Atuação por Trás das Cortinas (Sobre a Mulher e o Serviço na Igreja)  

O sinal é dado para que os presentes se dirijam aos seus assentos. As luzes baixam. A cortina se abre. A peça tem início, meio e fim. Atores no centro do palco são ovacionados pela plateia de pé e, no dia seguinte, só se ouve falar de como os atores foram incríveis. 

Você e eu bem sabemos que o sucesso de uma boa apresentação não se deve exclusivamente àqueles que aparecem diante do público. São meses de ensaio, com diretores, técnicos, coreógrafos, o assistente que traz a água e o lanche, a senhora que chega mais cedo e vai embora mais tarde para manter tudo limpo e organizado, sonoplasta, porteiro, equipe de manutenção, dentre tantos outros profissionais que contribuem um pouco para a construção daquela peça de sucesso.

Trazendo esse exemplos para o ambiente eclesiástico, é comum admirarmos uma irmã ou irmão que está à frente de algum grupo ou departamento, tendo assim  visibilidade. Realmente temos muitos crentes piedosos que desenvolvem seus dons de forma admirável. Mas hoje, quero te convidar a ver a beleza e a relevância que também há em servir por trás das cortinas.

Somos parte de um todo 

De início, é importante termos em mente a unidade orgânica da Igreja. Em algumas de suas cartas, e mais detalhadamente em 1 Coríntios 12, o apóstolo Paulo compara a igreja ao Corpo do qual Cristo é o Cabeça. Cada cristão recebeu do Senhor um dom para ser desenvolvido e empregado em prol do reino.

À semelhança do corpo humano que goza de saúde quando cada parte cumpre seu papel designado, também a igreja só alcança um bom funcionamento a partir da união de diferentes irmãos com seus dons particulares e complementares empregados de acordo com a soberana determinação divina. Tudo isso sob a liderança do Cabeça, Cristo, que une e conduz o Corpo conforme Lhe apraz. Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos” (1 Co 12.4-6).

Não existe um membro superior ao outros, todos estão no mesmo nível e são interdependentes. De nada adianta um belo par de olhos azuis se os pequenos vasos sanguíneos não levarem oxigênio e nutrientes necessários ao bom funcionamento da visão. O mesmo acontece no Corpo de Cristo. Muitas vezes apreciamos a beleza de um coral e não nos atentamos ao fato de que irmãos que não vemos no palco despenderam tempo treinando as vozes, fazendo divisões musicais, aperfeiçoando a melodia. Nessa linha o apóstolo Paulo continua: “pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários” (1 Co 12.22) e “Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (1 Co 12.24b, 25).

Independente de qual seja seu chamado, há um lugar para você servir na igreja. O trabalho que nem sempre é visto ou lembrado é tão necessário quanto aquele que tem mais exposição e maior reconhecimento pelos outros. Se você alguma vez pensar em desanimar ou menosprezar seu dom, ou fazer isso com alguém, lembre-se de que um corpo humano verdadeiramente saudável depende do bom funcionamento dos processos internos  que envolve partes pequenas e invisíveis a olho nu.

Cada um tem seu papel 

Como a igreja possui diversos departamentos e frentes de atuação, e é composta por indivíduos em vários estágios da vida, é natural que as oportunidades para servir também se deem em posições que não possuem destaque, mas são extremamente essenciais.

Para além das atividades comumente lembradas – como cuidar das crianças durante os serviços da igreja, limpar as dependências do templo, decorar e planejar eventos – gostaria de convidá-la, querida irmã, a olhar para outras oportunidades.

As mulheres costumam ter uma sensibilidade e um olhar mais aguçado para detalhes. Comece a reparar nas necessidades das pessoas, principalmente das irmãs ao seu redor. As Escrituras orientam que as mulheres mais experientes ensinem as mais novas. Talvez você pertença a um desses grupos e possa ser útil na vida das outras, seja se aproximando daquela mãe de primeira viagem; ou procurando conselhos sobre a futura vida matrimonial com alguma irmã casada; ou ainda, você, jovem, pode aconselhar as adolescentes.

Nesse tempo em que estamos mais distantes fisicamente, e mesmo depois que isso passar, lembre-se daquela pessoa que mora sozinha ou que não tem ido aos cultos, talvez  enviando um lanche ou mesmo fazendo uma visita, despendendo um tempo com ela.

Invista seus recursos, oferte para o trabalho missionário ou mesmo sirva com sua profissão e as habilidades que o Senhor te deu. Na Bíblia temos o exemplo das mulheres que contribuíram com seus próprios recursos para o sustento do ministério de Jesus (Lc 8.3). Encontramos também Dorcas, uma discípula que confeccionava roupas para as mulheres viúvas e “era notável pelas boas obras e esmolas que fazia” (At 9.36).

Existem várias formas de servirmos no Corpo de Cristo, e há espaço para todas. As atividades de apoio são complementares às de liderança. Por exemplo, o que seria da líder do grupo de mulheres se ela não tivesse uma irmã com quem compartilhar as questões que enfrenta, obter aconselhamento e apoio em oração? E o trabalho missionário sem aquelas que ficam na retaguarda intercedendo? A vida da mãe que trabalha fora, tem filhos pequenos e precisa preparar a aula da escola bíblica dominical seria mais árdua se não tivesse aquela irmã que envia um lanche para o café. Ah, minha irmã, são tantas as oportunidades que o Senhor nos dá de sermos úteis no meio de seu povo. Definitivamente, Ele nos chama para uma vida ativa, pois há muito trabalho a ser feito por trás das cortinas.

Mantendo o coração alinhado

Uma vez salvas e redimidas por Cristo, encontramo-nos no processo de santificação que perdurará até nosso último suspiro desse lado da eternidade. Enquanto estamos no caminho, nosso coração enganoso e desesperadamente corrupto (cf. Jr 17.9) ocasionalmente pode nos levar a sentimentos e atitudes que resultam em pecado.

Olhamos para o cargo ou a posição de um irmão na igreja e logo vem a comparação. O outro parece mais feliz, mais capacitado, mais abençoado e querido pelos demais. Seu trabalho parece mais importante, e chegamos a cogitar que é injusto para conosco que nos esforçamos tanto ou talvez não tenhamos tanto valor assim e o que nos resta é servir nos bastidores, ignorados e invisíveis.

Esses pensamentos podem desencadear em inveja e  ingratidão; desnudando o orgulho e o sentimento de inferioridade que se enraízam em nosso coração e se revelam como uma afronta à boa, perfeita e agradável vontade de Deus para seus filhos.

Diante de situações dessa natureza é importante parar tudo e realinhar o coração. Lembrar-se de que fomos criadas com um propósito bem específico e que quem nos criou não erra. Se o Senhor quisesse que você palestrasse numa conferência de mulheres, Ele o faria. Mas se Ele te quer atuando fora dos holofotes, então Ele te dará a capacidade para isso. Provérbios 16.4a diz que “Deus fez tudo com propósito”. Ele fez TODAS as coisas e pessoas para um fim determinado, e você e eu não somos a exceção. Tudo é milimétrica e eternamente arquitetado.

Cristo disse em Mateus 25 que quando servimos aos “pequeninos irmãos”, isto é, à igreja, a Ele mesmo o fazemos: “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me” (Mt 25.35,36). O Salvador não se esquece do abraço dado, do cobertor doado, da refeição oferecida, da oração pelo irmão feita no lugar secreto. Quem age dessa forma entrará no reino eterno que está preparado desde a fundação do mundo.

Certamente ficaríamos em êxtase se pudéssemos visitar Jesus pessoalmente e passar um tempo em sua casa, ou mesmo enviar-Lhe uma refeição. Ele diz que isso é possível se fizermos aos nossos irmãos. Não menospreze seu chamado e não o faça de qualquer jeito, querida irmã. Dê sempre o seu melhor, pois você está servindo ao Rei. Que santa oportunidade! “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo” (Cl 3.23, 24).

Toda glória ao Autor

O Senhor expressa sua grandeza e criatividade através da diversidade das coisas criadas: a pluralidade de cores, sons e texturas na natureza, a complexidade e engenhosidade do corpo humano; a variedade de dons e talentos no meio de seu povo. Tudo reflete quem Ele é: o Soberano que atua tanto no palco, quanto nos bastidores, conduzindo a história.

Não servimos para nós mesmas, seja na frente ou por trás das cortinas, todas nos submetemos ao Cabeça que é Cristo, que orienta e dirige os passos que devemos dar. Ele tem o destaque. O louvor e os aplausos são para o Autor da peça da qual fazemos parte. No fim, ou melhor, do início ao fim, é tudo dEle, por Ele e para Ele. Que privilégio o nosso!


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Agosto com o tema “A Mulher na Igreja”. Para ler todos os posts clique AQUI.