
Esperança em Tempos de Transição – Confiança no Processo: A Fé que Espera em Silêncio
Estou convencida de que mudanças de vida, sejam quais forem, são mais aceitáveis para alguns tipos de personalidades do que para outros. Mudança para mim, por exemplo, gera ansiedade e desconforto, ainda que sejam positivas. Porém, quando observo outras pessoas próximas a mim prestes a passarem por transições extremamente significantes, parecem estar fazendo algo totalmente ordinário como fritar um ovo ou ligar um abajur em uma sala escura. Tudo bem, talvez não seja para tanto, mas, muitas vezes, é assim que parece ser. Brincadeiras à parte, sei bem que independente do tipo de personalidade, o futuro incerto e confuso causa desconforto no mais profundo da alma. Ainda que a aparência externa seja calmaria. Especialmente se essas mudanças nos fazem esperar por algo que ainda não vimos.
Esperar nos custa caro, e quanto mais desenvolvidas tecnologicamente nossas sociedades são, mais prezamos pelo que é rápido e eficiente. Tempo é dinheiro, certo? É curioso o fato de que existem duas vertentes dentro da palavra “esperar”. Em uma, vemos o sentido de aguardar por algo, como alguém aguarda pelo o ônibus ou pela torta no forno ficar pronta. Em outra, vemos o sentido de ter esperança, de alimentar dentro de si um desejo por algo que ainda não lhe foi conferido. A certeza dessa obtenção, sendo tão real, faz com que a esperança exista. Isso te lembra de algo?
“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.” Hebreus 11:1
Quando enfrentamos mudanças, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis a nós, buscamos pela esperança que está entrelaçada nas linhas da história em que estamos vivendo. Procuramos motivos para que não nos desanimemos ou nos deixemos ser tomadas pela magnitude do que se coloca em nossa frente; seja pela distância do caminho a ser trilhado, seja pelas subidas íngremes de montes ou descidas espinhosas de vales. Onde, porém, estamos colocando essa esperança?
Pergunto-me como foi aquele caminho que José trilhou ao ser vendido como escravo e ter sido tomado de sua família, conforme a narrativa no livro de Gênesis. Um jovem de 17 anos que não pôde voltar atrás e abraçar o pescoço do seu amado pai pelo menos uma última vez. José se viu em uma estrada árida, olhos cheios de lágrimas por ter sido levado para tão longe que, mesmo caso fosse deixado em liberdade no dia seguinte, não teria condições de achar o caminho de volta para casa. O abismo estava estabelecido. A mudança, e a perda, eram irreversíveis.
Você já se viu em uma estrada como a de José? Espero que não literalmente, mas de precisar abraçar um novo caminho que você jamais teria escolhido pela sua própria vontade? Talvez um diagnóstico, uma separação, um trauma, momentos que parecem criar um hiato na linha do tempo da vida? Como respondemos quando nossos caminhos são completamente redirecionados? Para onde vai aquela fé e esperança que professamos com tanta veemência? Para onde vai a certeza das coisas espirituais que não se veem?
Amadas, talvez algumas de nós estejamos correndo em uma esteira, onde a vida passa rolando com facilidade por tanto tempo que esquecemos que uma hora ou outra, uma pedra vai estar no meio do caminho, e que vamos precisar desviar, reagir, colocar nossa fé em ação. O dia da pedra no meio do caminho chegou para José. Tantos foram os eventos em sua vida que essa estrada parecia não mais levar a lugar algum, como no dia em que foi rejeitado pelos seus; no dia em que chegou numa terra estrangeira; no dia em que foi julgado injustamente; no dia em que suas mãos foram atadas na prisão; no dia em que se esqueceram dele e talvez até foi negado por aqueles que o chamavam amigo; no dia em que foi maltratado sem motivo. Parecia que as pedras no caminho continuavam a se multiplicar, semelhante com a história do nosso Jesus Cristo, quando estava aqui na terra.
Foram aproximadamente vinte anos até que ele começou a ver o resultado de sua fé. José viu seus irmãos e mal podia acreditar no que estava acontecendo. Quando percebeu que através do seu plano de guardar os mantimentos por sete anos de fartura ele estava salvando sua família, imagino que José irrompeu o silêncio de anos e deu um brado de alegria. “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o planejou para o bem, para que a vida de um numeroso povo fosse salva hoje“. Gn 50:20 (NVT) Se não de alegria, de choro, com certeza (cf. Gn 45:2).
Veja, não é porque José estava em uma posição de prestígio dentro do palácio pelos últimos sete anos que a dor e a confusão daquela mudança que aconteceu em seu passado deixaram de existir. José ainda queria abraçar seu pai e tentar reconciliação com seus irmãos. Por mais que não pudesse ter o que gostaria, José não deixou de crer em um Deus que segura o mundo em Suas mãos. Ele sabia que, apesar de sua posição muitas vezes desesperadora, o poder de Deus se manifestava em sua vida e através de sua história. Seu propósito não acabava naquela estrada para o Egito. O Deus que não sente ansiedade diante das mudanças, medos em meio a incertezas e em quem não existe sombra de variação, estava indo à sua frente e segurando sua mão.
Foram vinte anos de fé silenciosa depois de anunciar em alto e em bom som os sonhos que lhe foram revelados por Deus, de que sua vida seguiria uma trajetória diferente da de seus irmãos. O tempo de calar-se, porém, chegou para José. Assim como o tempo de proclamar novamente a bondade de Deus e salvar sua família da fome.
Talvez algumas de vocês reajam em irritação se eu pedir que confiem no processo. Talvez você pergunte: “Que processo? Como confiar se nem processo eu vejo?”. Peço permissão para pedir algo diferente: confie no Deus do processo. A história é dEle e Ele não é escritor de deixar pontas soltas. Confie, mesmo que em silêncio, como José. Talvez sim, os frutos da sua fé virão em breve, ou talvez você tenha que esperar mais alguns anos. Talvez você não veja enquanto estiver deste lado da eternidade, assim como muitos dos nossos irmãos e irmãs citados na galeria da fé de Hebreus 11. O fato de não enxergarmos os frutos, portanto, não quer dizer que Ele não está agindo e nos guiando por essa estrada muitas vezes tortuosa, mas cheia da bondade e da graça do Todo-Poderoso, nosso Pai querido.
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