meio evangélico? Por que existem cristãos que parecem não reconhecer a suficiência do sacrifício de Cristo?
A verdade é que o ser humano não gosta de depender dos outros, tampouco de receber um favor e não retribuir. Faz parte da nossa natureza o “toma lá, dá cá”. Você me ajuda desde que eu possa fazer algo de volta por você. Eu recebo aquilo pelo qual lutei para conquistar. Com base nisso, muitos têm dificuldade em aceitar o presente da salvação. Soa humilhante ser perdoado sem ter feito coisa alguma para merecer.
Como já vimos, a justificação é unilateral: o Senhor Jesus Cristo fez tudo. Não há nada que tenhamos que fazer para sermos aceitos na presença de Deus. Ele recebe tanto o piedoso Abraão, quanto o ladrão da cruz. A graça é a mesma para ambos, nenhum dos dois é mais ou menos digno ou pode ser salvo sem o sangue do Cordeiro.
No capítulo 23 do evangelho de Mateus, os fariseus – judeus estudiosos da Lei – foram duramente censurados pelo Mestre por imporem aos homens duras regras que o Senhor não estabeleceu. Eles oprimiam o povo, mas não praticavam o que ensinavam. Tudo o que faziam era com o intuito de serem vistos e tidos como piedosos e religiosos fervorosos diante de todos. “Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.” (v.4)
Muitos legalistas, semelhantes aos fariseus, podem ser percebidos em nossos dias. Pessoas que afirmam que para sermos salvos, precisamos de Jesus + alguma coisa. Todavia, não são os rituais, as roupas, o dinheiro ou os bens dos quais dispomos. Não é a tradição ou o fato de nossos antepassados terem fundado a igreja, não é porque somos boas pessoas – até porque isso não é verdade. Quando depositamos a certeza da nossa salvação em algo além de Cristo nós invalidamos a obra dele, estamos dizendo que ele não é suficiente, que precisa de ajuda.
Sobre a justiça de Deus por meio de Cristo, diz o pastor Augustus Nicodemus: “nós queremos merecê-la, mas o máximo que podemos fazer é recebê-la”.
Jesus é O caminho, único e exclusivo. Ele tira de nossos ombros o fardo pesado de nossas tentativas frustrantes e frustradas de sermos aceitos pelo Senhor a partir de nossos próprios esforços, e nos concede seu fardo leve, cheio de graça, perdão e misericórdia que nos dá livre acesso ao Pai. A salvação é fruto da graça de Deus aplicada por meio da fé em Cristo Jesus. Somente. Essa é a mensagem central do cristianismo e ela nada tem de legalista.
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16)
“Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar.” (Efésios 2.8,9)
Fontes:
Nada de mim: o caminho da justificação – Augustus Nicodemus: https://www.youtube.com/watch?v=WzLEtdMdcp8
Você é legalista? – Paulo Junior: https://www.youtube.com/watch?v=OZ45Tj9km58
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