Entrevista com autora Carolyn McCulley

Se você é uma mulher cristã brasileira em meios reformados, você percebeu como o número de eventos, palestras, vídeos e postagens sobre o movimento feminista cresceram nos nossos círculos nos últimos dois anos. Esse crescimento veio em parte de forma orgânica, como resposta ao feminismo que cada vez mais se espalha, até mesmo dentro das igrejas. Mas em parte, esse introduzir fortemente do tema veio como reflexo da publicação do livro “Feminilidade Radical“, de Carolyn McCulley, traduzido pela Editora Fiel, em 2016.

Recentemente a mesma editora publicou outra obra co-escrita pela mesma autora, chamada “Mulher, Cristã e Bem-sucedida“, e confesso que já estou animada em ver as conversas que surgirão no tema da produtividade feminina.

Carolyn McCulley visitará o Brasil muito em breve, em Agosto, para palestrar na Conferência de Mulheres da Fiel, com o tema “Renovadas”, e nos deu a honra de conversar brevemente com ela via e-mail. Trazemos hoje essa entrevista onde falamos sobre feminismo, produtividade feminina e papéis da mulher em cada fase da vida. Desejamos que abençoe!


Graça em Flor: Carolyn, muito obrigada por tirar um tempo para conversar conosco aqui do Graça em Flor! É um prazer para nós termos essa conversa. As mulheres do Brasil te conhecem através de suas obras “Feminilidade Radical” e “Mulher, Cristã e Bem-Sucedida”, que foram traduzidas ao português. Desde que o primeiro livro foi traduzido, em 2016, eu tenho visto uma onda de conferências e eventos com temas de Feminismo e Cristianismo aparecendo no país, o que é muito animador! Você está vindo ao Brasil em breve, em Agosto, para palestrar na Conferência de Mulheres da Fiel! Essa será sua primeira vez no país? Quais suas expectativas? 

Carolyn McCulley: Sim, será minha primeira visita ao Brasil! Eu já estive em muitas outras nações da América do Sul, mas nunca ao Brasil. Eu estou animada para minha visita e espero aprender muito enquanto estiver por lá.

GF: No seu livro “Feminilidade Radical” você nos trouxe uma perspectiva cristã do Feminismo. Eu fiquei muito feliz em ver que você foi capaz de fazer isso com muita graça. Tendo sido uma feminista antes de se tornar uma cristã, eu acredito que você tenha um melhor entendimento de onde essas ideias vêm. Infelizmente, entretanto, nós vemos que muitas dessas discussões entre cristãos e feministas tendem a terminar em um debate acirrado. Como os cristãos podem abordar esse tipo de debate de uma maneira que seja benéfica?

CM: Eu acho que o que é mais importante para os cristãos entenderem é que as pessoas que pensam diferente de nós não são nossos inimigos. Efésios 6:12 deixa muito claro que a verdadeira oposição é espiritual. Existem pessoas que creem nessa ideologia porque testemunharam o abuso real e o sexismo real que as mulheres frequentemente sofrem. As soluções que eles apresentam são diferentes daquilo que as Escrituras apresentam, e por isso eu quis escrever esse livro.

Tendo dito isso, dez anos depois [da publicação do livro original], há coisas que eu revisaria nesse livro – não em questões essenciais, mas na ênfase ou nas ilustrações. Eu fico feliz de ter incluído um apêndice sobre abuso na edição original, mas à luz do movimento #MeToo* [“Eu também”] nos Estados Unidos, eu agora incluiria muito mais material sobre abuso e como responder a ele e preveni-lo. Eu também escreveria mais sobre o que significa ser uma Abigail pós-moderna que é proativa em sua resposta ao pecado. Tudo sobre ser uma mulher que segue a Cristo requer grande força de caráter e eu não quero que ninguém entenda isso mal.

Mas, voltando ao problema do feminismo, eu percebo que é um termo muito amplo e um movimento global, que tem tantas vertentes que quando alguém me pergunta minha posição eu gosto de tomar tempo para entender qual a definição de quem está perguntando. Eu falei com muitas mulheres jovens que defendem feminismo como simplesmente a igualdade entre homens e mulheres. E se essa é a sua única definição para feminismo, então sim, nós concordamos! E a Bíblia também concorda. A Bíblia deixa muito claro que o homem e a mulher são igualmente feitos à imagem de Deus. Igualmente precisamos de um Salvador. E quando nós nos arrependemos e confiamos em Jesus e em seu dom da salvação, nós somos co-herdeiros em Cristo.

O que eu aprendo frequentemente, entretanto, sobre aqueles que estão fazendo essas perguntas, é que eles veem a Igreja tratando as mulheres como “cidadãs de segunda-classe” ao limitar sua liberdade e contribuições. Infelizmente, esse é um problema real. Jesus encontrou a mesma atitude em Seus dias e Ele desafiou aquelas limitações culturais sobre as mulheres ao se relacionar com elas diretamente – revelando a elas sua identidade, as elogiando por sua fé, acatando seus pedidos, e dando a elas poder com o Seu Espírito para avançar o Reino. Então é importante que quando nós quisermos falar sobre essas questões do feminismo que saibamos como Jesus interagiu com mulheres – porque é o modelo dEle que queremos imitar.

É importante que quando nós quisermos falar sobre essas questões do feminismo que saibamos como Jesus interagiu com mulheres – porque é o modelo dEle que queremos imitar. - Carolyn McCulley Click To Tweet

Finalmente, como discípulos de Jesus, nós deveríamos ser capazes de ver nas Escrituras que ninguém nunca foi convencido por um debate acirrado. Eu acho que o mandamento de amar uns aos outros de João 13:35 é o melhor caminho a seguir.

GF: No livro “Mulher, Cristã e Bem-Sucedida”, que você escreveu juntamente com Nora Shank, você traz um tópico muito importante para discussão – a conexão entre produtividade e feminilidade. Eu penso que esse é um assunto que não ganha muita atenção nos grupos de mulheres cristãs, infelizmente. Você concorda? Se sim, por que acha que mulheres, em geral, tendem a pensar menos sobre o tema da produtividade?

CM: Bom, eu levei a escrita de um livro inteiro para responder a essa questão! Mas, para resumir, a Revolução Industrial mudou como o mundo vivencia a produtividade e a maternidade. Eu creio que nossos antepassados bíblicos assumiram [falaram sobre] a produtividade de todos. Eles não entenderiam a questão da mulher poder ou não trabalhar, porque o trabalho da mulher na produção de comida e produtos têxteis pelo mundo todo eram muito importante para a sobrevivência humana. Não era uma questão de “isso ou aquilo” em épocas passadas. Mas por causa da deslocação da maternidade e da produtividade que a Revolução Industrial introduziu – e todas as ideias criadas a partir disso sobre o trabalho da mulher – eu penso que é muito importante que entendamos o quão vastamente diferente nossa experiência de produtividade é agora. É por isso que a primeira parte de nosso livro foca na história do trabalho feminino. Mas é preciso entender que o faz sobre uma perspectiva norte-americana, então eu sou grata que as leitoras brasileiras estão tendo paciência com essa parte!

GF: Em “Mulher, Cristã e Bem-Sucedida” você e Nora constroem a ideia de que o propósito final do trabalho é glorificar a Deus; e para as mulheres, isso se reflete no chamado, desde o Jardim do Éden, para sermos auxiliadoras. Você acredita que ser uma auxiliadora é uma parte da essência do ser mulher, ou algo que somos chamados a fazer como cristãos, independente do gênero? Como podemos ser auxiliadoras de uma forma especificamente feminina, especialmente quando somos solteiras e fora do contexto do casamento?

CM: Deus também é chamado pelo mesmo termo hebraico para “auxiliador” e eu acho que isso é muito importante de dizer porque as mulheres não são chamadas a serem auxiliadoras porque somos de alguma forma subordinadas, mas porque a experiência humana precisa de auxílio. Adão não sabia que ele precisava de auxílio – Deus sabia, e criou Eva para ele. Mas por todo o Velho Testamento, o mesmo termo é usado para Deus. Então quando nós intercedemos por alguém em oração, quando auxiliamos de alguma forma, quando nos posicionamos contra a injustiça ou apontamos pecados, quando nós ajudamos alguém em momentos de dúvidas e dificuldades, nós estamos refletindo o auxílio que Deus nos dá. E isso pode e deve ser feito em todas as épocas da vida.

GF: No seu livro você fala do conceito de investimento para ajudar as leitoras a entenderem onde focar seu tempo, em cada etapa da vida. Para as mães, é fácil entender claramente onde seu foco e prioridade devem estar. Mas quando as mulheres são solteiras, ou casadas sem filhos, onde você acredita que o foco do investimento delas deve estar?

CM: 1 Pedro 4:10 diz que todos nós recebemos “dons da graça” que devem ser usados para o benefício de outros. Isso significa que nós não estamos no controle do que recebemos, mas somos chamados a sermos bons mordomos do tempo, talento, tesouro, capacidades e relacionamentos que recebemos. A vida de nenhuma mulher será como a de outra, então isso significa que eu não posso dar uma resposta só a essa pergunta. Mas eu tenho completa confiança de que o Espírito Santo que dá os dons é também muito bom em prover a direção sobre como usá-los. É por isso que é importante ouvirmos uma variedade de testemunhos e experiências em nossas igrejas, para que possamos ver que não existe uma só fôrma que funciona para todos na experiência de ser um bom mordomo!

GF: Finalmente, eu gostaria de perguntar acerca do seu trabalho na escrita. Você tem um trabalho de tempo integral como dona de uma produtora de vídeos, e ainda assim foi capaz de escrever e publicar três livros, até aqui, e também escrever artigos para várias mídias. Como você encontra tempo para cumprir seu chamado de escrita enquanto foca também em ser excelente em seu emprego?

CM: É uma tensão constante. Há épocas em que prazos me sobrecarregam e há épocas em que o Espírito Santo me pede para ser mais disponível para ajudar outros e servir em minha igreja local. Depois de escrever “Mulher, Cristã e Bem-sucedida”, eu também experimentei alguns desafios profissionais em minha empresa. Foi difícil por um tempo – e eu deveria ter esperado receber esse tipo de oposição depois de escrever sobre sucesso! Mas isso me ensinou algumas lições valiosas. Erros quando combinados com fé podem ser um presente valioso e eu espero poder falar mais sobre isso durante a Conferência.

 

Compre os livros de Carolyn:
“Feminilidade Radical” – www.editorafiel.com.br/vida-crista/656-feminilidade-radical.html
“Mulher, Cristã e Bem-sucedida” – www.editorafiel.com.br/vida-crista/728-mulher-crista-e-bem-sucedida.html

Se inscreva na Conferência em que Carolyn palestrará em Agosto: ministeriofiel.com.br/mulheres/2018/inscricao/

 

*Entenda o movimento #MeToo: cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2018/01/19/metoo-e-times-up-entenda-as-iniciativas-da-hollywood-contra-o-assedio.htm