Missionárias que Marcaram a História do Cristianismo: Elisabeth Elliot

A segunda de seis irmãos, Elisabeth Howard nasceu em 21 de dezembro de 1926 em Bruxelas, Bélgica. Filha de um casal de missionários americanos, Philip e Katherine Howard, mudou-se ainda bebê para os Estados Unidos, onde viveu a maior parte de sua vida.

Desde pequena, Betty, como era carinhosamente chamada, teve contato com as Escrituras e foi instruída pelos pais no caminho da fé cristã. Aos dez anos de idade ganhou uma Bíblia de presente que a estimulou a buscar ainda mais ao Senhor. Aos 12 anos fez uma breve e potente oração: “Senhor, eu quero que faças o que quiseres comigo”.

Em 1944, Elisabeth inicia um novo capítulo de sua vida ao ingressar na faculdade. Por ter crescido imersa em uma atmosfera que enfatizava santidade pessoal e missão estrangeira – em casa, na escola e na igreja –, matriculou-se em Wheaton College onde estudou grego clássico. Movida pelo desejo missionário, no início, ficou em dúvida entre seguir pelas linhas da medicina ou da linguística, mas, depois de muito buscar a direção do Senhor, escolheu a segunda opção e entendeu que deveria se tornar uma tradutora da Bíblia com o fim de evangelizar povos não-alcançados. 

Betty era uma jovem introvertida. A cultura da época tratava essa característica como algo ruim, uma espécie de transtorno de personalidade, o que fazia com que ela tentasse mudar. Betty se envolvia em atividades sociais na faculdade e fora dela, como evangelismo, mas tinha dificuldade em estabelecer relações interpessoais fora do círculo familiar e de amigos próximos. Ao mesmo tempo, também era firme em suas opiniões. Sua atividade favorita em Wheaton eram os debates, nos quais argumentava de forma veemente para defender seu ponto de vista. 

Elisabeth era uma mulher de oração. Seu desejo era viver em obediência irrestrita à voz do Senhor e fazer a vontade dele em cada área de sua vida, por mais insignificante que parecesse. Ela orou incessantemente até que o Senhor a mostrasse de forma clara qual direção deveria seguir após a formatura; e orava para que suas ações fossem para a glória de Cristo, e não dela mesma. Muitos desses momentos de angústia em que ela se derramava na presença do Senhor foram registrados nas cartas que frequentemente escrevia à família. Em uma delas, datada de 1947 e citada no livro Elisabeth Elliot: a life, disse o seguinte:

“Eu estava dizendo às minhas colegas de quarto no sábado que certamente tive todas as oportunidades possíveis que alguém poderia esperar — em casa, na igreja e na escola… Às vezes tenho medo – muitas vezes sinto que o Senhor talvez esteja me preparando para alguma tarefa extremamente dura ou difícil, ou para alguma crise avassaladora. Tremo ao perceber o preço que devemos pelo menos estar dispostos a pagar. Ele exige de nós abandono – total e incondicional. O que pode significar quando eu oro por toda a Sua vontade, para que Ele me quebre? Oh, que Ele me ensine a ser fiel!” (tradução livre)

A questão de relacionamentos amorosos também esteve bastante presente nas orações de Betty. Enquanto os jovens daquela época buscavam no namoro uma afirmação de sua popularidade, a jovem tinha um desejo de encontrar um parceiro sério, que tivesse os mesmos princípios que ela e que fosse firme espiritualmente. 

A vida sentimental de Betty é transformada quando, em 1947, ela é apresentada a Jim Elliot, colega de classe e grande amigo de Dave, seu irmão. Jim era um aluno exemplar, que se destacava nas atividades em Wheaton, além de ser um homem piedoso, o qual buscava as coisas do alto e exalava o compromisso com Cristo.

Embora Jim e Elisabeth nutrissem um amor mútuo, o rapaz entendia que o chamado de Deus para ele era trabalhar como missionário pioneiro na selva, trabalho esse que era para um homem solteiro, pelo menos era isso que os homens mais velhos lhe diziam. Por anos, o casal conversou pessoalmente e por cartas, além de manter uma vida de oração para entender qual a vontade do Senhor. No livro Paixão e Pureza, Elisabeth cita algumas cartas e porções de seu diário e fala sobre seu amor por Jim, sobre como conseguiu se manter pura e esperar o tempo de Deus para que vivessem juntos.

Após se formar em Wheaton, Betty passou um ano no Prairie Bible Institute, no Canadá, onde fez uma pós-graduação.

Em fevereiro de 1952, Jim partiu para Quito, no Equador, com a intenção de pregar o Evangelho da salvação para tribos indígenas. Trabalhou entre alguns povos, dentre eles os Quíchua, um povo gentil, que tinha um bom relacionamento com pessoas de fora da tribo. Em abril do mesmo ano, Elisabeth se juntou ao trabalho, com a evangelização de adultos e crianças.

Ao pedir a mão de Elisabeth em casamento, Jim anexou uma condição: que ela aprendesse a língua quíchua equatoriana antes de dizer “sim” no altar. Promessa cumprida, em 8 de outubro de 1953, Betty passa a ser chamada de Elisabeth Elliot, ao se casar com Jim, no Equador. Em 1955, nasceu Valerie, a única filha do casal.

Deus moveu o coração de Jim e de mais quatro missionários em direção aos Auca: uma tribo fechada, hostil, selvagem e que não tinha tido bons contatos anteriores com pessoas de fora da tribo. A Operação Auca foi traçada e, em uma primeira tentativa, foi feito contato amigável com alguns da tribo.

Em 8 de janeiro de 1956, os cinco homens foram em direção aos Auca. Sobrevoaram a região em um pequeno avião amarelo e, ao pousarem, foram atacados e brutalmente assassinados pelos índios. O corpo de Jim foi encontrado atravessado por uma lança no fundo de um rio. Os missionários tinham levado armas por precaução, mas, pelo que foi constatado, optaram por não as usar. Elisabeth ficou viúva e com uma filha de dez meses para criar. 

O caso tomou proporções internacionais e as viúvas dos missionários receberam apoio, cartas e testemunhos sobre como o sacrifício de seus maridos tinha impactado cristãos ao redor do mundo, motivando-os a se envolver com missões, principalmente entre povos não alcançados.

Logo após a morte daqueles homens, o trabalho foi retomado. Presentes foram lançados de um avião para que os Auca soubessem que se tratava de pessoas amigáveis. Vingança nunca passou pela mente das esposas nem dos outros missionários. Inclusive, à exceção de uma das esposas, as demais permaneceram por um tempo servindo no Equador após o ocorrido.

 Elisabeth, juntamente com Rachel, a irmã de um dos missionários mortos, se empenhou em aprender a língua dos Auca com duas mulheres que tinham saído da tribo. Quase três anos depois, em 1958, Elisabeth, Rachel e a pequena Valerie, entraram na tribo e foram bem recebidas pelo povo. Eles construíram casas para elas, compartilharam de sua comida e explicaram que o motivo de terem matado os homens foi por terem pensado que se tratavam de canibais. Reconheceram que foi um erro.

O Senhor operou de forma tão poderosa no meio daquela tribo que muitas conversões ocorreram, inclusive daqueles que haviam matado os missionários. O nome “Auca” significa “selvagem”, e não é mais usado. O próprio povo o trocou para “Waorani” ou “Waodani” que significa “humanos”. Elisabeth e Valerie viveram entre eles até 1963, quando se mudaram de volta para os Estados Unidos. No livro Através dos Portais do Esplendor, escrito enquanto ainda estava no Equador e que narra a história da Operação Auca, Elisabeth diz:

“A história desse povo na época da morte dos cinco missionários, e mais tarde, quando vivi entre eles, e durante todos os anos em que a tenho contado e refletido nela à luz da minha própria história subsequente, revela uma coisa: Deus é Deus. Se ele é Deus, merece minha adoração e meu serviço. Não encontro paz em nenhum lugar a não ser na vontade de Deus, e sua vontade está infinita, imensurável e indizivelmente acima de meus conceitos mais profundos do que ele intenciona fazer.”

Em 1969, Elisabeth se casou com Addison Leitch, professor de teologia no Seminário Gordon-Conwell. Ele faleceu em 1973, em decorrência de um câncer. Elisabeth ficou viúva pela segunda vez.

A vida de Elisabeth nos Estados Unidos foi marcada por vários trabalhos. Ela se tornou professora no Seminário Gordon-Conwell, contribuiu com a tradução da Nova Versão Internacional (NVI) da Bíblia e foi palestrante e autora de mais de vinte livros. 

Por treze anos, de 1988 a 2001, Elisabeth apresentou um programa diário de rádio voltado para mulheres chamado Gateway to Joy. Ela iniciava cada episódio dizendo: “ ‘Você é amada com um amor eterno’, é o que a Bíblia diz, e por baixo estão os braços eternos. Esta é sua amiga, Elisabeth Elliot. . .” . Você pode acessar os episódios e ouvir a voz de nossa amiga clicando aqui.

Após a morte do segundo marido, Elisabeth alugou um quarto em sua casa para dois inquilinos, Walter Shepard e Lars Gren. O primeiro homem veio a se casar com Valerie em 1976, e o segundo com Elisabeth, em 1977, com quem permaneceu casada até o fim de sua vida.

Em 2004, Elisabeth deixou de fazer palestras por ter sido acometida de demência. Em uma entrevista, seu marido Lars disse: “Ela aceitou essas coisas, sabendo que não eram nenhuma surpresa para Deus. Era algo que ela preferiria não ter experimentado, mas ela recebeu.”

No dia 15 de junho de 2015, aos 88 anos, Elisabeth Elliot faleceu em sua casa e atravessou os portais celestiais do esplendor.

Elisabeth é referência para homens e mulheres cristãos, das mais variadas idades e épocas. Sua vida fala com as jovens que anseiam pela direção de Deus em sua vida amorosa, com a mãe solo que precisa educar o filho sozinha, com as viúvas jovens e experientes, com a mulher que está no mercado de trabalho, com as pessoas que enfrentam enfermidades na família ou em seus próprios corpos e fala com aqueles que desejam submeter cada área de sua vida, juntamente com as ansiedades, ao bom pastoreio de Cristo. Seu legado de amor incondicional ao Senhor e de obediência à sua vontade, por mais agridoce que esta seja, inspira muitos na caminhada deste lado da eternidade. 

O sofrimento, tão fortemente presente em sua história, fez com que Elisabeth consolasse outras pessoas com o consolo que recebeu do Senhor – conforme 2 Coríntios 1.3,4 – por meio de seus escritos. Assim como Jó, ela não teve todas as respostas que buscava para sua dor, mas recebeu do Senhor a resposta de que Ele é Deus, está assentado no trono do Universo conduzindo cada situação, pequena ou grande, e Ele tem propósitos que vão além do limitado entendimento humano. Ela aprendeu a confiar em quem Deus é, a viver pela fé e não pelo que seus olhos viam. Amor e sofrimento andam juntos, prova disso é a obra redentora de Cristo. Por isso, o sofrimento nunca é em vão.

“Seja lá o que estiver no cálice que Deus está me oferecendo – dor, tristeza, sofrimento ou lamento, como também as superabundantes alegrias –, estou disposta a tomar, pois eu confio nele.” (Do livro, O sofrimento nunca é em vão)

* Para saber mais sobre Elisabeth Elliot, no site do Graça em Flor, temos outras publicações. Clique aqui e confira.


Referências bibliográficas:

AUSTEN, Lucy S.R. Elisabeth Elliot: a life. Wheaton, Illinois: Crossway, 2023.

ELLIOT, Elisabeth. Através dos portais do esplendor: a história que chocou o mundo, mudou um povo e inspirou uma nação. São Paulo: Vida Nova, 2013.

ELLIOT, Elisabeth. O sofrimento nunca é em vão. São José dos Campos, SP: Fiel, 2020.

ELLIOT, Elisabeth. Paixão e pureza: aprendendo a deixar sua vida amorosa sob o controle de Cristo. São José dos Campos, SP: Fiel, 2021.

Sites: 

ELISABETH ELLIOT. Disponível em: [http://elisabethelliot.org/]. Acesso em 05 fev. 2025.

REVIVE OUR HEARTS. Elisabeth Elliot: Wholly Surrendered to God’s Will. 02 de junho de 2016. Disponível em: [https://www.reviveourhearts.com/blog/elisabeth-elliot-wholly-surrendered-gods-will/?srsltid=AfmBOor6KNf4G6TU3N3Z8LFSI0wfmm1Dz3U3Yzb-0AQ0uQomKIuoPEIg]. Acesso em 10 fev. 2025.

THE GOSPEL COALITION. 9 Things You Should Know About Elisabeth Elliot. 15 de junho de 2015. Disponível em: [https://www.thegospelcoalition.org/article/9-things-you-should-know-about-elisabeth-elliot/]. Acesso em 10 fev. 2025.

WIKIPEDIA. Elisabeth Elliot. Disponível em: [https://pt.wikipedia.org/wiki/Elisabeth_Elliot]. Acesso em 05 fev. 2025.


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