A Escolha Crucial – Falando sobre Aborto

Escrito por Leslie Ludy, traduzido com permissão por Francine V. Walsh

O assunto “aborto” é muito vigente e constante aqui nos EUA – muitas vezes já tive discussões sobre ele à mesa, com amigos. Mas no Brasil ainda continua sendo um tema silencioso, uma vez que o aborto ainda não é legalizado (a não ser em casos de estupro, risco à vida da mãe e anencefalia do feto). Entretanto ano passado uma nova lei abriu novamente a discussão e sentimos que estamos às portas de ter o aborto legalizado em nosso país. Com isso em mente, trago o primeiro de muitos posts sobre o assunto aqui no Graça em Flor, com essa tradução da autora americana Leslie Ludy, do ministério Set Apart Girl. Em breve trarei também posts sobre o livro “Abortion”, do teólogo R. C. Sproul, que inclusive é disponibilizado gratuitamente (em inglês) nesse link: http://www.ligonier.org/blog/abortion-rational-look-emotional-issue-free-ebook/

Não podemos mais nos esconder desses assuntos, por mais difíceis e controversos que eles sejam, especialmente em nossa época. Deus não muda. A Sagrada Escritura dEle não muda. O amor dELe por bebês em formação e mães em situação de risco não muda. Então se nossa ordem permanece a mesma (cf. Pv. 31:8), não podemos nos calar.

Em Cristo,

*Nossa próxima tradução se chama “Como Amá-la”, e trata sobre formas de amar não só os não-nascidos mas também as mães em cujos ventres eles se encontram.

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Quando nosso primeiro filho, Hudson, tinha quase dois anos de idade, eu fiquei grávida de nosso segundo bebê. Com muita alegria, nós contamos ao nosso filho que ele seria um irmão mais velho. Nós anunciamos a nossos amigos e família que tínhamos um novo pequeno Ludy à caminho. Nós começamos a ponderar ideias para o nome. Calculamos a data do nascimento. A vida continuou, e nós alegremente antecipamos essa nova vida em nossa família.

E então em uma manhã nossa alegria encontrou seu fim. Eu acordei com alguns sintomas alarmantes e tive uma suspeita que havia perdido meu bebê. Uma visita ao médico confirmou nosso medo. A vida que estava crescendo dentro de mim tinha sido abruptamente interrompida. Pelas próximas 24h eu estava em um estado de choque e descrença.

Eu não sabia ao certo como processar uma perda tão inesperada e repentina. Eu não queria perder o controle emocionalmente. Eu tinha um filho pequeno para criar, um marido, uma vida ministerial. Eu escolhi ser forte, e seguir em frente. Afinal de contas, como o médico me lembrou, eu poderia engravidar novamente. E aquela vida tinha sido perdida apenas com seis semanas de desenvolvimento; nem tinha a semelhança de um bebê ainda. Eu não senti o bebê chutar, nem ouvi seu coração, nem vi o ultrassom. Nesse estágio tão inicial da gravidez, não era como se fosse uma tragédia; era mais como um desapontamento. Ou pelo menos foi isso que eu disse a mim mesma.

Mas por algum motivo havia um crescente desespero em minha alma por ter perdido minha gravidez. Algumas noites eu ficava acordada na cama, quase sufocada por uma dor emocional inexplicável.

Muitas semanas se passaram e eu fiz o meu melhor para ignorar o luto no meu coração e simplesmente continuar com minha vida. Eu pensei que a melhor maneira de honrar o Senhor nessa situação seria aceitar o que aconteceu com resiliência e não deixar que aquilo me desanimasse. Mas, o luto continuava a se ampliar. E finalmente um dia eu não podia mais conter minha tristeza. Eu chorei incontrolavelmente em minha cama, de luto por aquela criança que eu jamais conheceria desse lado da eternidade. Foi a primeira vez desde a perda que eu me permiti chorar.

Por semanas eu insisti em dizer a mim mesma que o que aconteceu “não era nada de mais”. Mas agora eu estava face a face com a realidade da situação. Era sim algo importante. Na verdade era uma tragédia horrível. Uma pequena vida – preciosa a Deus, formada à Sua imagem, moldada por Suas mãos – tinha sido perdida. Eu pensei sobre versos das Escrituras:

Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. (Salmos 139:13)

Desde que nasci fui entregue a ti; desde o ventre materno és o meu Deus. (Salmos 22:10)

Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi. (Jeremias 1:5)

Para Deus, o bebê que havia perecido não era somente um feto mal-desenvolvido, ou um combinado de células e tecidos. Era uma vida humana de valor inestimável; uma obra-prima de Sua criação – com sua própria batida do coração, seu próprio DNA, e seu próprio destino; um destino que tinha sido interrompido.

Deus estava chorando pela morte de Sua preciosa criança. A melhor maneira de honrá-lO através dessa perda seria não ao ignorar a dor, mas ao permitir que eu sentisse o que Ele sente, que me importasse tão profundamente quanto Ele se importa.

Uma vez que me permiti viver o luto por essa pequena vida – ver o que Deus via, sentir o que Ele sentia – tudo mudou. Minha vida nunca mais foi a mesma.

Eric [o marido de Leslie] e eu tivemos uma pequena cerimônia para nossa criança perdida. Nós demos um nome a ela. Escrevemos cartas dizendo nosso adeus. Meu coração ainda estava triste pelo que havia acontecido, mas Deus começou a curar minha alma de forma profunda.

Ele também começou a fazer algo novo em minha alma – a habilidade de sentir um peso pelo fraco e vulnerável; de chorar pelas crianças órfãs e escravizadas; e de chorar pelas inúmeras vidas não nascidas sendo interrompidas antes que tivessem uma chance de viver o que Deus tinha para elas.

Eric e eu tínhamos trabalhado em tempo integral com ministérios cristãos desde que casamos. Mas havíamos nos tornado tão ocupados que começamos a ignorar o órfão, o necessitado e o vulnerável. Através de nossa trágica perda Deus nos acordou para o clamor de mais de 143 milhões de órfãos no mundo. Ele colocou em nossos corações um peso pelas milhões de meninas presas no ciclo do tráfico humano. Ele pesou em nossos corações as crianças-soldados da Uganda, as crianças famintas da Libéria, e as crianças de rua do Brasil.

E ele abriu nossos olhos para a uma injustiça nada menor do que todos esses dramas mencionados acima; uma tragédia incompreensível acontecendo não do outro lado do mundo, mas ali na esquina – e praticamente em todas as cidades dessa nação [EUA]. Incontáveis mulheres estão sendo manipuladas, enganadas, e exploradas por uma máquina faminta por dinheiro chamada indústria do aborto. E milhões de vidas inocentes e indefesas são terminadas nas mãos de abortistas, sem que tenham a capacidade de se defender.

Enquanto eu chorava pelo bebê que perdi, eu comecei a sentir o luto profundo e dolorido que Deus sente por esses preciosos bebês que estão sendo deliberadamente abortados nesse momento ali na esquina, e ao redor do mundo.

Eu sempre fui “pró-vida”. Mas conforme Deus trabalhava em meu coração por meio dessa experiência, a questão do aborto se tornou mais do que apenas algo que aparece no meu voto a cada quatro anos. Agora eu comecei a carregar o fardo de Deus pelos não-nascidos, sentindo em um nível profundo da minha alma o valor inestimável de cada vida preciosa criada pelas Suas mãos de amor.

Daquele ponto em diante, as palavras de Provérbios 31:8 se tornaram um ponto de paixão para minha vida:

Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados.

Quem são esses que não podem defender-se a quem Deus se refere? Quem são essas vítimas desamparadas? A resposta é mais óbvia do que muitos de nós percebem.

(…)

Nesse país [EUA], 23.000 bebês foram mortos somente essa semana na mãos dos abortistas. 1.2 milhões de bebês são assassinados no ventre de suas mães todo ano. Um em cada quatro bebês concebidos nos EUA é abortado cirurgicamente. O número de abortos é maior que o de nascimentos em pelo menos catorze grandes cidades americanas. E esses números assustadores apenas aumentam a cada ano.

Se nós não erguermos nossas vozes para ajudar esses indefesos, se não tomarmos a causa deles para nós e lutarmos por sua vidas, quem vai?

Aborto nos EUA não é só um preocupante problema político. É um genocídio silencioso. É uma crise de proporções gigantescas e epidêmicas.

Aborto não é só um preocupante problema político. É um genocídio silencioso. Click To Tweet

Muitos de nós desejam ter uma causa para a qual possam dedicar sua vida. Nós assistimos a filmes inspiradores de herois do passado, como William Wilberforce, que rendeu sua vida para dar fim ao comércio de escravos na sua época. E nós desejamos fazer parte de uma aventura tão nobre.

Mas poucos de nós percebem a oportunidade que temos bem à nossa frente. Nós não vivemos em uma época de paz e harmonia. Vivemos em uma era onde vidas inocentes então sendo massacradas em massa, e uma geração inteira de jovens mulheres está sendo destruída por causa do engano.

Como mulheres cristãs, nós devemos ter o mesmo coração que Deus tem pelos não-nascidos. Muitas de nós escolhem se afastar do assunto “aborto” porque nos parece muito político, muito emocional, e muito confuso. Nós não temos certeza sobre o que fazer a respeito. Nós não sentimos que podemos, de fato, fazer a diferença.

E então, com frequência, não fazemos nada. Chacoalhamos nossas cabeças pela tristeza da situação, mas falhamos em cumprir o chamado sagrado de Deus para abrir nossas bocas pelos que são vulneráveis e defender aquelas vidas que estão sendo colocadas no caminho de mortes trágicas.

Eu gostaria de te desafiar a se erguer – a fazer a escolha crucial e deliberada de se posicionar pela vida. A se tornar as mãos e pés de Cristo aos fracos e vulneráveis que não têm vozes próprias nem alguém para lutar por eles.

Você e eu fomos escolhidas para viver em tempos como esse. E não importa o quão impotente você se sinta, lembre-se que o Deus do universo se posiciona pela vida. Ele é o Autor da vida. Quando nós nos posicionamos pela vida, nos posicionamos ao lado de nosso Rei. E a força dos Céus nos cobre quando carregamos os fardos do coração de Deus e lutamos as lutas de Deus.

Aqui estão algumas maneiras de começar:

Promova a vida

Se você é próxima de alguém que está considerando o aborto [e você se surpreenderia em saber quantas estão, até mesmo aqui no Brasil onde o aborto é ilegal – o que é pior, pois elas recorrerão a métodos ilegais e perigosíssimos], se coloque de joelhos e lute a favor dessa preciosa vida não-nascida. Com amor exorte sua amiga a escolher a vida. Se ofereça a ir com ela ao centro local para gravidezes em crise [ou outro centro local de ajuda à mulher]. Seja sua defensora. E defenda a vida dentro dela. Sua influência e oração podem significar a diferença entre a vida e a morte.

Lembre-se, a cultura que em vivemos é enganosa e astuta. Organizações pró-escolha, como o Planned Parenthood [nos EUA], não são os conselheiros sábios e carinhosos que dizem ser. Eles não têm o interesse da mulher em mente. E com certeza eles não têm o interesse de Deus em mente. Eles não estão ali para prover conselhos sábios e entendimento claro das opções; eles existem apenas para pegar o dinheiro de uma mulher e arruinar sua vida.

Então não olhe para essa luta como se fosse algo pequeno. Esteja disposta a se sentir desconfortável, pergunte perguntas difíceis, e lute em oração em favor daqueles que estão no caminho da morte.

Abra seus olhos

Permita que Deus te dê o mesmo coração que Ele tem pelos não-nascidos e as vidas em perigo. Um ótimo lugar para começar é fazendo o download do sermão que meu marido pregou, chamado “The Auschwitz Within” (O Auschwitz perto de nós, tradução livre minha), como também o curto vídeo que ele fez, “Depraved Indifference” (Indiferença Depravada, tradução livre minha), que foi retirado de uma mensagem que ele pregou em um banquete pró-vida. E também recomendo o poderoso vídeo “Choice” (Escolha, tradução livre minha), produzido pelo ministério Living Waters. Outro filme que expõe os objetivos reais da indústria do aborto é o “Blood Money: The Business of Abortion” (Dinheiro de Sangue: A Empresa do Aborto, tradução livre minha), que você pode comprar no amazon.com.

[Em contexto brasileiro, recomendo o vídeo “O que a Bíblia diz sobre o aborto?”, do Augustus Nicodemus, e também a busca pelo termo “aborto” no site Voltemos ao Evangelho.]

(…)

E o mais importante: estude o que a Bíblia tem a dizer sobre o valor da vida e a importância de proteger a causa do fraco e vulnerável. Peça a Deus para aumentar sua paixão pelas cargas que Ele mesmo carrega.

Ore

Não subestime o poder da oração. Eu conheço muitos cristãos que regularmente vão a áreas onde clínicas de aborto estão, não para gritar ou fazer drama, mas simplesmente para orar e se posicionar contra esse horrível mal através de oração persistente. Eu recentemente ouvi o incrível testemunho de uma mulher que comandou diversas clínicas abortivas por anos. Através de uma série de circunstâncias divinas ela teve convencimento de seu pecado, entregou sua vida a Jesus e mudou sua vida completamente. Ela agora luta a favor dos não-nascidos e expõe os objetivos vis da indústria abortiva. Histórias como essa nos lembram que as orações fiéis dos santos podem gerar grandes vitórias – uma vida de cada vez.

(…)

Posicione-se

Considere um voluntariado no centro local de apoio à mulher de sua cidade, ou o ajudando financeiramente. Enquanto clínicas de aborto são lucrativas e bem mantidas, organizações que promovem alternativas ao aborto e aconselhamento gratuito a favor da vida estão frequentemente em necessidade desesperada de apoio financeiro.

Outra forma de se envolver de maneira prática nessa batalha é alcançando e criando relacionamentos com as mães solteiras em sua comunidade. Você pode também oferecer ajuda prática e espiritual às famílias que escolheram se posicionar a favor da vida através da adoção.

Outra opção é se tornar uma mentora de adolescentes e moças em sua igreja ou comunidade. Fale com elas sobre os assuntos da vida. Pergunte a elas sobre como estão lidando com sua sexualidade. Aponte-as à verdade. Seja alguém com quem elas possam contar em momentos de crise.

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Essas ideias são apenas o ponto de partida. Se você se fizer disponível para ser uma voz aos sem voz, Deus te guiará nas maneiras específicas que você pode agir. Ele se importa com essas vidas preciosas mais do que nós jamais poderíamos. E Seus olhos estão sobre toda a Terra, buscando aqueles que se importam como Ele se importa. Você está disposta a carregar esse fardo?

Mais links pró-vida (em inglês):
heartbeatinternational.org
care-net.org
heartlink.org
optionline.org
birthmothers.org

Leia o artigo original: http://setapartgirl.com/magazine/article/05-25-17/crucial-choice