Casamento: Submissão feminina e autoridade masculina
“This Is Us” é incrivelmente cativante. Já viu? A série de drama entrelaça vidas com dores, desafios e alegrias reais presentes em qualquer família. Prepare os lencinhos!
Na terceira temporada, há um episódio marcante que revela a infância e juventude de Rebecca, personagem central. Sua mãe exigia perfeição para receber o pai ao final do dia: casa impecável, esposa e filha impecáveis e comida fresca. Rebecca expressa seu desprezo por essa educação voltada, praticamente, apenas para saber como tratar homens e cozinhar para eles. Tal desgosto está presente na visão de algumas mulheres que realmente consideram o casamento como um eterno lavar de louças e cozinhar para homens.
A diferença de gênero é um tema constante em casamentos. Quando adicionamos “submissão” e “autoridade”, a conversa se torna ainda mais desafiadora e pode abrir feridas ou promover cura.
Mesmo que esse tema seja difícil de aceitar, a encorajo a continuar lendo para entender verdades eternas sobre submissão e autoridade no casamento cristão. Começando pela primeira: o casamento vai além de nós.
Submissão
Inicialmente, a definição do termo “submissão” pode provocar desconforto. Nos dicionários, a palavra frequentemente evoca a ideia de obediência absoluta, servidão incondicional, um ato de permitir-se ser dominado. É possível que, tendo essa definição em mente, ao ler o texto de Efésios 5, você tenha se perguntado: Será que é a isso que Paulo se refere em relação às mulheres? Vejamos o texto:
O termo “submissão” significa estar sujeito a alguém ou se submeter à liderança de outra pessoa. No original grego, esse termo traz uma noção militar e carrega a ideia de estar sob a autoridade de alguém, assim como um soldado está sob a autoridade de um capitão em seu exército. E, nessa passagem, não há como negar: Paulo comanda que as esposas estejam submissas aos seus maridos, ou seja, que estejam sob a autoridade dos maridos.
Alguns dos ensinamentos mais nítidos da Bíblia sobre o casamento aparecem na carta de Paulo destinada a Éfeso. Efésios revela a beleza e a união entre Cristo e Sua igreja e, neste capítulo, Paulo convoca a igreja a viver como testemunho de Cristo, estendendo esse chamado também aos casamentos.
Mas observe que quando Paulo fala com as mulheres e os homens sobre o casamento, ele comenta que “Grande é este mistério, mas me refiro a Cristo e à Igreja” (Ef. 5:32). Essa é a motivação por trás da fala de Paulo, que não possui nenhum traço de arbitrariedade.
Infelizmente, vivemos em uma sociedade que frequentemente enfatiza que o casamento se destina apenas à felicidade e à satisfação pessoal. Inclusive, conseguimos notar essa falha logo nos votos que não trazem promessas de amor futuro, mas apenas relembram momentos de amor no passado e celebram o sentimento do presente. O que sinto agora é mais importante. Eu estou feliz agora. E o futuro? Ah, o futuro quem sabe?
Bem, Paulo apresenta uma perspectiva diferente. Nesse texto, vemos que o casamento não gira em torno de nós, mas é, na verdade, muito maior que nós. Nossos casamentos imperfeitos podem não ser eternos, mas eles refletem algo que é eterno: Cristo e a igreja. Esse é o grande foco da passagem.
Esse reflexo fica ainda mais claro quando olhamos para os versículos 31 e 32, que dialogam diretamente com Gênesis. O primeiro livro da Bíblia ainda não apresenta a ideia de que o casamento é uma imitação, uma sombra de algo maior. Mas, em Efésios, vemos o significado da união entre homem e mulher para a representação de Cristo e Sua Noiva.
Mantendo essa perspectiva em mente, podemos compreender a dinâmica de autoridade e submissão que Paulo enfatiza: os maridos têm autoridade como cabeças, porque isso reflete a relação de Cristo com a igreja, enquanto as esposas demonstram submissão, a qual reflete o papel da Igreja. Isso não é belo?
Retomando o tópico da submissão, que tem sido alvo de críticas de várias pessoas que argumentam que isso equivale a abuso, ou seja, forçar a mulher a se submeter, Paulo deixa claro que o comando se destina a cada mulher individualmente. Ele se dirige diretamente a elas, orientando-as a se submeterem aos seus maridos por escolha própria, de forma consciente e voluntária. Em nenhum momento encontramos Paulo ordenando que os maridos forcem suas esposas a se submeterem.
Ao redigir esse chamado, o apóstolo não está declarando que as mulheres são incapazes de tomar decisões em relação às suas vidas. As mulheres têm a responsabilidade da submissão, reconhecendo que são capazes de obedecer a Deus por escolha própria, por meio do auxílio do Espírito Santo.
Que fique claro, irmã, que as mulheres foram chamadas a se submeterem aos seus maridos não porque eles são mais fortes, inteligentes ou capazes. Essa é uma distorção, infelizmente, muito propagada e que nos afasta do real significado de submissão. As dinâmicas do casamento não foram instituídas por Deus considerando que a mulher seja inferior ao homem. Não é isso que vemos na Criação. Após ter criado a mulher com um propósito específico, Ele afirma que “era muito bom”.
Redimindo os Papéis
Em 1 Coríntios 11:11, Paulo enfatiza que o marido não exerce domínio sobre a esposa, tampouco dita os termos de sua submissão, e a esposa não controla o amor sacrificial do marido. Isso ressalta que é uma relação de mútua dependência e responsabilidade um com o outro, perante Deus, para o cumprimento de seus respectivos papéis dentro do casamento.
É evidente que, após a queda no pecado, observamos uma distorção desses papéis. O homem pode se tornar autoritário, abusar de sua autoridade ou até negligenciar suas responsabilidades, enquanto a mulher pode se submeter excessivamente ou se rebelar, ignorando suas capacidades ou ocupando um lugar que não lhe corresponde. Nesse contexto, a carta aos Efésios apresenta a redenção desses papéis, restaurando a ordem estabelecida por Deus: uma autoridade exercida com amor sacrificial e uma submissão inteligente.
Amor sacrificial
Outro ponto de desconforto bastante provável é afirmar que o homem é o cabeça.
A palavra “cabeça” pode ter um significado literal, referindo-se à parte superior do corpo, ou a uma pessoa com autoridade. Também pode ser usada como uma metáfora, como a fonte ou origem de um rio. No contexto grego, era empregada para descrever líderes sociais e políticos. A cabeça era vista como a fonte de vida do corpo e, como tal, necessitava de proteção a todo custo.
Os leitores da época, tendo essa perspectiva em mente, ao lerem o que Paulo afirmava, poderiam interpretar que ser a “cabeça” do casamento para o marido significava ser servido, protegido, amado e reverenciado por sua esposa, como um corpo faz com sua cabeça, e isso incluiria líderes da época, como César. No entanto, não é essa a instrução que Paulo diz: “pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador” (Ef. 5:23). O marido é como Cristo, e Cristo, o cabeça, não veio para ser servido, mas para servir e amar.
Imediatamente após o chamado à submissão, encontramos o comando: “maridos, amem suas esposas como Cristo amou a igreja”. E como Cristo demonstrou esse amor? Não foi de forma egoísta e autoritária, mas sim de forma servil e amorosa.
Como Ele demonstrou esse amor? Ele amou a igreja até o ponto da morte, um amor sacrificado por completo. Eu gosto do termo empregado por Keller para definir o papel de autoridade e liderança segundo o exemplo de Cristo: “líder-servo”. Vemos isso, inclusive, no momento do lava-pés (João 13.1-17). Jesus se humilhou, sem abandonar Sua liderança sobre os discípulos, e lavou os pés deles, demonstrando de forma concreta que exercer autoridade e liderança significa ser servo, morrer para si mesmo e dedicar-se ao amor e cuidado pelo próximo. Ele nos ensinou como os líderes, os cabeças, devem exercer sua autoridade: por meio do serviço e do amor sacrificial.
O marido ama a esposa e dá a vida por ela, e a esposa é responsável por voluntariamente se submeter. É incrível como Paulo coloca os conceitos sobre casamento de cabeça para baixo.
E é isso que fazemos hoje. Em nós e por meio de nós, Deus nos chama a refletir o Reino de Deus. Por meio de nossas vidas, centradas na verdade de que Jesus é o Senhor, e também por meio de nossos casamentos imperfeitos, mostramos ao reino egoísta e orgulhoso do mundo que o que quer ser servido, deve servir.
Existe beleza na submissão bíblica, desde que seja exercida com sabedoria e com o propósito de glorificar a Deus, e não para a glória dos homens.
Lavar louças, no final, não é tão ruim assim…
Comecei descrevendo o episódio sobre a infância e a adolescência de Rebeca, em “This Is Us”. Ela, ainda pequena, motivada pelas suas vivências, prometeu a si mesma que nunca lavaria louça para nenhum homem e Rebeca sustentou essa promessa até conhecer Jack.
O mesmo episódio mostra a jornada de Jack ao resgatar a sua mãe do ambiente violento em que cresceu, com seu pai abusivo e agressor. Ele a leva para a casa de uma parente, para um lugar seguro.
Na cena final, Rebeca encontra Jack nesse lugar. Há um diálogo importante entre eles, mas o foco está no momento em que Jack prontamente coloca a louça do jantar na pia, dobra as mangas e lava os pratos e talheres. Rebeca olha admirada e, sem hesitar, o ajuda secando e guardando os pratos.
A mulher que prometeu que nunca iria lavar louça para homem cumpriu a sua promessa: ela nunca lavou louça para homem, mas encontrou o homem com quem gostaria de lavar louças para o resto da sua vida.
Cara irmã, tenho aprendido que o Senhor nos convida a co-participar diariamente do que Ele está fazendo: restaurando todas as coisas. Isso acontece de forma graciosa em nós e através de nós, por meio da ação do Espírito Santo que nos capacita a fazer isso.
A restauração acontece em casamentos imperfeitos. Acontece nas conversas difíceis, no trabalho árduo, nas mudanças. Acontece na submissão em amor e na liderança sacrificial.
Ao nos submetermos a Deus e ao papel dado divinamente por Ele para nós, reconhecemos que o casamento é algo maior. Por meio de nossos casamentos, temos o privilégio e o presente diário de mostrar o amor perfeito de Cristo por sua igreja, sua noiva. Isso não é maravilhoso?
Fontes:
- Ela à imagem dele: a identidade feminina à luz do caráter de Deus, de Francine Veríssimo Walsh
- O que Deus diz sobre as mulheres: feminilidade x feminismo, de Kathleen Nielson
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