Auto-imagem, vida saudável e o Evangelho
Era o vigésimo sexto aniversário de Joana e seus pais estavam muito animados. “Compramos o presente perfeito!”, a mãe disse ao pai que, com um sorriso enorme de satisfação, concordou. O vestido verde musgo com detalhes em preto era sofisticado e clássico ao mesmo tempo, perfeito para o gosto de Joana. Eles embrulharam tudo em um papel cetim vermelho e levaram ao quarto dela na manhã do aniversário, enquanto cantavam “Parabéns pra você”.
Joana disse gostar muito, e de fato havia ficado feliz pelo presente, no momento. Mas, o tempo passou e Joana passou a odiar o vestido. Não o usava e o desprezava completamente. Muitos anos depois Joana encontrou seu vestido verde todo amassado e cheio de pó no fundo de uma gaveta. Ao invés de lembrar-se da alegria que seus pais sentiram em dar a ela um presente tão lindo, Joana o rasgou em dois pedaços e o jogou na lata do lixo, sem dó.
Céus, Joana! Você é no mínimo ingrata, não? E se pensarmos de forma honesta, Joana, você é cruel. Pegar algo que foi lhe dado como presente, algo que seus pais escolheram só pra você, com alegria e amor, e rasgar? Jogar no lixo? Desprezar completamente ao invés de cuidar e ter como precioso?
Joana…
Joana sou eu.
Joana é você.
Perdoem a introdução meio confusa, mas eu sinto que essa história nos ajuda a entender logo de cara a seriedade de algo que a maioria de nós trata como leviano: o pecado da negligência acerca de nossos corpos. E me permitam chamar isso de pecado, porque é como eu tenho visto essa situação em minha própria vida. Se aplicarmos a ilustração de Joana e entendermos que nossos corpos são presentes do Senhor e que quando comemos mal e escolhemos não nos exercitar nós estamos fazendo o que Joana fez, então é difícil argumentar que isso não seja errado e, penso eu, pecaminoso.
Eu entendo que esse seja um assunto delicado com o qual a maioria de nós, mulheres, tem ou teve alguma conexão em algum momento da vida. Todas nós lutamos com a dificuldade de aceitação de nós mesmas – seja em questão de personalidade ou tipo físico. É difícil, mesmo para nós que somos cristãs, aceitar o que vemos, especialmente aquilo que vemos no espelho. É dolorido olhar ao redor e se comparar com todas as outras mulheres de nossas vidas e perceber, na maioria das vezes, que estamos tão aquém daquilo que o resto do mundo prega como padrão.
Seja a falta de curvas ou sobra delas… Não importa, na verdade. Quer seja por nos sentirmos pequenas ou grandes demais, nós mulheres quase sempre nos sentimos mal em nossos próprios corpos.
E então afundamos na negligência.
Comemos mal, e usamos a comida como forma de conforto e escape. Ou comemos pouco demais até que nossos corpos sofram a falta dos nutrientes. Ou simplesmente odiamos a imagem que está na frente de nós no espelho, e não damos a menor importância com o cuidado de nossos corpos, que não parecem um presente, mas uma maldição.
Qualquer que seja o formato que esse pecado tome em sua vida a verdade é que a não-aceitação de nossos corpos nos leva a desprezar esse presente de Deus, e nos torna Joanas.
Recentemente eu aprendi três lições acerca da auto-aceitação e do estilo de vida saudável, que quero compartilhar com vocês.
1) Nós adoramos a Deus quando cuidamos do vaso que Ele nos deu.
Cuidar dos presentes que Deus nos dá é algo que traz glória ao nome dEle. Quando aceitamos nossos corpos e nos preocupamos em preservá-los bem, estamos adorando a Deus e dizendo obrigada pelo corpo que Ele nos deu, vaso da vida que Ele soprou em nós, vaso do Espírito.
2) É preciso ser contente com o formato do vaso que Ele nos deu.
Se cremos em um Deus Soberano que tudo controla sob Sua vontade, precisamos aceitar que Ele nos fez como somos – curvas ou não-curvas. Eu posso cuidar de meu corpo comendo bem e me exercitando, mas há certas coisas que nada muda – o tamanho dos meus seios, de meus quadris, minha altura, etc. Acredite, eu demorei muito pra chegar a um nível de aceitação mínima do formato do meu vaso. Quando tinha 13 anos fiz uma cirurgia plástica para corrigir minhas orelhas de abano. Ainda hoje luto para aceitar o tamanho do meu quadril. Mas, percebi que ao me matar de exercitar com o objetivo de mudar o formato daquilo que Deus me deu, estou sendo como Joana – ingrata e descontente. É a partir do momento que começo a aceitar o formato do meu corpo, que trabalhar para melhorá-lo em termos de saúde se torna muito mais fácil e prazeroso. A pressão sai, e a vontade de adorar a Deus com minha vida entra.
3) Nós servimos as pessoas ao nosso redor quando cuidamos de nossos vasos.
É muito claro em minha vida como eu me sinto terrivelmente cansada e desmotivada nos dias em que como mal e não me exercito. Nesses dias fico aborrecida, irritada e preguiçosa. Em contrapartida, nos dias em que me alimento bem e me exercito, me sinto muito mais motivada a servir as pessoas ao meu redor – seja com a escrita, com visitas, com ligações, no trabalho ou qualquer outro ato de serviço. Até mesmo meu relacionamento com minha família melhora! Estou mais preparada para servir meu marido e amá-lo melhor, cuidando dele, e tendo uma atitude positiva e amorosa, ao invés de mal-humorada.
Cuidar do meu corpo tem pouco a ver com ter uma aparência bonita, e muito a ver com ter uma vida ativa que me permite ser mais produtiva para o Reino, amando as pessoas bem.
Ser saudável tem pouco a ver com beleza, e muito a ver com uma vida ativa para servir melhor. Click To TweetMinha amiga, eu sei que você não quer ser Joana. Mas, pode ser que não consiga gostar daquilo que vê no espelho. Infelizmente é um triste ciclo: a não-aceitação nos leva ao não-cuidado que piora o que somos e nos afunda mais na não-aceitação. E quebrar esse ciclo é dolorido. Dolorido demais, porque exige que nós busquemos dentro de nossas almas aquelas feridas abertas que nos impedem de seguir em frente.
Mas, é preciso não mais ignorar todas as palavras negativas durante nossas vidas que nos levaram até o ponto de sermos Joanas. Não podemos fingir não ver todas as feridas, mas precisamos levá-las à Cruz e deixar todo o nosso fardo e nossa não-aceitação aos pés do Senhor, dizendo “Não posso mais, Jesus… Não tenho forças para carregar”.
É só nesse momento que podemos verdadeiramente sentir o fardo levantado. O Senhor pega nossas dores sobre Si e as leva – esse é o grande sentido da Cruz.
Qualquer que seja o motivo, a dor, a história que tem te levado ao pecado da negligência do cuidado ao seu corpo, eu quero te encorajar hoje a levar isso ao Senhor. A dizer, como eu preciso dizer todos os dias, Querido Jesus, Tu sabes que não me sinto bem em meu corpo. Sabes as coisas que já ouvi, as gozações e tudo o que tive que passar. Sabes que quando olho para mim e para outras meninas, não consigo evitar as comparações. Eu me sinto menos do que digna. Jesus Amado, cura essas feridas em mim. Levanta meu fardo e me mostra que eu não preciso ser rotulada por aquelas palavras proferidas contra mim. Me lembra que o único que pode me dizer quem sou é Aquele que fez de mim quem sou – Filha do Deus Altíssimo. Redimida. Perfeitamente criada. PERFEITAMENTE criada. Jesus, é tão difícil lembrar disso, mas o Senhor pode, eu creio, vir e me ajudar na minha dor. Eu peço em Teu nome, confiando e crendo em Teu eterno e inabalável amor por mim. Amém.
Querida amiga, esse é o primeiro texto falando sobre saúde e imagem corporal aqui no Graça. Eu creio que esse é um assunto que precisa ser tratado. E eu quero ser sensível o suficiente para tratar dele com cuidado, abrindo meu próprio coração a vocês para que se sintam à vontade para fazer o mesmo. Precisamos olhar para as feridas abertas e ser sinceras e vulneráveis, porque esse é o único caminho para a verdadeira cura.
Eu quero ouvir suas histórias enquanto conto as minhas. Se você sofreu ou ainda sofre com a não-aceitação de seu corpo, quero que saiba que não está sozinha.
Eu sofro com isso. Minhas amigas aqui dos EUA sofrem com isso. Minhas amigas do Brasil sofrem com isso. Suas amigas sofrem com isso. Aquela menina que você pensa ser a mais linda da igreja sofre com isso, pode ter certeza.
Todas nós temos algo que nos deixa infelizes com quem somos. Mas Jesus é o único que pode nos levar de onde estamos para um lugar de aceitação. O primeiro passo é o reconhecimento do problema.
Então vamos abrir a porta para as conversas sobre esse assunto (os comentários dos posts são pra isso!).
Amo vocês em Cristo,
9 Comments
Sofri a vida inteira com a dificuldade de aceitação do meu corpo, e com os comentários alheios, por estar acima do peso. E, mesmo depois de perder em torno de 20kg, o sofrimento não acabou. Descobri que emagrecer não era a solução para o meu problema com a auto-imagem. A mudança interna é que é importante, e muito mais difícil do que perder peso. Sigo nessa luta diária.
Ótimo texto!
Olá, Francine! Eu tenho acompanhado o seu trabalho desde o começo desse ano e tenho gostado muito! Que Deus continue te inspirando e falando ao seu coração Aquilo que Ele quer tratar em você e em nós, através dos seus textos e vídeos no youtube. =)
Eu sou estudante de Nutrição e por causa disso eu estou em contato todo o dia com essa questão da auto imagem, do cuidado com o corpo, e acabo refletindo bastante na relação dessas questões com o Evangelho.
Percebo que há uma dificuldade muito grande em nós em manter o equilíbrio entre cuidar bem do nosso organismo e idolatrá-lo. Ao mesmo tempo em que há pessoas negligentes com o próprio corpo, que se alimentam mal e não praticam atividades físicas, há também pessoas extremamente rigorosas nesse aspecto, que são viciadas em dietas, em exercícios, e vaidosas com o corpo. Infelizmente, esses extremos estão bastante presentes no meio cristão. Eu mesma acabo pendendo para um dos lados, às vezes relaxada demais e às vezes neurótica.
Portanto, acho muito pertinente sua meditação sobre essas questões. Aguardo os próximos textos sobre o assunto com muita ansiedade!
Fran, posso te enviar um email sobre isso? Esse texto tocou meu coração de uma forma tão grande! ❤️
Gosto de pensar que mais do que uma questão de estética e aceitação, é uma questão de saúde e compromisso consigo mesma, com Ele! Somos feitura dEle, criadas com um propósito ímpar na vida de cada uma de nós, e com triste seria descobrir no dia de amanhã as oportunidades perdidas de servi-lo por consequência da minha fraqueza, preguiça e falta de zelo com aquilo que Ele colocou em minhas mãos, seja na questão física, mental, habilidades e etc.
Tirar um tempo para meditar sobre estas questões e levá-las ao Pai sem dúvidas nos liberta e nos proporciona um novo olhar e novas atitudes sobre a forma como temos lidado com o cuidado do nosso corpo e saúde.
“A pressão sai, e a vontade de adorar a Deus com minha vida entra.”
Sim, Francine. Eu também sofro com isso. Sofri quando era muito magra e queria ter mais corpo e ainda sofro agora, que estou bem acima do meu peso ideal e saudável. A pressão do mundo para nos encaixar em padrões nos aterroriza e nos leva a extremos por um corpo “perfeito”.
Obrigada por compartilhar conosco esse texto e nos ajudar a enxergar o real foco de cuidar do corpo que Deus nos deu, pois a obsessão por um padrão corporal inalcançável só nos deixa frustradas e doentes.
Muito bom o texto, Francine!
Nem sempre encaramos desta forma, que estamos desagradando a Deus com a negligência do cuidado com o nosso corpo, que é santuário do Espírito Santo.
O texto me tocou muito, de como tenho negligenciado isso! Sei que preciso cuidar da minha alimentação, fazer uma reeducação alimentar e me exercitar, nem que seja somente uma caminhada todos os dias. Não pra ter o “corpo perfeito” que a mídia prega, mas pela qualidade de vida mesmo! E, mais do que nunca, glorificar a Deus desta forma! Deus tem me incomodado em relação a isso e ler seu texto aqui fez com que eu reflita ainda mais… Mas preciso agora partir pra ação! Que Deus me ajude! Que Deus nos ajude! E que Ele te abençoe e continue te usando para nos exortar e nós ajudar a crescer espiritualmente!
Olá minha amada amiga!
Como esse assunto é importante.
Já fui chamada de “gorda baleia” dos 4 aos 6 anos, depois de “bicicleta, magrela” até os 15. Depois disso, me chamavam de “dálmata” por causa da minha pintinha no pescoço, rs. A verdade é que já fui muito ferida quanto a minha aparência.
Por muito tempo vivi para “consertar” minha aparência, fazia exercícios para parecer alguém melhor. E até tentei procedimentos para tirar minha pintinha. Após conhecer a Jesus entendi que devo me exercitar para ser alguém melhor e servi-lo assim, com todas as minhas forças. Aprendi também que, como você escreveu, Ele nos fez como Ele quis. E esse é o melhor pra nós, Sua vontade expressada em nossa vida.
Acredito que, se em nossos corações estiver a convicção de que não somos “nossas”, mas de Cristo, todas nossas motivações mudam, inclusive o ato de comer e beber (1 Co 6:19; 1 Co 10:31). Devemos a cada dia trazer a memória de quem somos e por quem vivemos. Pois a vida aqui nesse mundo nos leva, involuntariamente, a esquecer tantas convicções bíblicas. Que possamos entregar os fardos da aceitação terrena e viver quer em espírito ou em corpo para glória dEle.
Que o Senhor siga te abençoando e lhe dando graça para tratar de assuntos que trazem cura.
Com amor,
Carol
Oi Francine
Na realidade eu não detesto somente o meu corpo, eu me detesto.
Sinto como se todas as verdades que eu coloquei minha identidade se esvaíssem como poeira que o vento leva.
Não sei o que é uma autoimagem positiva, na maior parte do tempo eu só quero me esconder e não quero ninguém me veja.
Can you be more specific about the content of your article? After reading it, I still have some doubts. Hope you can help me.